A princípio, os Países Bálticos pareciam apenas um adendo à viagem principal, inseridos ali por uma simples coincidência geográfica. Os destinos mais importantes de nossas férias sem dúvida eram Estocolmo e São Petersburgo, as duas maiores atrações na região do Mar Báltico, mas, como muitas vezes acontece nas viagens, tivemos uma grande e agradável surpresa. O que era para ser apenas um complemento no roteiro acabou sendo um dos pontos altos da viagem!
Eu não sabia quase nada sobre os Países Bálticos antes de começar o planejamento das férias. Até pouco tempo, eu mal saberia apontá-los em um mapa. Os nomes também não ajudam: Estônia, Letônia e Lituânia soam quase o mesmo aos nossos ouvidos distantes. Então comecei a pesquisar e fui ficando cada vez mais curiosa para conhecê-los. A história deles pode parecer um pouco confusa, mas vale a pena entender os caminhos que os trouxeram à atual situação. Pra quem, como eu, gosta de História, é um prato cheio!
A Estônia tem uma identificação cultural mais forte com a Finlândia, enquanto Letônia e Lituânia possuem mais semelhanças étnicas. Já em termos históricos, Estônia e Letônia têm mais coisas em comum, pois viveram durante muitos séculos sob a dominação de diferentes povos (até metade do século XVI estiveram sob domínio germânico, então substituído pelo domínio sueco). A Lituânia teve períodos menos difíceis durante a Idade Média e chegou a ser uma nação poderosa entre os séculos XIV e XVI, quando se uniu à Polônia para formar a Comunidade Polaco-Lituana. Mas o destino dos três países começou a se fundir no final do século XVIII, quando todos foram anexados ao Império Russo.
No século seguinte, os camponeses da Estônia e da Letônia e, posteriormente, da Lituânia, foram emancipados e ficaram livres da servidão a que estiveram submetidos por muitos séculos. Começou então um lento processo de fortalecimento da noção de nacionalidade. Aos poucos foram aparecendo festivais de músicas e publicações nas línguas locais, ou seja, eles começaram a expressar suas culturas, reprimidas durante muito tempo. Em meio a esse despertar, surgiu a Revolução Russa, que criou o momento propício para a eclosão do movimento nacionalista. Em 1918 Estônia, Letônia e Lituânia declararam independência.
O período de liberdade durou pouco. Os três países mal tiveram tempo de tentar organizar seus governos quando a Alemanha e a União Soviética assinaram, em 1939, o Pacto Molotov-Ribbentrop. Além de prever a não-agressão entre as duas nações, o tratado secretamente dividia toda a Europa Oriental entre elas. E mais uma vez os Países Bálticos caíram sob domínio russo.
O pacto não foi cumprido por muito tempo e em 1941 Hitler invadiu a União Soviética. No início os alemães foram recebidos com alegria, pois os habitantes do Báltico pensaram que eles seriam seus libertadores. Mas foi uma ilusão. Ali começou um dos períodos mais tristes para os povos da região. Praticamente toda a população judaica da Lituânia foi morta (um dos maiores índices dentre os países ocupados por Hitler). Foi também uma época controversa e delicada, já que muitos habitantes foram acusados de cooperação com os nazistas na perseguição aos judeus.
A ocupação nazista foi terrível, mas foi breve. Cerca de 4 anos depois o Exército Vermelho reconquistou a região. A nova era soviética foi mais cruel que as anteriores. Os habitantes sofreram muitas represálias sob a acusação de terem colaborado com os alemães. As terras dos pequenos produtores rurais foram confiscadas, a religião foi duramente reprimida e milhares de pessoas foram mortas ou deportadas para a Sibéria. Nesse período, muitos fugiram para o ocidente ou se refugiaram nas florestas. Ao mesmo tempo, a URSS incentivou a imigração de trabalhadores da Rússia e outras Repúblicas Soviéticas para a região, o que fez com que até hoje existam cidades em que estonianos, letões e lituanos são minorias dentro de seus próprios países.
A situação só começou a mudar durante o governo de Mikhail Gorbachev. Com a implantação da Glasnost e da Perestroika, os Países Bálticos se sentiram encorajados a alimentar seus ideais de independência. No aniversário de 50 anos do Pacto Molotov-Ribbentrop, em 23 de agosto de 1989, eles fizeram um lindo protesto: dois milhões de pessoas deram as mãos e formaram uma gigante Corrente Humana de mais de 600 km, ligando as três capitais: Tallinn, Riga e Vilnius. Emocionante!
