Quem nunca ouviu falar que o Atacama é o deserto mais árido do mundo? Na hora de fazer a mala, chapéu, óculos de sol, hidratante, colírio, protetores solar e labial e soro nasal são considerados itens indispensáveis para aguentar a secura e o calor da região. E muita água, é claro! Em um lugar como esse nunca chove, certo? Pois se eu fosse indicar uma mala baseada apenas na minha experiência, nela entrariam guarda-chuva, bota e casaco impermeáveis e tudo mais que ajudasse a afastar a lama e a umidade. Como eu poderia imaginar que minha primeira impressão do deserto seria assim?
Enquanto ainda estávamos em Puerto Varas, acompanhamos as notícias sobre a chuva no Atacama e elas não eram nada tranquilizadoras. Falavam em inundações de povoados, rios transbordando, pessoas desalojadas, zonas agrícolas arrasadas e mostravam imagens nada tranquilizadoras. E isso tudo 3 dias antes de nossa ida para lá. No começo eu tentei não me preocupar muito, mas os jornais ficavam cada vez mais alarmantes, apesar da aparente tranquilidade dos órgãos oficiais, que afirmavam que a região continuava apta a receber turistas. Como nossas passagens já estavam pagas e não eram reembolsáveis, o jeito era pagar pra ver.
Chegamos a San Pedro de Atacama à noite, sob chuva. Mesmo sabendo que a situação por lá não estava fácil, eu imaginava que os problemas estivessem concentrados na zona rural. Me espantei com tanta lama. Dormi rezando para que o tempo melhorasse, mas no dia seguinte as ruas não nos enganavam. Era difícil andar sem se emporcalhar todo.
O ritual durante o tempo em que estivemos lá foi mais ou menos constante: chuva no final do dia, às vezes se prolongando ao longo da noite. Durante o dia a chuva dava uma trégua e o sol aparecia, mas era só o tempo de as ruas secarem e lá vinha água de novo…
As chuvas no Atacama não são tão raras quanto a gente imagina. Ele é sim o deserto mais seco do mundo, mas ele é enorme. Ao longo dos seus mais de 1.000 km de extensão, as paisagens e o clima não são homogêneos. Em alguns lugares não chove há vários séculos (há quem fale em milhões de anos), mas na região de San Pedro a história é outra. No chamado inverno altiplânico, que ocorre entre janeiro e março, as chuvas são comuns, mas não na intensidade que vimos no início do ano. As pessoas nos disseram que a última vez que elas causaram tanto estrago foi há 12 anos.
O problema é que San Pedro não tem estrutura para suportar chuvas. As ruas são de terra, as paredes de adobe e os tetos de madeira ou palha. A impressão que tínhamos era de que o pequeno vilarejo estava derretendo.
Até mesmo a pequena Igreja de San Pedro de Atacama havia mudado muito. O branco resplandecente tão característico da construção e símbolo da cidade deu lugar a manchas marrons que pareciam lágrimas. Quando chegamos a estrutura estava um pouco abalada, mas antes de irmos embora a igreja já havia sido reaberta e pudemos conhecê-la por dentro.
Geralmente San Pedro fica bem deserta durante o dia, pois a maioria das pessoas está fora, em algum passeio. A cidade não tem muitos atrativos e é basicamente uma base para conhecer as atrações ao seu redor. Dessa vez foi diferente. Pela manhã não havia quase ninguém na rua, mas estavam todos fugindo da lama. À tarde, quando o sol surgia, todos corriam para as ruas para descobrir os passeios liberados para o dia ou para o seguinte.
Esse era o maior problema! As cidades não eram as únicas prejudicadas pela chuva. As estradas também foram bem castigadas e o acesso a muitas atrações ficou interditado. Eu havia planejado minuciosamente os passeios que faríamos nos 5 dias que teríamos no Atacama: Lagunas Altiplânicas (Lagunas Chaxa, Miscanti y Meñique), Valle de la Luna, Lagunas Cejar e Tebinquiche, Salar de Tara e Gêiseres El Tatio, mas foi impossível seguir meu cronograma e, em vez de cinco passeios, só fizemos dois e meio. E passamos bem mais tempo em San Pedro do que desejávamos. Na falta do que fazer, perambulamos pela cidade e passamos muito tempo na Plaza de Armas vendo o tempo passar e aproveitando a internet gratuita.
É claro que quando já nos despedíamos do Atacama o tempo melhorou consideravelmente. No último dia já não víamos nuvens no céu, não havia chovido na véspera e os passeios estavam sendo retomados. Até o Vulcão Licancabur deu as caras, só para que ficássemos ainda mais tristes por partir naquele momento.
