Pela manhã o único som que escuto é o dos passarinhos. O corpo desperta facilmente depois da noite bem dormida num silêncio que há muito eu não vivenciava. Abro a janela em busca dos tucanos que avistamos na tarde anterior, mas o que vejo é uma profusão de pássaros bem menores ciscando a grama ao lado do quarto em busca de comida. Paz, é essa a palavra que vem à minha cabeça. Nem parece que há menos de 24 horas estávamos enfrentando o trânsito caótico de Belo Horizonte.O nome desse recanto de tranquilidade no interior de Minas Gerais é Santana dos Montes, um pedacinho da Estrada Real que integra o Circuito Turístico Villas e Fazendas de Minas.
A chegada à cidade já nos mostrou o que nos esperava. Saímos da confusão da BR-040 e pegamos um estradinha que parece nos levar para outro lugar não só no espaço, mas também no tempo. Naquela manhã de sábado não cruzamos com nenhum outro carro. As curvas e as placas divertidas na beira da estrada são todas nossas e podemos parar à vontade para fotografá-las.
Ao nos aproximarmos da cidade já temos uma amostra das preciosidades históricas que ela nos reserva ao nos depararmos com a Fazenda da Pedra. Seu nome não surgiu à toa: a casa foi construída por escravos, em 1750, sobre uma enorme pedra. Dizem que a fazenda ainda conserva a senzala, o tronco em que os escravos eram açoitados e vários móveis e objetos antigos, mas, infelizmente, a fazenda é propriedade particular e não está aberta à visitação. Temos que nos contentar em apreciar esse resquício da arquitetura da época dos bandeirantes apenas pelo que se avista da estrada.
Logo a gente consegue avistar a cidade e pela distância já se percebe que ela é bem pequeninha. E os números confirmam essa impressão: Santana dos Montes tem menos de 4 mil habitantes e metade da população vive na zona rural, mantendo a vocação econômica da cidade desde a sua origem. Santana dos Montes faz parte da Estrada Real, mas ela nunca foi rica em minérios como Ouro Preto ou Diamantina. Faltava-lhe o ouro, mas sua terra era fértil e para manter o ciclo do ouro era necessário produzir muito alimento. Surgiram então na região grandes fazendas que abasteciam os tropeiros que por ali passavam.
Após o declínio da mineração, as grandes fazendas da região perderam grande parte de sua força econômica e foi isso que possibilitou que Santana dos Montes mantivesse quase intacta sua arquitetura original. O ponto principal da cidade é a Praça da Matriz e ao seu redor está o casario histórico mais bem preservado. São cerca de 30 casas dos séculos XVII e XVIII e a maioria tem a parte externa restaurada.
No final da praça, no ponto mais alto da cidade, está a Igreja de Santana, construída em 1749, quando o lugar ainda se chamava Morro do Chapéu. Suas portas e janelas ainda são originais. A igreja é bem simples, por dentro e por fora. As pinturas no teto são atribuídas a Francisco Xavier Carneiro, um discípulo de Mestre Athaíde.
SOLAR DOS MONTES
Santana dos Montes não tem grandes atrações ou lugares para se visitar. Se fosse apenas para ver a praça e a igreja, poucas horas já seriam suficientes, mas o melhor de lá são as construções históricas transformadas em charmosas pousadas. Nós escolhemos nos hospedar no Solar dos Montes, que fica na Praça da Matriz, ao lado da igreja, no casarão mais bonito da cidade.
A restauração do casarão foi minuciosa e recuperou muitas características originais de sua construção (em 1780) que haviam sido escondidas por sucessivas reformas ao longo do tempo. As vigas de madeira voltaram a adornar lindamente o teto e uma parede de prospecção nos mostra como eram construídas as paredes antigamente. Os demais espaços, acrescentados à antiga construção, compõem um ambiente super agradável em que cada poltrona parece nos convidar ao descanso e à contemplação.
Mas o grande diferencial do Solar dos Montes são seus proprietários – a mineira Ana e o argentino José Medina – que adoram bater papo com os hóspedes e nos fazem sentir em casa. Você só não terá a honra de contar com a companhia deles quando eles estiverem viajando de férias, provavelmente na Espanha, país pelos qual são apaixonados. E o casarão é todo decorado com lembranças que eles trazem dessas viagens. Cada peça do Solar parece ter uma história para contar e tudo é carregado de significado, o que torna a hospedagem ainda mais especial.
O regime de hospedagem é de pensão completa e as refeições são servidas num lindo salão com vista para a Praça da Matriz. No cardápio, além da tradicional comida mineira, podemos encontrar pratos das culinárias portuguesa, italiana, espanhola e argentina, em referência às origens de Ana e José e, sempre que possível, com ingredientes colhidos na horta e no pomar da pousada.
