Não tenho culpa se os quatro países que compõem o Reino Unido resolveram se juntar (e depois não se separar). Tenho certeza de que Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales têm diferenças culturais que justificariam que eu lesse um livro de cada um, mas perante a ONU eles são um só, então aqui no #198livros eles também só tiveram direito a um voto, quer dizer, a um livro. Nem cheguei a pesquisar as milhões de opções de livros que eu teria, pois a Carla Portilho já estava encantada com uma escritora inglesa contemporânea, a Zadie Smith, e eu não pensei duas vezes. Ela havia lido White Teeth e adorado, mas achamos que um de seus livros mais recentes – NW – seria mais apropriado.
NW ganhou seu nome do código postal do local onde o enredo se passa: North-West London, ou o noroeste de Londres. Não sei bem como descrever esse livro, nem sei se posso chamá-lo de romance. Para mim ele se mostrou como uma espécie de mosaico, pedacinhos de história colocadas juntas e nem sempre conectadas. São três personagens principais: Leah, Natalie e Felix e em cada parte do livro temos a perspectiva de um deles, mas através de narradores em terceira pessoa. Praticamente todos os personagens são imigrantes ou filhos de imigrantes e há muita miscigenação racial. É esse o ambiente que Zadie Smith explora no livro, sendo ela mesma filha de uma jamaicana e de um inglês. Como Londres é conhecida pela diversidade étnica, achei que seria um tema bem pertinente.
A primeira parte do livro nos traz a visão de Leah, uma mulher de origem irlandesa que sente que todos cresceram ao seu redor enquanto ela permanece com a cabeça de uma adolescente. Ela é casada com Michel, de origem africana, e no trabalho ela é a única mulher branca. Seu marido quer muito ter filhos e Leah tem horror a essa ideia, mas não é capaz de dizer a verdade a ele. Sua relação com sua melhor amiga, Natalie, também é conturbada. Leah inveja seu sucesso profissional e a família feliz e estável que Natalie construiu. Resumindo, Leah é uma pessoa infeliz, complicada e invejosa.
A segunda parte é a que parece desconectada do restante do livro. Nela acompanhamos um dia da vida de Feliz, um personagem que não chegamos a conhecer muito bem. Seu ponto de contato com o restante da história é Nathan, uma antiga paixão de escola de Leah que se entregou às drogas e agora vive nas ruas.
A terceira parte é a versão de Natalie, que nasceu Keisha, mas mudou de nome como forma de alterar sua identidade. Natalie é filha de caribenhos, a primeira pessoa de sua família a se formar numa universidade, mas ela não para por aí. Natalie consegue se destacar profissionalmente, se casa com um homem também bem sucedido e tem dois filhos. Aparentemente sua vida é mesmo perfeita, como Leah acha que é. É através de sua perspectiva que a gente conhece o passado de Leah e Natalie desde que elas eram crianças. Nessa hora a gente descobre que as visões dos acontecimentos das duas são bem distintas. Leah vê Natalie como uma pessoa sortuda e esnobe, mas o que Natalie nos mostra é que Leah sempre foi a mais favorecida. Natalie, ou melhor, Keisha, precisou se esforçar muito mais, até porque a condição financeira das duas famílias era bem diferente. A gente descobre também que apesar das aparências Natalie é tão infeliz quanto Leah.
Bom, o resumo da história é esse, mas vou ser sincera e dizer que NW não me conquistou. No início achei tudo muito confuso, demorei a engrenar na leitura e depois não consegui me conectar com os personagens. Acho que o fato de eu ter lido em inglês também dificultou um pouco. Fiquei esperando para ver se a autora iria retratar a condição dos imigrantes na Inglaterra, mas achei que ela tratou tudo muito superficialmente. Foram mais de 400 páginas, mas no final não senti que o livro me acrescentou muita coisa, sabe? Quero dar uma outra chance à Zadie Smith, pois não é possível que ela seja considerada uma das maiores escritoras da atualidade à toa. Ainda vou descobrir se o problema sou eu.
NW foi publicado originalmente em inglês, em 2012, pela Editora Hamish Hamilton, e em 2014 no Brasil, pela Companhia das Letras.
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Eu também não gostei desse livro, gente! Uma pena! Eu peguei o Dentes Brancos no sebo.
No final vou dar uma nova chance ao Reino Unido. E aí aproveito para ler um livro de cada país! hehe
Com certeza vai encontrar alguma coisa bacana Camila!
Meninas, Li o White Teeth e achei bom. Não achei maravilhoso, mas a leitura até que fluiu :-)
Eu li algumas resenhas sobre o livro e vi gente falando que NW era bem diferente dos outros livros dela, que dessa vez ela tinha experimentado e não tinha acertado. Acho que escolhi errado!
Bom, sobre o NW não posso opinar, mas achei White Teeth sensacional – nenhuma novidade aqui, já que vocês me aguentaram falar dele o tempo todo enquanto estava lendo… Me encantou ver essa Inglaterra multicultural, tão mais próxima da Inglaterra contemporânea de verdade do que a imagem daquela Inglaterra tradicional que domina o imaginário popular… E a Zadie Smith é uma escritora de mão cheia – como domina a narrativa, como vira os personagens do avesso, expondo suas dores e pontos fracos e ainda conseguindo nos fazer rir no processo! Para mim, duas cenas já valem a leitura: o suicídio frustrado da cena inicial do romance e a cena em que Irie decide alisar o cabelo. São engraçadíssimas, de fato, mas carregam junto aquele riso do desconforto, do que não deu certo… A condição do imigrante aparece muito nas entrelinhas, na sensação de não pertencer, na necessidade de retornar (ainda que por meio de um filho) a uma pátria distante e muito idealizada.
Engraçado que, na época em que o Reino Unido saiu no sorteio, NW também me pareceu uma opção mais apropriada do que White Teeth. Lendo a resenha, penso que talvez White Teeth teria sido uma escolha melhor para vocês também – ou penso que talvez o meu gosto seja bem diferente do de vocês para alguns romances…
Carla, eu acho que o problema foi com o livro escolhido mesmo. Só depois de ler é que fui procurar resenhas mais detalhadas sobre NW e os comentários eram que ele destoava dos outros livros da autora. Bom, mas a gente só descobre essas coisas quando lê, né? Não dá para acertar em todas. ;-)
Camila, estava achando que o problema era comigo, não consigo engrenar, comecei há mais de um mês, já passei o de Zimbábue na frente dele, e ainda estou em 24%. Estou sentindo a mesma coisa que você, estava até pensando em insistir pelo que Carla falou da escritora, mas depois do teu post estou quase desistindo rsrsrs
Feliz por saber que não sou a única, mas triste por não termos escolhido o livro certo. rsrs