Eu tinha reservado entre dois e três dias para cada uma das capitais do Báltico, mas uma alteração no nosso vôo de volta nos pegou de surpresa e roubou um dia de nossa estadia em Vilnius. Nos restou apenas um dia e meio na Lituânia, sendo que parte desse pouco tempo já estava reservado para um passeio fora da cidade. No trajeto entre o terminal de ônibus e o hotel, chegamos a pensar que na verdade teríamos tempo de sobra. As ruas, naquele sábado na hora do almoço, estavam completamente desertas! O que iríamos fazer em uma cidade fantasma?
Deixamos as mochilas no hotel e, famintos, saímos para procurar o Hesburger mais próximo. No caminho já começamos a descobrir que Vilnius não estava vazia como pensávamos. A Pilies gatvė, a mais charmosa rua de pedestres do centro histórico, cheia de restaurantes e lojas de artesanatos, já estava bem mais movimentada.
Mas foi só quando chegamos à Gedimino prospektas, a principal avenida da cidade, que desvendamos o mistério: era lá que todos estavam “se escondendo”! Ao longo de vários quarteirões vimos vários shows de música e danças folclóricas, barracas de comida e muita, muita gente! Famílias inteiras, casais, idosos, crianças, grupos de amigos… Todos estavam aproveitando o evento. A cidade estava em festa!
Andamos um pouco pela festa e fomos conhecer alguns pontos turísticos. Ainda na avenida Gediminas, escondido atrás da festa que rolava, encontramos um deles, o Teatro Nacional. O destaque fica para as Três Musas, enormes esculturas no topo do prédio representando o Drama, a Tragédia e a Comédia.
Um dos locais mais importantes de Vilnius é a Praça da Catedral (Katedros aikštė). Lá estão o Palácio Real (que só apareceu no cantinho da foto abaixo), uma estátua de Gediminas – o grão duque que fundou Vilnius em 1320 – e a Torre do Sino – uma das torres remanescentes da antiga muralha que cercava a cidade medieval.
Mas é claro que a principal atração da praça é a própria Catedral de Vilnius. A primeira igreja, de madeira, foi construída no local ainda em 1387 e destruída por um incêndio em 1419. Logo depois começou a construção da catedral que vemos hoje. É claro que pouco resta do prédio original. Construído em estilo Gótico, ele foi sendo reformado ao longo do tempo e perdeu suas feições originais. A última grande reforma foi concluída em 1801 e deixou a Catedral com a cara atual.
A Catedral pode até ser a igreja mais importante da cidade, mas com certeza não é a única. Nesse ponto Vilnius é como Ouro Preto ou Diamantina: basta virar o pescoço para se avistar uma torre. Elas lembram um pouco as “nossas” igrejas e não é à toa, já que Vilnius é famosa pelas construções barrocas. A mais antiga representante desse estilo arquitetônico é a Igreja de São Casimiro, construída pelos jesuítas no início do século XVII, mas há igrejas para todos os gostos.
Uma das minhas preferidas é o Mosteiro Basiliano da Santíssima Trindade, cujo acesso se dá pelo charmosíssimo Portal Basiliano. O complexo ficou abandonado durante muito tempo e apenas recentemente começou a ser restaurado, mas o que mais me encantou foi justamente seu aspecto envelhecido, carregado de história.
Para conhecer uma sucessão de igrejas, o melhor caminho é a Aušros Vartų gatvė, a rua mais antiga de Vilnius, que tem em uma de suas extremidades o Portão do Amanhecer, o único dos nove antigos portões de acesso à cidade que permanece de pé. Acima do portão fica a Capela da Virgem Maria, um local sagrado para os lituanos e destino de peregrinos em busca de milagres.
Mas a mais bonita de todas as igrejas, ou pelo menos a mais peculiar, com certeza é a Igreja de Santa Ana, em estilo gótico. Só que não ficamos muito à vontade por lá, pois logo na entrada havia uns pedintes deixando os visitantes um pouco constrangidos. O engraçado é que Vilnius tem a fama de ter muitos mendigos, mas nós os vimos apenas nessa igreja.
Para ter uma vista panorâmica de Vilnius, subimos o Morro Gediminas, local onde a cidade foi fundada. A torre original foi construída no século XIII, mas foi praticamente destruída durante a primeira ocupação russa na Lituânia, quatrocentos anos depois. Em 1930 ela foi restaurada e hoje abriga um museu.
A torre oferece também uma ótima vista de Vilnius, mas depois de 23 dias de viagem nós já estávamos um pouco cansados de visitar castelos e museus. Acontece, né? Aproveitamos a vista do alto do morro, que era mais do que suficiente. Lá de cima fica ainda mais visível a quantidade de igrejas espalhadas pela cidade.
É possível subir até a torre por um teleférico, que nós nem chegamos a ver. Na subida o atalho pode até valer a pena, mas pelo menos na volta é legal contornar o morro, pois o caminho também oferece uma vista legal de Vilnius, por um ângulo diferente, oposto à cidade antiga.