A área da pousada é enorme e pela fachada ninguém imagina o que se encontra na parte de trás da casa. Os quartos ficam no final dessa área, num local em que a cidade já parece encontrar a zona rural, o que garante um completo silêncio, mesmo quando os sinos da igreja tocam chamando os fiéis. Nós ficamos no quarto menor, mas que nos atendeu muito bem. São apenas dois prédios de apartamentos que comportam no total apenas 40 pessoas, então a privacidade é garantida. E a vista que se tem dos quartos, principalmente os do 2º andar, é uma coisa linda!
A área externa, como eu já disse, é enorme e ao longo delas estão distribuídos os quartos, a piscina aquecida, a sauna, a área de jogos e quadras, de tal forma que a distância entre eles faça com que o silêncio seja sempre garantido.
Para mais informações sobre o Solar dos Montes e para reservas, clique aqui.
FAZENDA FONTE LIMPA
A maioria das pousadas de Santana dos Montes está localizada em antigas fazendas e nós aproveitamos para conhecer algumas delas. Pode parecer estranho, mas isso é super comum por lá. Enquanto estávamos no Solar dos Montes vimos várias pessoas que estavam hospedadas em outras pousadas entrarem para conhecer a casa, então não é preciso ter vergonha! Nós começamos pela Fazenda Fonte Limpa, a pioneira nesse tipo de hospedagem na região. A fazenda está na mesma família desde 1838, mas a sede da fazenda é ainda mais antiga, de 1750. Ao seu redor, diversas construções foram adaptadas ou acrescentadas para receber hóspedes e hoje o hotel parece uma pequena vila. Tive a impressão de que é um bom lugar para ir com crianças, pois a área é enorme e há muita coisa para ver e fazer. Para mais informações, visite o site do hotel.
FAZENDA SANTA MARINA
Visitamos ainda a Fazenda Santa Marina, que é completamente diferente da Fonte Limpa. Primeiro porque a fazenda é bem mais recente (de 1848), mas também porque o ambiente ali é outro. Crianças não são aceitas e a fazenda recebe no máximo 20 pessoas. O clima é de pura tranquilidade e romance. Fiquei com vontade de voltar lá quando estiver querendo fugir do mundo, sabe? Um livro à beira do lago da fazenda pode ser tudo o que se precisa para se esquecer de todas preocupações do dia a dia. Para mais informações e reservas, clique aqui.
Ainda havia mais fazendas e muitas cachoeiras para conhecermos em Santana dos Montes, mas passamos apenas um fim de semana lá e estávamos em busca de sossego. Agora que já aprendemos o caminho, nada nos impede de voltar.
Santana dos Montes ainda é um pedaço da Estrada Real bastante desconhecido. Ninguém com quem comentei sobre essa viagem já havia ouvido falar de lá. As pousadas estavam cheias, até porque estivemos lá em julho, mas, como elas são poucas, a cidade permanece tranquila. Para quem procura patrimônio histórico numa região linda e longe da agitação, Santana dos Montes é o lugar perfeito. Mas talvez seja melhor ir logo! Não dá para prever por quanto tempo Santana dos Montes continuará escondida. ;-)
COMO CHEGAR: Santana dos Montes fica a 130 km de Belo Horizonte. O acesso se dá pela terrível BR-040 e depois por 17 km em uma estradinha secundária e tranquila, mas pavimentada. Para saber como chegar, siga as instruções da página do Solar dos Montes. O Google Maps traça um caminho meio estranho e é melhor não confiar nele se não quiser enfrentar uma estrada de terra.
Veja todos os posts sobre a Estrada Real no Viaggiando.
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Olá Camila, tudo bem?
Estava dando uma visitinha pelo seu site, e vi que conhece Santana dos Montes, estou indo passar o carnaval lá este ano, só que eu não sei o que fazer por lá, será que vc, poderia me dar algumas dicas, será que consigo entrar nas fazendas para visitação e fotos??
Grande Beijo
Talita
Talita, nas fazendas que viraram hotéis você entra tranquilamente. Tudo o que eu fiz por lá eu relatei aqui no blog e, como eu disse, não fui a nenhuma cachoeira, por exemplo. Santana do Montes não é um lugar cheio de atrações, a graça está mais em aproveitar a tranquilidade do lugar e as charmosas pousadas.
vi vídeos e fotos são paisagens lindas, quando eu for ai eu garanto que eu serei bem recebido gostei muito *-*
Camila, que lindo seu post. Estou indo para Santana dos Montes este fim de semana para comemorar meus 3 anos de casada! Como estávamos querendo sossego e adoramos conhecer lugares novos, sei que vamos nos encantar!
Você já me deu uma ótima visão da cidade.
Abraço forte!
Oi, Lana! Se sossego é o que você procura, Santana dos Montes é o lugar certo! E então, como foi sua viagem?