Aproveitamos muito pouco. Fiquei muito triste por ter ido tão longe e não ter visto/feito nem a metade do que queria, mas não há como prever a força da natureza. Pelo menos fica aqui a dica para não cometerem o mesmo erro que eu: evitem o inverno altiplânico! Eu com certeza vou voltar para fazer o roteiro completo, mas já adianto que o pouco que vimos já fez valer a pena nossa ida até lá. Aguardem! :-)
Para ler tudo o que foi publicado sobre o Atacama no Viaggiando, clique aqui.
Em fevereiro de 2019 aconteceu novamente minha viagem de 05/02:2019 foi cancelada pois o hotel estava sendo evacuado e San Pedro de Atacama em estado de calamidade pública, neste ano janeiro e fevereiro choveu muito !!!
Pra vocês verem que não estou exagerando, hein! Chove, e às vezes muito, no Atacama! Que pena que você também teve problemas com isso. Espero que tenhamos a chance de ir em outra época.
Nossa Camila,
Eu lembro de você contar o caso, mas não tinha noção do tanto de chuva que foi!! Só fui ver seu post agora. Que horror… e que medo!! rs
Estava pesquisando sobre a Layana (e é o segundo relato de passeio cancelado por eles e não avisado que leio). Tô repensando a agência..
bjos
Menina, foi muito azar pegar essa chuvarada toda! Por isso quero voltar! Quanto à agência, esses cancelamentos acabam com nosso planejamento. Melhor não arriscar, né?
Camila, vou pra lá de 25/02 a 04/03. Acha que devo me preocupar??
Livia, não dá para prever. Chuvas nessa época são relativamente comuns, mas passageiras. Não dá para saber quando e com qual intensidade elas virão. Pode ser questão de sorte ou azar!
que saudadeee!!! fiquei em san pedro de atacama tambem!! mas nao estava em epocas de chuva! pouco sol e clima muito seco.. lembro que o “SEMÁFORO DO SOL” estava sempre com raios UV Extremos.. mesmo em dias nublados.. aconselhavam sempre a se proteger..
fizemos Sand board com 2 malucos que tinham um Barzinho ali pela rua Tocanao
rsrs nos deram cerveja e lanches
e tinha 2 guias bolivianos tambem logo ao lado.. 2 baixinhos muito engraçado..
o pessoal é de respeito…
abraços
O clima que eu peguei é mesmo atípico. O normal é esse clima seco que você presenciou.
Ai que coisa triste Camila, imagino seu desespero… quando acontece essas coisas comigo eu começo a entrar em pânico, mas no final você viu uma imagem diferente da de todo mundo. Foi assim com a gente no nosso dia no deserto do Saara, imagina que estava encoberto eos moradores tinham certeza que iria chover e rezavam para isso acontecer!!! E eu lá, tensa pois o por-do-sol classico que eu havia sonhado ficou para a próxima :)
Mas essa sua ultima foto, ficou linda!
bjin
Mirella, então você também conseguiu ver um deserto cheio de nuvens? Momentos raros, né? Mas já que a gente não consegue fazer um acordo com São Pedro antes de viajar, o jeito é aproveitar do jeito que vier. :-)
Beijos!
Camilla como São Pedro ficou diferente, a cidade parecia está desmanchando :/ Realmente no início do ano chove nesta região até o Peru.. Sempre fica complicado, mas como no Atacama é difícil chover, como adivinhar né???
Fui para lá em Outubro, mas se servir de consolo não fiz o El tatio… Haviam me falado que durante a trip para o deserto de Uyuni dava para ver, me confiei nesta afirmação.. O que ninguém me contou, que era possível ver os geisers ativos apenas no sentindo Uyuni – São Pedro do Atacama e não no sentido inverso ( meu caso). Na hora em passamos já era muito tarde…
Motivo para voltar com certeza!!! Na p´roxima quero levar meu filho!!!
Abraços,
Érika
Érika, que pena que você também perdeu o passeio! Na próxima vez acho que vou reservar uma semana para o Atacama, para não ter perigo de perder nada. E vai ser de preferência no inverno, mas no nosso inverno, não no tal inverno boliviano. ;-)
Nossa, Camila, imagino a sua frustração mesmo. Mal reconheci San Pedro. A Igrejinha coberta de lama… que triste!
Mas, pelo menos, vc fez os dois passeios que eu mais gostei de lá: as Lagunas Altiplânicas e o Salar de Tara.
Da próxima vez, quem sabe, vc não engata com Uyuni tb? :-D
Tiago, é essa a intenção! Mas será que eu encontro um tour para Uyuni à prova de perrengues? ;-)
Nosso passeio às Lagunas foi bem incompleto. Só deu para ir até a Laguna Chaxa. É o próximo post!
