Palácio Nacional e Convento de Mafra

Esse dia foi um daqueles especiais em que a gente tem a sorte de encontrar apenas pessoas gentis pelo caminho. Tudo começou numa manhã extremamente fria, ainda em Sintra, onde fomos os únicos turistas a embarcar no ônibus rumo a Mafra. O ônibus era o típico pinga-pinga, parando em todas as cidades e em qualquer lugar da estrada em que as pessoas acenassem. As cidades, pequeninas, iam e vinham, uma atrás da outra, e o tempo voava enquanto observávamos o vai e vem das pessoas. Nosso destino final naquele dia era Óbidos, mas Mafra estava no caminho, então porque não aproveitar o trajeto? Como carregávamos apenas nossas pequenas mochilas, a bagagem não era um problema. Menos de uma hora depois, desembarcamos em frente ao Palácio Nacional de Mafra, a principal atração da cidade e o motivo que nos levou até lá.

Compramos nossos bilhetes e deixamos nossa bagagem no guarda-volumes com uma senhora extremamente simpática. Ela e todos os outros que lá trabalhavam estavam atarantados, pois um número anormal de excursões de estudantes visitava o palácio naquele dia. Nós encontramos vários grupos de escolas em todos os museus que visitamos em Portugal, mas nada se compara ao que vimos em Mafra! Os funcionários disseram que sempre recebiam muitas escolas, mas não sabiam o que tinha acontecido para irem tantos num dia só! Eles corriam de um lado para o outro tentando organizar o fluxo de pessoas, mas sem perder o bom humor.

Como já estávamos lá, não tínhamos outra saída a não ser enfrentar a multidão. E até que conseguimos driblá-la na maioria das vezes, aproveitando as salas enquanto um grupo tinha acabado de passar e o próximo ainda não havia chegado. Com um pouquinho de paciência, acabou dando certo!

O Palácio de Mafra é imenso! O Corredor da Fachada, nessa foto acima, à direita, é um dos maiores corredores palacianos da Europa, com 232 m de uma ponta a outra. Ele liga o Torreão Norte, onde ficavam os aposentos do rei, aos aposentos da rainha, no Torreão Sul. Os palácios do rei e da rainha funcionavam de forma independente, assim como a ala dos príncipes e das princesas.

A construção do palácio foi concluída em 1730 e tem uma ligação forte com o Brasil. A princípio, seria construído apenas um convento, mas o ouro começou a brotar em terras brasileiras e D. João V resolveu não poupar despesas na construção de um novo palácio. Então, se você se pergunta para onde foram as pedras preciosas extraídas no ciclo do ouro brasileiro, saiba que uma boa parte dele foi para Mafra! Mas muito desse ouro acabou voltando para cá em forma de tapetes e obras de arte que vieram junto com a família real para o Brasil em 1808.

Na parte externa do palácio foi criada a Tapada Nacional de Mafra, uma área de lazer toda cercada que a família real e a nobreza da época gostavam de utilizar para a caça. A Sala da Caça é toda decorada em homenagem a esse “esporte”. Ainda hoje a tapada é um espaço em que a caça é permitida, de forma controlada, e onde são desenvolvidas atividades de turismo rural. Confesso que essa parte do palácio não me agradou muito não…

Mas, quando se fala no Palácio de Mafra, não tem pra ninguém, é sua Biblioteca quem rouba a cena! Infelizmente, temos apenas uma visão parcial dela, já que não podemos transitar entre suas estantes, mas o que vemos já é suficiente para nos deixar de queixo caído!  O coração de uma apaixonada por livros como eu até bate mais forte em um lugar desses! A biblioteca é enorme! Seu acervo contém cerca de 36.000 volumes! A maioria dos livros são dos séculos XV a XIX.

Eu poderia passar horas só olhando para aquelas paredes, mas a biblioteca é também a parte mais disputada do palácio e havia fila para que os grupos entrassem, então não pudemos ficar tanto tempo ali, nem tivemos a chance de aproveitar e fotografar com calma. Mas o pouco que vi já foi suficiente para me deixar embasbacada. Com certeza é uma das bibliotecas mais lindas do mundo!

Anexo ao palácio, fica o Convento de Mafra, inicialmente planejado para receber apenas 13 frades, mas cujo projeto foi sendo alterado até que se tornasse um imenso edifício que abrigava 300 frades. Dizem que sua construção foi fruto de uma promessa que D. João V fez para que tivesse um herdeiro. A simplicidade do convento fica ainda mais evidente quando contrastada com o luxo do palácio. Apesar de dividirem o mesmo prédio, a diferença é enorme!

Uma da partes do convento que mais me impressionou foi a Enfermaria. Cada enfermo tinha sua dependência privada em meio a uma capela, assim as camas podiam ser deslocadas para que eles assistissem às missas. E um boneco representando um frade na capela ainda torna o clima no ambiente ainda mais real. De longe a gente até pensa que há mesmo uma pessoa ali!

Para completar a visita, há ainda a Basílica, que é visível através de uma janela do palácio, de onde a família real podia assistir à missa, mas cuja entrada só é acessível pela parte de fora do prédio. Só é preciso ficar atento ao horário (tá tudo no fim do post!), pois ela fica fechada durante o horário de almoço.

Após a visita, corremos para o sol para tentar nos aquecer, mas era quase impossível ficar ao ar livre. Como fez frio naquele dia! Era início de março e o inverno já deveria estar se despedindo, mas o clima já não se liga muito às estações hoje em dia, né?

Após uma curta sessão de fotos na área externa, procuramos um lugar mais quentinho para almoçar. Nossa escolha foi o Restaurante Terraço, um restaurante todo moderninho que fica em frente ao Palácio. O Eduardo foi de bitoque, um prato típico português com bife, arroz, ovo frito, batata frita e salada. Acho que foi o único dia em que ele não comeu bacalhau! E eu fiquei feliz por descobrir uma opção vegetariana no cardápio, coisa rara na maioria dos restaurantes portugueses.

Para fechar nossa experiência em Mafra, é claro que não poderia faltar a sobremesa! Não poderíamos sair de lá sem experimentar os doces típicos locais, o frade e a freira, mas sobre os doces de Portugal vocês já me ouviram falar bastante. ;-)

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