No final da tarde chegamos por acaso à Praça da Prefeitura (Rotušės aikštė). E foi só então que descobrimos o motivo de tanta euforia na cidade: a Lituânia estava sediando a EuroBasket 2011! Era por isso que Vilnius estava em festa! Na praça vários telões transmitiam os jogos e então as latas de lixo em forma de cesta de basquete que vimos pelas ruas começaram a fazer sentido.
Na manhã seguinte estávamos andando meio sem rumo quando chegamos a uma obra enorme, ao lado do circuito do centro histórico, porém deserto. As placas diziam que parte da antiga muralha de proteção da cidade estava sendo restaurada, assim como uma antiga fortaleza. De lá tínhamos mais uma ótima vista da cidade. Imagino que em breve Vilnius conte com mais essa atração turística.
Além de tudo o que já mostrei, ainda fomos ao Museu das Vítimas do Genocídio, ou Museu da KGB, um ótimo e triste complemento ao museu que visitamos em Riga. Tudo isso em uma tarde e uma manhã. Parece corrido, mas na verdade não foi. O centro histórico e turístico de Vilnius é compacto e as noites longas no verão também nos ajudaram a aproveitar bem o dia. É claro que eu não teria planejado uma estadia tão corrida, mas era o tempo que tínhamos e ficamos satisfeitos. Mesmo que no fim das contas Vilnius não tenha sido a cidade fantasma que esperávamos.
Para ler todos os posts sobre essa viagem, clique aqui.
Como foi a viagem de Riga para Vilnius,quanto tempo?O Onibus e bom?Obrigado
Rodrigo, a viagem dura cerca de 4 horas. Para mais detalhes, veja meu post sobre transporte nessa região: https://www.viaggiando.com.br/2012/03/lux-express.html
Ahh Lituânia…sou suspeita para falar, pois meu sangue é metade de lá, mas é um país rico em história e muito bonito! Sonho um dia em conhecer…Obrigada pelas fotos, vou mostra-las para minha mãe!
Luiza, para mim a viagem já foi super emocionante de para você será ainda mais! Quando tiver a chance de ir, vá! :)
Camila, em algum momento você se sentiu insegura em alguma das três cidades: Vilnius, Riga ou Tallin? Chegar a noite nestas cidades você considera perigoso?
Me desculpe ficou faltando um pedaço da mensagem, quero te parabenizar pelo blog e você escreve de uma maneira muito gostosa de ler!!!
Obrigada, Janine! Olha, eu e senti muito segura nos Países Bálticos. A única vez que tivemos algum medo foi em Trakai (conto sobre isso no fim deste post: https://www.viaggiando.com.br/2012/05/trakai.html), mas nada nos aconteceu. Não vejo nenhum problema em chegar à noite, basta que você planeje a forma de transporte. Você pode já contratar o transfer para o hotel, aí você chega despreocupada.
Não sei se você já viu, mas aqui estão todos os meus posts sobre os Países Bálticos: https://www.viaggiando.com.br/2012/05/paises-balticos-indice-de-posts.html
Nossa, o Chile, o tal país que vc mais desejava conhecer, provavelmente, em todo o mundo. Aposto que vem coisa boa por aí. Abraço
Bruno, já vi que você leu uns posts mais antigos por aqui! ;-)
Me deu a ideia de que Vilnius é um lugarejo bem pequeno. Pequena, compacta, cujo centro histórico se vê bem em apenas um dia, uma tarde, quiçá. E, confesso: não fiquei com vontade de conhecer a cidade. Somente Riga e sua art nouveau. Mas, como é só de passagem, talvez até dê para encarar Vilnius. Agora, fiquei com a impressão de que as capitais bálticas têm todas elas antigas torres ainda de pé, reflexos das muralhas históricas. Interessante isso! 23 dias de viagem? Nossa, eu só consigo tirar, no máximo, 10 de cada vez… Sorte sua, hein! O que virá a seguir no blogue? Um beijo
Bruno, tivemos tão pouco tempo que não deu para conhecer bem a cidade, mas nenhuma das capitais do Báltico são grandes, por isso são ótimas para bater perna. E todas elas parecem ter um grande apreço por seu passado. Muitas construções foram destruídas nas sucessivas guerras e invasões que a região sofreu ao longo dos séculos, mas eles parecem fazer questão de reconstruí-las. Hoje em dia está tudo impecável!
Nós podemos tirar os 30 dias de uma só vez, mas geralmente dividimos as férias e juntamos com alguns feriados para que elas rendam mais! ;-) Em breve vou contar sobre a primeira parte das férias desse ano, que passamos no Chile!
Um abraço!
Muito bacana! Pena que tiver de deixar Vilnius de fora do meu roteiro, porque o tempo seria curto e as passagens voltando oi indo para lá encareciam bastante a viagem… Mas deu pra curtir pelo teu post! :)
Carina, a gente sempre ter que deixar um destino ou outro de fora, né? Mas você pode deixar Vilnius para um segundo roteiro pela região, quem sabe incluindo uma viagem de trem até Kaliningrado? ;-) Eu queria muito ter esticado até lá para conhecer esse pedacinho da Rússia deslocado no mapa, mas também não tive tempo. Ficou para a próxima. ;-)