Meu histórico já indicava que passar apenas algumas horas em Óbidos não me deixaria satisfeita. Cidades históricas minúsculas, preservadas e com casinhas tipo miniatura são bem o meu tipo. Eu já imaginava Óbidos como uma versão portuguesa de Tiradentes ou Colonia del Sacramento, com a vantagem de ser ainda mais antiga. A maioria das pessoas prefere passar apenas algumas horas lá, num bate e volta a partir de Lisboa, mas eu escolhi dormir na cidade. E não só uma, mas três noites! Calma! Eu não sou maluca! É que escolhemos Óbidos como base para os passeios a Batalha e Alcobaça. E as três noites foram para que tivéssemos dois dias livres, um para a cidade e um para a road trip.
Nossa chegada já nos deu uma idéia do que nos esperava. Chegamos de uma maneira não muito convencional: de trem! Era a forma mais fácil de chegar lá a partir de Mafra (na verdade, pegamos o trem em Malveira). Foi o trajeto ferroviário mais peculiar que já fizemos, pois nosso trem era minúsculo! Já viajaram em um só vagão? Parecia mais um ônibus!
Fomos os únicos passageiros a descer na estação de Óbidos. Quase todos chegam lá de carro ou de ônibus, poucos malucos inventam de chegar de trem, tanto que o terminal fica fechado, servindo quase como enfeite. Ficamos até meio assombrados por estarmos ali, no meio do nada. Ainda bem que viajamos com pouca bagagem, pois tivemos que encarar uma pequena caminhada até a entrada da cidade.
Deixamos nossas coisas na pousada e saímos para fazer um reconhecimento do local. Óbidos foi tomada dos mouros em 1148 pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques. No século seguinte, D. Dinis ofereceu a vila como presente de casamento à sua esposa, D. Isabel. A partir de então, Óbidos passou a pertencer à Casa das Rainhas. E cada rainha dava seu toque à cidade, como alguém que resolve redecorar a casa, sabe? E assim a vila foi sendo preservada, mesmo após sofrer os efeitos do terremoto de 1755 e de algumas batalhas.
A noite não demoraria a chegar, então não fomos muito longe. Subimos na parte da muralha mais próxima da pousada para apreciar os últimos rastros de luz, mas aquele foi o dia mais frio da viagem (fez 2 °C!) e ficar ao ar livre era quase insuportável. Um curto passeio e um jantar num restaurante quentinho foi tudo o que nos restou naquele dia gelado.
Passamos o dia seguinte quase todo fora e voltamos a Óbidos só no fim do dia. Aproveitamos para conhecer o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, que fica fora das muralhas, já no caminho para Caldas da Rainha. O santuário, inaugurado em 1747, pode ser avistado de vários pontos da muralha e eu fiquei curiosa para conhecê-lo, mas ele estava fechado quando estivemos lá. Ao seu lado há um pequena área comercial com alguns restaurantes que nos disseram ser mais baratos que o da vila, mas nós demos uma olhada rápida nos cardápios e não vimos muita diferença.
No terceiro dia é que pudemos finalmente nos dedicar a explorar a cidade. Tivemos a sorte de contar com um céu lindo que deixou tudo mais colorido. Óbidos é um daqueles lugares extremamente fotogênicos em que para qualquer lado que se aponte a câmera há algo que merece ser fotografado. As casinhas são brancas com alguns detalhes em amarelo ou azul e eu, que nasci sem o GPS interno, me confundia o tempo todo naquele labirinto de ruas tortas. O acesso restrito de carros ao interior das muralhas ajuda a acentuar a sensação de que estamos realmente em uma vila medieval.
Não há muito o que fazer em Óbidos além de passear sem rumo. Há alguns museus e igrejas que podem ser visitados, mas nós nos contentamos com o que ela tem de melhor: suas ruelas. Em pouco tempo se conhece a vila toda, que é realmente minúscula. Depois de achar que já viu tudo, você pode querer ver Óbidos a partir de outro ângulo, caminhando sobre sua muralha. Dá para percorrê-la quase por inteiro e lá de cima os telhadinhos marrons dão uma outra cara à vila. Mas vá com sapatos confortáveis e não escorregadios! Não há proteção de um lado da muralha, que é bastante alta em alguns pontos, então é melhor se precaver e andar com cuidado!
