Nossa idéia de incluir Punta del Diablo no roteiro da última viagem pelo Uruguai não foi nem um pouco sensata. O vilarejo fica mais perto do Brasil do que de Montevidéu, já chegando no Chuí. Mas os planos estavam em aberto e nem sempre a praticidade fala mais alto. Tínhamos apenas comprado as passagens aéreas e nove dias de férias para preencher. Alguns dias na capital, outros para rever a nossa queridinha Colonia del Sacramento e o que mais? Queríamos conhecer algum destino inédito e então surgiu uma promoção do Zarpo para nos dar um empurrãozinho. Um hotel romântico na praia por um preço super camarada? Vambora pra Punta del Diablo!
Na primeira vez que estivemos no Uruguai, em 2007, planejávamos ficar alguns dias em Punta del Diablo. Estávamos viajando de carro e sem reservas de hospedagem. Quando chegamos ao vilarejo, ele não era bem o que esperávamos. A estrutura era mínima e a única forma de hospedagem que conhecíamos (aluguel de cabanas) já não tinha mais vagas. Era fevereiro, ainda verão, e a praia estava lotada. Almoçamos e seguimos em frente, sem tirar uma única foto. A mudança de itinerário foi até bem vinda, pois acabamos em La Paloma, uma lugar que adoramos, mas, quando o destino nos apresentou um pretexto de voltarmos a Punta de Diablo, topamos na hora!
A situação seria bem diferente. Iríamos em setembro, totalmente fora de temporada, e já esperávamos que o clima seria outro. E realmente foi! Punta del Diablo não estava vazia, estava deserta! Chegamos no meio da tarde e, depois de nos instalarmos no hotel (vou falar sobre ele no próximo post), fomos caminhando desde a Playa de la Viuda até o compacto “centro” da cidade. Tínhamos as praias só para nós! Pena que fazia frio e nem dava para curtir o clima de litoral.
O centrinho de Punta del Diablo é bem bonitinho e super rústico, com casas coloridas simples e ruas de areia. Lá estão alguns supermercados, o ponto de ônibus e a maioria dos restaurantes, quase todos fechados na baixa temporada. A população do vilarejo, que abriga cerca de 18 mil pessoas no verão, é de cerca de 800 habitantes. Um sossego só quando não está invadida por turistas.
Era domingo e havia uma feirinha com alguns quiosques de comida. Naquela tarde até havia alguns turistas e muitos carros brasileiros, mas tive a impressão de que as pessoas estavam apenas de passagem, fazendo um bate e volta ou rumo a algum outro destino. Nós aproveitamos o movimento e comemos umas empanadas fritas, só para comprovar que cada lugar da América Latina tem sua própria versão de empanada. Voltamos à feirinha no dia seguinte com a esperança de experimentar os buñuelos de algas, uns bolinhos típicos da região, mas todas as barraquinhas estavam fechadas.
A tarde estava linda e nos convidava a continuar o passeio. Na Playa de los Pescadores, a mais central, ainda há algumas casinhas de pescadores típicas, contrastando com as novas construções que andam mudando a cara de Punta del Diablo. Mas, em meio àquela calmaria, as mudanças eram quase imperceptíveis e a impressão que tínhamos é que a praia continuava parada no tempo.
Na manhã seguinte começamos o passeio rumo ao lado direito da praia. Naquele dia acho que éramos mesmo os únicos turistas por lá. Nas dunas da Playa de la Viuda ainda havia restos de um casamento celebrado na praia no fim de semana, mas os dois outros casais que estavam hospedados no nosso hotel fizeram check-out naquela manhã.
A praia é linda, com uma faixa de areia enorme, mas não se engane! A água é extremamente gelada, mesmo no verão. Ainda mais naquele dia, que o tempo não ajudava e o vento aumentava a sensação de frio.
Nossa intenção era ir até o Faro de la Viuda, mas a chuva se aproximava cada vez mais e preferimos voltar. O farol nós só conseguimos ver assim, de longe, aumentado pelo zoom da câmera fotográfica.
Fomos então para o centrinho em busca de uma opção de almoço e só havia um único restaurante aberto, ainda que pela metade, o Cero Stress. Voltamos em boa hora, pois a chuva no alcançou assim que nos sentamos. Para não dizer que éramos os únicos clientes, um rapaz chegou quando já estávamos saindo. O cardápio era enxuto: peixe, arroz e legumes, o mesmo prato que a família, que mora nos fundos, estava almoçando. Quando disse que era vegetariana, o dono sugeriu na hora uma adaptação: tacos de legumes com queijo. Foi um almoço bem simples, mas delicioso. E é claro que a falta de opções teve seu preço. Esse almocinho nos custou quase R$ 60,00. Pagamos parte em pesos uruguaios e parte em reais. A moeda brasileira é bem aceita em Punta del Diablo.
Com o frio se intensificando e sem nada para fazer, voltamos para o conforto do hotel. Mesmo com o tempo nublado, fomos brindados com um fim de tarde espetacular, que ficou ainda mais bonito quando admirado do quarto quentinho.
Passamos mais uma noite e então nos despedimos de Punta del Diablo. Na hora de ir embora, uma cena inusitada: solão em um lado e a chuva no outro. Deu até para brincar com o antigo ditado. Sol com chuva, na Playa de la Viuda. ;-)
No fim das contas, Punta del Diablo estava bem mais deserta do que eu esperava e o frio também me surpreendeu, mas deu para ver que durante o fim de semana ainda há um pequeno movimento. Nós ficamos lá de domingo a terça e vimos a diferença. Ainda assim, a praia é uma opção para quem quer curtir uns dias de descanso em um lugar bonito. Para quem, como eu, nem é fã de praia, essa época talvez nem seja tão ruim. Só é preciso escolher bem o hotel, pois, com o tempo ruim, a gente se refugia nele o tempo todo. Além disso, como a maioria dos restaurantes só abre no verão, o melhor é se hospedar em um hotel que serve refeições ou mesmo em uma das centenas de cabanas que pipocam por lá. Punta del Diablo mudou muito de 2007 para cá e hoje já existem cabanas luxuosas e hotéis para vários gostos. Nossa experiência foi boa, o problema é que agora eu quero voltar de novo no verão para poder comparar.