Quando marcamos o passeio para o Valle de la Luna com a Turismo Layana, reservamos e pagamos também o tour para o Salar de Tara no dia seguinte. Os passeios eram liberados ou cancelados diariamente, dependendo das condições das estradas, mas naquele momento provavelmente eles acreditaram que seria possível ir ao Salar. Quando voltamos do Valle de la Luna, passamos na agência para confirmar o passeio e ficou combinado que o ônibus nos pegaria no hotel às 09h. Acordamos cedo e nos preparamos, mas, depois de meia hora de espera, começamos a nos preocupar. O pessoal do hotel ligou na Layana para saber o que havia acontecido e então soubemos que o passeio havia sido cancelado!
Eu sei que a culpa do cancelamento não foi deles, mas eles tinham a obrigação de nos avisar! Informamos o nome do nosso hotel, bastava fazer uma ligação e nós não teríamos que ficar lá feito bobos esperando. Eu fiquei com muita raiva. Corremos na agência, soltei toda minha indignação e pegamos nosso dinheiro de volta. O pior é que não havia nada que pudéssemos fazer. Algumas agências tinham saído para o Salar de Tara (contrariando as recomendações), mas a verdade é que todos os passeios estavam suspensos.
Pensamos em alugar uma bicicleta e ir até a Quebrada del Diablo (12 km de San Pedro) como a Priscila do Inquietos fez, mas a rota para lá também estava interditada. Só daria para ir até Pukara de Quítor (3 km), mas teríamos que passar pela rodovia, pois pela terra seria perigoso. Achamos que não compensava e desistimos.
Voltamos para o hotel e eu estava arrasada pensando que iria passar o dia todo sem fazer nada, quando tivemos uma boa notícia. Eu estava acompanhando o twitter do Sernatur, o órgão oficial do turismo no Chile, e vi quando saiu um informe dizendo que o acesso à Laguna Chaxa estava liberado. Almoçamos correndo e fomos em busca de agências que estivessem oferecendo o passeio. Uma delas era a Layana, mas nós nos recusávamos a contratá-la novamente. Conseguimos ser encaixados meio que de última hora no passeio da Desert Adventure que sairia às 14h.
A Laguna Chaxa geralmente é um mero coadjuvante no passeio intitulado Lagunas Altiplânicas, em que a atração principal são as Lagunas Miscanti e Meñiques. Nós fomos privados da experiência completa, então o jeito foi aproveitar o que tínhamos em mãos.
O caminho até a Laguna Chaxa é quase toda pavimentada. A estrada estava tão boa que cheguei a me perguntar o porquê de ela ter sido interditada. Depois vimos trechos em que a terra ainda estava sendo removida do asfalto e então entendemos. Outro lembrete de que a chuva havia passado por ali eram as lagoas temporárias à beira da estrada. Em breve elas não fariam mais parte da paisagem do deserto.
O passeio foi feito em uma van com poucas pessoas e o legal é que tínhamos a liberdade de pedir para o motorista parar para tirarmos fotos, coisa que num ônibus com muitas pessoas seria impossível. E isso fez uma super diferença, pois o caminho era cheio de lindas surpresas. Imagino que com o céu limpo a vista dos vulcões deve ser ainda mais impressionante.
A Laguna Chaxa está localizada na Reserva Nacional los Flamencos. Pelo nome dá para imaginar o que encontramos por lá, né? Flamingos, muito flamingos! Na verdade naquele dia eles nem eram tantos assim, mas deu para aproveitar. Impossível não tirar dezenas de fotos desses bichinhos elegantes que ficam quase o dia todo com a cabeça dentro d’água procurando comida e que deixam um cheiro horrível por onde passam. ;-)
O solo da região também é interessante, afinal, estávamos no Salar de Atacama. Só que ele não tem cara de salar. O sal ali não é branquinho como o que vimos no Valle de la Luna, mas forma grandes cristais escuros e disformes. Se o guia não falasse que aquilo tudo era sal, eu nunca adivinharia.
Depois de uma explicação sobre os tipos e cores de flamingos e sobre o salar, tivemos um tempo para passear à vontade. Até encontramos algumas outras espécies de animais. Uns se camuflam tão bem que é preciso prestar atenção para avistá-los em meio às pedras. Artifícios para sobreviver no deserto.
Como não entendo nada de minerais ou fauna e eu já esqueci quase tudo o que o guia falou, não vou nem tentar falar sobre o salar ou sobre os flamingos, para não dizer bobeira. Ficamos curtindo o visual e tivemos sorte do sol dar as caras para deixar a paisagem mais bonita.
Na volta passamos em Toconao, um pequeno vilarejo com 881 habitantes, de acordo com a placa na entrada do povoado (adorei a precisão). Ele é famoso principalmente pela produção agrícola. A únicas principais atrações são a pequena igreja e o campanário na praça principal.
As portas, escadas e até o teto das construções são feitos de madeira de uma espécie de cactos nativa da região. O uso indiscriminado da matéria-prima quase a levou à extinção e por isso seu uso hoje é proibido.
Toconao foi um dos lugares mais afetados pela chuva que atingiu o Atacama no início do ano. O Río Toconao transbordou e destruiu várias casas, mas o mais triste é que toda a zona agrícola foi devastada. A produção agrícola foi toda perdida. Parece que não é a primeira vez que isso acontece e a população estava bem insatisfeita com os dirigentes, que não tomaram medidas para que o episódio não se repetisse. Espero que eles tenham conseguido se recuperar logo e que hoje Toconao já esteja novamente abastecendo a região.
No caminho de volta, lá estava ela: a chuva de novo! Linda, mas às vezes cruel…
Camila
Que lindo!! Essas fotos vc devia vender para a revista da National Geographic…hehe
Beijos
Talvez um dia eu chegue lá. :-)
A Laguna Chaxa, apesar de ser considerado um aperitivo antes das Lagunas Altiplanicas, foi um dos lugares que mais gostei no Atacama. Apesar do odor rs.
Eu fui de manhã bem cedo, o visual desse lugar com as luzes do amanhecer é inesquecível!
As fotos estão lindas.
Karina
Karina, a luz lá é mesmo impressionante! A lagoa, o salar, o céu… Pena que ele não estava muito azul. ;-)
Que bacana ver que a Desert Adventure continua operando firme e forte! Em 2000, eu fiz todos os passeios com eles, mas nem me lembrava mais – na hora em que li o nome me deu esse estalo… ;-)
Carla, ela continua lá sim! Devido às condições nada normais, eu fiz cada passeio com uma agência diferente, mas com a Desert Adventure deu tudo certo!