Fonte das fotos: http://av.lrs.lt/StartPage.aspx?CatID=23
A Lituânia foi a primeira República Soviética a declarar sua independência, em 1990. No ano seguinte, Estônia e Letônia fizeram o mesmo. Em setembro de 1991 os três países foram, enfim, reconhecidos como membros da ONU.
A partir daí, os Países Bálticos começaram enfim a trilhar seus próprios caminhos. Foram as únicas ex-Repúblicas Soviéticas a adotarem regimes democráticos de governo. É claro que, junto com a liberdade, vieram os problemas trazidos pela nova abertura econômica. Eles sofreram com o consumo desenfreado do capitalismo, com a inflação, com o desemprego, com a especulação imobiliária… Mas conseguiram dar a volta por cima! Tanto que em 2004 entraram para a União Européia, voltando suas costas de vez à Rússia, com a qual ainda mantêm uma relação conturbada até hoje.
Entre 2000 e 2007, os três países tiveram os maiores índices de crescimento econômico da Europa e chegaram a ser chamados de Tigres do Báltico. No final da década passada, o furor inicial diminuiu e houve até mesmo recessão, mas eles parecem ter se recuperado mais uma vez. Em janeiro de 2011 a Estônia adotou o euro. Mesmo com a crise que a moeda enfrenta atualmente, para um país recém-independente essa foi uma grande vitória.
Quem continua lendo até aqui deve estar se perguntando: e precisava contar tudo isso? Precisava! Pois saber de todos esses fatos faz com que os Países Bálticos sejam ainda mais interessantes! Quem imaginaria que hoje eles seriam países modernos, que seus habitantes falariam inglês, que ofereceriam serviços eficientes e de qualidade? Assim que cruzamos a fronteira já percebemos as mudanças. As estradas esburacadas russas deram lugar a um país com cara de desenvolvimento. E os oito dias que passamos na região só confirmaram nossa impressão inicial.
Ainda mais impressionante para mim foi a simpatia da população local. Eu já esperava a típica rispidez russa, mas me surpreendi com a gentileza encontrada mesmo quando não procurávamos. E isso me fez ver que não é apenas a história de um povo que determina seu modo de agir, mas principalmente a forma com que ele lida com seu passado e resolve construir seu futuro.
Os Países Bálticos para mim foram um grande exemplo e inspiração. O que eles conseguiram construir em apenas 20 anos de independência é admirável. Agora fico ainda mais revoltada quando vejo teorias que tentam explicar a atual conjuntura sócio-econômica-cultural do Brasil através da nossa tipo colonização e da nossa independência “recente”.
Tudo isso para tentar explicar o porquê de eu ter ficado completamente fascinada! E depois de tanta conversa, no próximo post começo a mostrar o que consegui captar com os olhos, ou melhor, com a lente da câmera! Já adianto que nesse ponto os Países Bálticos também não deixaram nada a desejar!
Excelente relato histórico. Verdadeira aula que inspira conhecer esses países. Obrigada e parabéns!!!
Obrigada, Maria Teresa!
Os países Bálticos desenvolveram pois optaram por mais LIBERDADE ECONÔMICA, assim como os tigres Asiáticos.
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1798
Ótimo post, deu ainda mais vontade de conhecê-los.
Não entendo muito de economia, Alexandre, mas de qualquer forma super recomendo uma viagem à região!
Olá Camila! Passando para parabenizá-la pelo seu blog! Estava na dúvida de viajar para os Bálticos e me entusiasmei muito com o seus posts. Estou começando a pesquisar e seu blog é excelente.
Obrigada
Obrigada, Célia! E que bom que te animei! Eu realmente amei conhecer os Países Bálticos. Espero que a região também te encante!
Olá Camila,foi um prazer conhecer você! Esse pessoal do VnV sabe de tudo e você muito mais… Uma amiga e eu estamos planejando ir a São Petersburgo, que ela ainda não conhece e eu vou ter a oportunidade de rever e depois seguir para os países Bálticos! seu blog está sendo um presente para nós. Adorei a opção do ônibus! Continue contando suas histórias…Gosto também de arquitetura, visitar museus e contemplar belas paisagens e comer bem!!!
Obrigada.
Que bom saber que você irá para os Bálticos, Dalva! Minha viagem já tem alguns anos, mas continua sendo uma das mais legais que já fiz. E pelo retorno que recebo vejo que minhas dicas continuam atuais. Boa viagem! Depois volte aqui para me contar se esses países também te surpreenderam.