À noite é que a gente entende porque é melhor não passar correndo por Óbidos. No entardecer as ruas já começam a esvaziar e logo ficam completamente desertas. A iluminação por lampiões nos faz voltar no tempo, a séculos bem distantes do nosso. Pouquíssimas pessoas vivem hoje do lado de dentro das muralhas e poucos restaurantes ficam abertos até mais tarde, então uma caminhada depois do jantar nos dá a impressão de que a cidade é toda nossa.
Para quem não planeja usar Óbidos como base, eu recomendaria passar uma noite, mas isso só para quem curte cidades históricas pacatas. O clima é de pura calmaria. A vila acorda tarde e dorme cedo. As pessoas chegam pela manhã para trabalhar e voltam à noite para Caldas da Rainha ou alguma outra cidade lá perto. Dizem que na época de Natal as ruas ficam entupidas de gente por causa da Vila Natal. Nós estivemos lá durante o Festival de Chocolate, um dos maiores eventos da cidade, mas mesmo assim ela continuou vazia de manhã cedinho e à noite no dia do evento. Na maior parte do tempo, Óbidos continua vivendo como uma típica vila medieval.
Para ler tudo o que já foi publicado sobre Portugal no Viaggiando, clique aqui.
Olá Camila, estou planejando uma corrida por nazaré, alcobaça, batalha, fátima e tomar… Será que óbidos é uma boa base? Sabe informar se há como chegar de lisboa para óbidos de trem? Ainda não achei nada a respeito… Obrigado! Parabéns belo blog!
Óbidos é uma boa base se você estiver de carro. De transporte público é mais complicado, pois não há muitas ligações a partir de lá. Dê uma olhada no meu post sobre transporte em Portugal: https://www.viaggiando.com.br/2014/07/transporte-em-portugal.html
por onde se sobe para caminhar sobre a muralha de obidos??
Rita, há mais de um ponto de acesso. Andando ao lado da muralha você vai ver as escadinhas. Fique de olho nos locais próximos às torres.
Parece uma vila de brincar não é?
é lindo Óbidos! Visita obrigatória para quem quer mesmo conhecer Portugal!
Parece mesmo uma linda cidade de brincadeira, típica de bonecas!
Olá,
Óbidos é sim um lugar incrível, onde o tempo toma outro rumo e também outra dimensão! Parabéns pelo post. A sua viagem te permitiu vivenciar a vida pacata e simples da cidadezinha. Isso é que é fugir do óbvio.
Logo também farei um post sobre Óbidos em meu blog: http://www.passageirosabordo.blogspot.com
Oi, Marcia! Acho que conseguimos entrar no clima da cidade! Fizemos tudo sem pressa e foi uma experiência bem gostosa!
🙏Muito bom!
Oi, Camila. Tudo bem? :)
Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Natalie – Boia
Eba!!! Obrigada! :-)
Camila, que idéia original de fazer Óbidos como base! E chegando de trem, que delícia…adoro.
Eu estive em Óbidos há quase 20 anos, era um dia cinzento e friozinho, mas mesmo assim me apaixonei pela cidade. Tenho muita vontade de voltar um dia, esse tipo de cidade é o meu número.
Um beijo!
Emília, a chegada de trem foi meio emblemática, sabe? Combinou bastante com nossa experiência em Óbidos!
Beijos!
Delícia de cidade. Adoro as ruas estreitas de pedra. Pena que aqui na minha cidade, São Luís, os carros invadam o Centro Histórico e estacionam até mesmo em cima das calçadas. Absurdo!!! Pérolas como essa devem permanecer assim como descrevestes, deserta.
Bj
Amanda, infelizmente essa não é uma realidade só de São Luís. Parece que no Brasil todo os carros ainda são prioridade. Tiradentes ficaria tão mais bonita e agradável sem os carros! E eu ainda sonho com o dia em que a Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, ficará apenas para os pedestres, nem que seja durante os fins de semana.
Ainda não conheci, mas está na minha lista! Gosto de agitação, mas ao mesmo tempo adoro quebrar a rotina com essas cidades pacatas com clima medieval. Também optaria por passar uma noite e conhecer a vila longe da invasão dos turistas, como foi quando passei uma noite no Mont St Michel (na França) e 4 noites em Veneza (as pessoas me chamavam de louca, diziam que em uma tarde dava para “ver tudo”, mas em 4 dias e noites não consegui ainda “ver tudo”).
As fotos ficaram ótimas, de todos os ângulos!