Uau, Camila, nunca pensei em ver San Pedro assim, coberta de lama! E a igrejinha, dá pena só de olhar… Pelo que entendi, um dos passeios que vocês não puderam fazer foi ao Tatio, né? Pois só esse já vale planejar uma volta! ;-)
Agora em setembro faz 12 anos que fui ao Atacama… Quando eu fui, não conhecia ninguém que já tivesse ido, as pessoas achavam que eu e a amiga que viajou comigo éramos meio doidas de querer ir passar férias no deserto. Voltei super encantada não só com o Atacama, mas com o Chile como um todo. Já tive a chance de voltar a outras regiões do país, mas continuo devendo o meu retorno ao deserto…
Carla, é isso mesmo. Nada de Tatio, Miscanti y Meñique, Cejar e Tebinquiche… Mas o que mais doeu foi não ter ido ao Tatio mesmo. O pior é que no último dia, quando já estávamos indo embora, ele foi reaberto! Se eu tivesse ido uma semana antes ou depois, tudo teria dado certo. :-(
Eu também voltei apaixonada pelo Chile! Ainda nem conheci tudo que queria no país e já quero voltar para rever os lugares que me encantaram. Tenho certeza de que ainda vou voltar muitas vezes!
Eu me lembro da expectativa de vocês e das notícias desoladoras…pelo menos vocês ainda puderem continuar a viagem e conhecer a região com segurança. Tenho certeza de que virá uma segunda vez. Este é um lugar que está sempre na minha lista, todos voltam absolutamente apaixonados!
Emília, quando chegamos a San Pedro, pensei que teríamos que passar todos os dias trancados no quarto, mas deu para aparoveitar um pouco sim. Felizmente! Pode colocar o Atacama no topo da sua listinha, viu? É mesmo impossível não se apaixonar!
Caraca Camila, chuva no deserto! Taí, uma experiência diferente!
Mas tem o lado bom, vai ter que voltar!!!
Carla, juro que enquanto eu estava lá eu já fazia planos de voltar. E agora, enquanto escrevo, a vontade só aumenta!
Eh realmente uma pena quando a gente não consegue aproveitar como planejado!
Mas como você disse, você viu paisagens que poucas pessoas tiveram o privilégio de ver!!!
Milena, a verdade é que fiquei bem triste quando estava lá e não podia fazer quase nada do que havia planejado, mas acontece, né? Ainda assim foi uma viagem linda!
Mas que chato! Lembro que vcs queriam ir ao Chile já há algum tempo, aí teve o terremoto, e agora, quando foram… chove no Atacama!!!! Bom, mais um motivo para voltar…
Abs!
Arthur, do jeito que minha relação com o Chile é conturbada, melhor eu nem reclamar muito. Da próxima vez pode vir outro terremoto, um vulcão em erupção… ;-)
Esse comentário abaixo: Em compensação, você viu o Licáncabur coberto de neve. Lindo. =)” é meu. (Me atrapalhei com o esquema de fazer login com o FB.)
Em compensação, você viu o Licáncabur coberto de neve. Lindo. =)
Gabriel, e ainda pegamos o chão forrado de neve no caminho para o Salar de Tara! Há coisas que só as tempestades no deserto fazem por você! :-)
Sempre tem o lado bom. =)
Camila, que mês que você foi mesmo? Em março? Sonho com o deserto do Atacama, mas acho que vai ser difícil ir pelos próximos 2 anos, justamente por só ter tempo de férias em dezembro e janeiro…
Roberta, eu fui em fevereiro, mas peguei os piores dias da pior chuva da última década. Azar, né? Mas a probabilidade de chuva é maior entre janeiro e março, entao acho que dezembro ainda seria uma boa época.
Que tristeza hein Camila. Uma viagem aguardada e desejada por tanto tempo estragada por umas chuvas. É claro que se o lugar fosse mais infraestruturado (ruas alcatroadas, boas estradas e afins) vc teria conseguido desfrutar um pouco mais. Mas, veja pelo lado positivo: agora vc tem mais motivos pra voltar. Aguardando os posts das excursões. Bjs
Bruno, quero muito voltar! E na próxima vez vou combinar o Atacama com o Salar de Uyuni. Não tem desculpa melhor! :-)
Um dos lugares mais sensacionais onde já fui. Fiquei me perguntando cono seria com chuva :-D
Lu, e eu fico vendo as fotos de quem foi na época seca e às vezes nem parece o mesmo lugar! Pelo menos posso me gabar de ter visto paisagens únicas no Atacama. ;-)