Camila!!! Tudo bem? Ameiii seu post!!!! Pretendo fazer uma viagem de 12 noites com minha amiga no final de maio, até 8 de junho +-. Pensei em Tallinn, Riga, Vilnius e São Petersburgo, mas estou com receio de viajar somente com ela. É perigoso para duas meninas a viagem por essas cidades? Os transportes de trem são seguros? Vou ler os outros posts, pois preciso pegar o máximo possível de dicas! Obrigada!! E parabéns pelo blog!
Carolina, entre essas cidades eu viajei de ônibus e achei seguro. Não vejo nenhum motivo para que vocês não façam essa viagem. É só tomar as precauções básicas que você tomaria em qualquer lugar do mundo.
Obrigada,Paulo! Tenho muita vontade de voltar a essa região. Foi uma viagem especial.
Parabéns pelo relato, muito bem elaborado. Conheci Riga e Tallinn em outubro de 2015. Tive a mesma percepção, descrita em seus relatos. Adorei Tallinn, de paixão. Deixei a cidade com gosto de quero mais. Riga foi fascinante, com mais cara de cidade cosmopolita, mas sem perder o jeito de cidade do interior.
Olá, Camila
Acabo de descobrir seu blog e estou encantadíssima. Parabéns!
Estou desenhando minha viagem para Rússia, Bálticos e Polônia no ano que
vem. Estou com uma dúvida, é possível conhecer bem as cidades e fazer
todos os passeios sem guia? Não gosto de viajar de pacote, mas nesses
países fico com receio de não aproveitar completamente as cidades sem um acompanhamento. Porém, os pacotes, praticamente, só reservam um dia em cada capital dos três países bálticos, achei insuficiente. Quantos dias você sugere em cada uma?
Janaína, eu não costumo contratar guias e não contratei nessa viagem também. Não vejo nenhum empecilho para conhecê-los por conta própria. Um dia inteiro é suficiente para conhecer as principais atrações das capitais dos países bálticos. Se você planeja fazer algum bate e volta, acrescente mais um dia. E não se esqueça dos deslocamentos entre elas, que sempre irão roubar a metade de um dia do seu roteiro. O ideal então seria você deixar um dia e meio para cada capital (o dia de chegada + um dia completo).
Farei isso. Muito obrigada, Camila. E mais uma vez, parabéns pelo blog. Abraços.
Oi Camila! Conheci seu blog hoje por causa de uma viagem que estou fazendo para Helsinki e vamos aproveitar para dar um pulo em Tallinn. Amei saber mais sobre os Países Bálticos e isso só aumentou a vontade que eu já estava de conhecer melhor a região! Certamente aproveitarei uma próxima oportunidade!
Parabéns pelo blog! Suas dicas são excelentes!
Obrigada, Samara! E cuidado! Minha viagem pelo báltico começou assim. Seria só uma esticadinha até Tallinn e quando eu vi já tinha colocado a Letônia e a Lituânia no roteiro… rsrs
Camila, infelizmente a vontade era muita, mas o tempo pouco! hehehehe
Pudemos conhecer bastante bem Helsinki, mas agora teremos que planejar uma nova viagem passando pelos 3 países bálticos e ficando um tempinho mais em Tallinn! Me apaixonei pela cidade! Mesmo com chuva!
Que bom que gostou! Tallinn é cenário de um conto de fadas, né?
Sim! É um lugar encantador mesmo! Caso você queira te aviso quando o post de Tallinn sair no blog, já que você gostou tanto da cidade, se quiser ver as fotos. ;)
Quero sim, Samara!
Tb quero! Tem como me avisar tb? rs
Bom dia Camila, estou programando uma viagem pelos paises Balticos, São Petersburgo e escandinavos. Gosto muito de Viajar de carro. Quais os trechos que vc indicaria em fazer de carro? Da pra sair de São Petersburgo de carro e atravessar a fronteira tranquilo?
Obrigado e parabéns pelo blog
Tarik, eu viajei de ônibus, então não sei como são os procedimentos para viajar de carro por lá. O que sei é que a estrada nos Países Bálticos era muito boa e eles fazem parte da União Européia, então não há imigração. A estrada na Rússia era pior e na fronteira com a Estônia foi preciso descer com toda a bagagem. Já para ir da Suécia à Finlândia, por exemplo, tem que ser de barco, a não ser que você planeje ir ao norte da região.
Camila, obrigado por dividir conosco toda essa historia. Estive nos paises balticos em junho desse ano com meu marido e um casal de amigos espanhois. Eu e meu marido ja tinhamos ido a Tallinn em 2009 e ficamos com gostinho de quero mais. Nesse ano alugamos um carro e percorremos lugares lindos desses 3 paises. Surpreendente!!!