Milena, a verdade é que em algumas horas a gente não conhece de verdade cidade nenhuma, né? A gentes pode escolher visitar só as atrações principais ou algum lugar que sonhávamos em conhecer, mas vai sempre ficar faltando algo, nem que seja uma caminhada preguiçosa para descobrir alguns cantinhos que nos passariam despercebidos caso passássemos correndo. Sem contar que quase todo lugar tem um brilho especial à noite. ;-)
Acho que foi o meu post sobre Óbidos e o Festival do Chocolate que te deixou com vontade ir à vila em Março. Que bom que vc cumpriu a promessa de ir nessa época do ano. E que bom que gostou. Mas, da próxima vez vc tem de rumar ao sul, partindo de Setúbal, minha cidade. Vai amar. Abraço, Bruno Cardoso
Bruno, acredita que estar lá na época do festival acabou sendo coincidência? Iríamos a Portugal em maio, mas tivemos que antecipar as férias. Quando descobri que nossos dias em Óbidos coincidiriam com o festival, fiquei com medo de que as pousadas estivessem lotadas ou muito caras, mas deu tudo certo! Mas foi mesmo no seu blog que eu descobri o festival! Eu nunca tinha ouvido falar dele e nem imaginava como seria!
Duas semanas foram pouco tempo para tudo que eu queria fazer em Portugal, então tive que escolher entre norte e sul. Com certeza ainda volto para conhecer outros lugares e rever os meus preferidos. :-)
Lindo post, Cam! Também adorei Óbidos, que de fato é muito fotogênica. Beijos,
Eu me lembro de você falar de Óbidos, Lu! É uma gracinha, né? Fotógrafos de verdade devem ficar doidos lá!
Ai, que saudade! Óbidos entrou no meu roteiro por sugestão de uma amiga franco-italiana que me contou que sua avó portuguesa mora lá. Pena que não conseguimos encontrá-la, mas adoramos a cidade!
Ao seu ótimo post acrescento apenas a dica de tomar a ginginha no copinho de chocolate. O Léo bebeu tantos que eu tive que voltar dirigindo para Lisboa. :p
Mi, ela morava dentro da vila? Tem tão pouca gente dentro das muralhas que eu fiquei até curiosa para conhecer alguém que more lá!
Nem falei da ginjinha porque acabamos não comprando nenhuma em Óbidos, mas fomos recebidos na pousada com um copinho. ;-)
Óbidos é um dos meus maiores motivos para querer voltar a Portugal, assim como Alcobaça… Infelizmente não deu pra encaixar nenhuma das duas no meu curto roteiro. Uma semana para um país tão rico é mesmo muito pouco!!!
Carla, muitas pessoas acharam exagero eu passar 15 dias só em Portugal, enquanto eu pensava “Só 15 dias em Portugal?” rsrs Foi pouco e eu tive que deixar muita coisa de fora, mesmo não tendo incluído o sul do país no roteiro. Com certeza vou voltar!
Camila, na primeira vez em que fui à Europa, fiquei 5 semanas só entre França e Reino Unido – e os comentários que eu ouvia eram do tipo “com tanto tempo você poderia conhecer muito mais!” Conhecer?!? Acho que não, né?
Ainda mais França e Reino Unido! Tenho até um puco de medo/preguiça de planejar uma viagem para esses países, pois há tanta coisa para conhecer!
Pois é… E 5 semanas não foram suficientes mesmo não!!!
Interessante, passei por isso ano passado, fui para a Europa com a família em junho/julho e fiquei 21 dias na França, ouvi vários comentários desse tipo! Acabei dando um “giro” pela França, Paris, Giverny, Normandia (praias do dia D, cemitérios de guerra – EUA, Alemanha e Canadá), Mont-Saint-Michel, Loire, Provence, Cassis e o Mediterrâneo. Achei que seria bacana pegar pelo menos um “cheirinho” do país! Não me arrependi!
Que delícia de viagem, Marcelo! Essas viagens que cobrem pouco território são as minhas favoritas – amo passar um pouco mais de tempo em cada lugar…
E mesmo dedicando “tanto” tempo a um único país, a gente volta com a impressão de que precisava de mais, né? ;-)
Que legal! Nunca tinha parado pra pensar que parece Tiradentes rs. Estive em Óbidos em 2001 mas só como bate-volta de Lisboa mesmo…
Fernanda, o estilo das casinhas lembra Tiradentes, mas Óbidos tem a vantagem de restringir a circulação de carros, algo que eu ainda sonho ver em Tiradentes.
Além de estragar a cidade, os carros atrapalham as fotos! rs