Camila, acabamos de chegar de Santana dos Montes! A viagem foi simplesmente maravilhosa! Ficamos hospedados na pousada Solar dos Montes também e adoramos, porque estávamos sozinhos lá. Conversamos muito com a Ana e o Medina. Eles são adoráveis! Eu recomendo muito a pousada deles!
Visitamos a fazenda Fonte Limpa e achei que ela está um pouco descuidada. Fomos à cachoeira do Santinho a pé, mas estava fechada, infelizmente, então decidimos visitar a outra cachoeira que fica na estrada (mas não tomamos banho porque a água é muito gelada). Visitei o Museu Rural da América Latina que é bem interessante e ainda conheci a cervejaria da Loba (fazenda Guarará) onde degustamos a cerveja e o chopp. A viagem foi ótima. A pousada nos ofereceu tranquilidade e aconchego e a cidade nos proporcionou bons passeios também.
Tudo perfeito! Beijos, querida.
Vou fazer um post no meu blog e depois coloco o link aqui para você me visitar!
Que legal, Lana! Deixe mesmo seu link aqui. Quero ler seu post!
Cumprindo o prometido!
Saiu hoje o post no blog sobre a viagem: Santana dos Montes
beijos.
Tive o prazer de viver por cinco anos nessa cidade!! Ohh saudade, cada cachoeira, saudade dos amigos!!! Sem falar do pastel frito da Dona Maria!!!!
E eu nem tive tempo de visitar as cachoeiras, Marciela! E também não experimentei esse pastel! Agora fiquei com vontade! ;-)
Camila, da próxima vez que for a Santana, não deixe de conhecer a história da cidade mais a fundo. A começar pela linda Fazenda Antônio Quirino, a qual a Sra. Maria de Lourdes (Lulude) é a atual proprietária. Fazenda esta que foi a primeira construção na região. A cidade toda foi construída em volta dela. Como você conhece Santana, deve lembrar: antes de subir para a parte alta da cidade, onde fica o Solar dos Montes, há uma pracinha, com um posto de gasolina em frente. Essa fazenda fica em frente a esse posto. Não tem como não ver. É linda, histórica, foi toda reformada e é tombada pelo IEPHA/MG. Não é pousada nem local de visitação, mas tenho certeza que a Lulude lhe mostraria a fazenda com todo prazer.
Qualquer outra dúvida, me disponho a ajudá-la. Não sou de lá, mas minha família é. Anderson Resende – BH
Anderson, eu me lembro bem dessa fazenda! Meu marido e eu chegamos a comentar sobre ela, pois nos chamou atenção. Na próxima vez vou deixar a vergonha de lado e bater um papo com a Lulude! :-)
Ei Camila! Esse é o meu número de viagens! =) Morando em BH também, acho essencial essas escapadinhas. Mesmo sendo turismóloga e apaixonada por Minas, nunca tinha ouvido falar desse lugar, acredita? Amei, amei! Vou incluí-lo na lista. A Fazenda Santa Maria parece ser perfeita para um final de semana tranquilo com o namorado. Vou enviar o link do seu post agora para ele! Rs! Beijão!
Laís, a Fazenda Santa Marina tem muita cara de romance, viu? Depois me conta se você foi conhecer!
Minas Gerais tem muitos lugares interessantes, né? E no entorno de BH as opções são infinitas! Ainda tem tanta coisa que eu quero conhecer, mas me falta tempo para visitar tudo. Um dia a gente chega lá! ;-)
Camila, queria saber como você descobre esses lugares!
Ainda nem visitei o museu a céu aberto em Inhotim (acho que é esse o lugar, né?) e ainda tem mais esse lugar em Minas pra conhecer…
Vou ter que tirar férias o mais rápido possível e carregar minha esposa pra lá!
Valeu!
Claudio, descobri Santana dos Montes em uma revista temática sobre a Estrada Real. Acho que a matéria era sobre as fazendas antigas e depois eu pesquisei mais e fiquei doida para ir! A verdade é que Minas Gerais é inesgotável! Nem eu que moro aqui consigo visitar tudo! ;-)
ai, Minas Gerais! <3
Camila, onde é que você procura as pousadas ai no Brasil? tem algum site especifico? lembro que eu estava procurando algumas para montar o meu roteiro na Estrada Real, mas não encontrava muitas opções e o pouco que eu vi era muito, muito caro!
Espero conseguir fazer uma parte do passeio na proxima vez que eu for ao Brasil – e vou passar em BH pra visita-los, viu?
bjim!
Mi, eu costumo pesquisar no viajeaqui.abril.com.br, que lista os hotéis indicados no Guia 4 Rodas. As primeiras da lista costumam ser as mais caras, mas geralmente há opções mais simples também. Tô te esperando aqui em BH!