Oi, Claudia! Eu também fiquei querendo mais! Adoraria fazer o mesmo que você e percorrer a região de carro, parando sempre que desse vontade. As capitais são lindas, mas fiquei morrendo de vontade de conhecer o interior dos países. Um dia eu volto!
Faço coro com todos: que ótimo relato histórico! Também não conhecia essa da corrente humana, que inveja dessa motivação deles…
Obrigada, Arthur!
Eu fiquei até emocionada com a história da corrente, da qual eu nunca tinha ouvido falar. Precisamos nos inspirar, né?
Camila, que post! Simplesmente amei, quanta informação passada de forma tão leve. Não conhecia a história dos países bálticos, que garra. Há muito tempo eu não engulo as nossas desculpas clássicas para a situação do nosso país; quando visitei o Canadá, por exemplo, fiquei impessionada com aqueles país de dimensões continentais e tantos problemas e ainda assim tantas conquistas sociais. Parabéns. Beijos.
Virginia, tem também essa desculpa do tamanho, né? Mas a verdade é que são todas desculpas esfarrapadas. Se estamos na situação atual não é por causa de nossa história ou pelo tamanho continental do Brasil, mas sim pelo que o povo brasileiro (nós, os políticos, os empresários) faz hoje. Será que a gente também consegue mudar essa história e ter um final feliz? ;-)
Beijos!
Camila,adorei o post!Os Países Bálticos já estão na listinha faz tempo,mas ainda não foi possível… essa história de resistência fez-me lembrar a Polónia…um país que sobreviveu a duas guerras mundiais,á ocupação nazi e depois comunista,renasceu das cinzas e é hoje,não muitos anos após o fim da ocupação soviética, um país evoluido e encantador!! !!Beijos
Margarida, sabe que eu adoro comparar a situação atual e o passado dos países? E vou longe… Fico pensando no Egito de hoje e no de milênios atrás, na Rússia, há um século tão poderosa, e nesses países, como a Polônia e os Bálticos, que sofreram tanto há tão pouco tempo e que deram a volta por cima! Esse mundo é mesmo um mistério encantador, né? :-)
Beijos!
Camila,
é claro que não sabia da história desses países e também é claro que não ia deixar de ler. Faz muito bem de ler sobre onde está indo, muito melhor para entender o que está conhecendo e até pra ter essas boas surpresas.
Essa corrente humana, nossa! Emocionante!
Confesso que os países bálticos nunca entraram na minha listinha, mas já que estão lá, né, quem sabe…
E parabéns pelo post de introdução.
Bjos
Provavelmente eu teria curtido os países mesmo sem saber nada disso, mas aí talvez ficassem na memória apenas mais algumas belas cidades da Europa, né?
claaaro que precisava ter contado tudo isso! até aqui não tinha pensado em visitar esses paises tão cedo, mas tenho certeza que mais uma vez você vai me fazer mudar de ideia.
otimo otimo post!
Que bom que gostou, Mirelle! Aposto que depois de ver o quanto Tallinn é linda você vai se decidir rapidinho! ;-)
Essa história da corrente humana é mesmo emocionante! Nunca tinha ouvido falar nisso! Adorei saber um pouco mais da história desses países e já estou lamentando que passarei ali tão perto e não ficarei para conhecer um pouco da região. Seu post realmente despertou o meu interesse, Camila!
Wanessa, se serve de consolo, eu estou até agora me lamentando por ter passado tão pouco tempo na região! Ontem, enquanto escrevia o post, já fiquei pensando que adoraria voltar para viajar pelo interior dos países. Difícil quando se tem pouco tempo para viajar e tantos lugares no mundo para conhecer! ;-)
Eu também nunca tinha ouvido falar sobre a corrente! Fiquei sabendo em um museu em Riga e depois pesquisei mais. Lindo, né?
Lindo mesmo!
Você tem razão sobre as formas diferentes com que as povos lidam com os grandes traumas nacionais. Eu saí encantada da Polônia, achei as pessoas em geral muito simpáticas e prestativas, e nem preciso falar o que o país já sofreu, porque essa parte da história é mais conhecida.
Continue fazendo esses posts cheios de história, você leva muito jeito.
A gente ouve falar da Segunda Guerra desde sempre, mas parece que só quando visitamos um país que sofreu muito com ela é que temos uma noção mais clara do que aconteceu, né? Eu voltei super impressionada e li vários livros sobre o assunto! E já comecei a pensar em outra viagem pra Europa incluindo Alemanha e Polônia!