Algumas coisas que eu estou descobrindo durante as pesquisas para esse projeto de leitura estão me deixando até mesmo envergonhada. Quando eu decidi incluir 5 destinos além dos 193 países membros da ONU, não foi por nenhuma questão ideológica. A verdade é que geopolítica nunca foi o meu forte, mas pensei que ao incluir algumas regiões em conflito eu poderia pelo menos tentar entendê-las melhor. É claro que eu já tinha uma noção do que acontece em Kosovo ou na Palestina, mas confesso que não tinha a mínima idéia da questão do Saara Ocidental, a última colônia africana.
Assim como a Guiné Equatorial e o norte do Marrocos, o Saara Ocidental foi colonizado pela Espanha, que promoveu uma descolonização bem tardia no país, somente em 1976. Sua retirada da antiga colônia do Saara Espanhol parece ter sido bastante irresponsável. Ela deixou uma população praticamente analfabeta numa situação precária e num país sem infra-estrutura. Para complicar, a Espanha não transferiu o poder para uma representação nacional. Em vez disso, ela passou a administração do território no norte do país para o Marrocos e no sul para a Mauritânia e esses países logo invadiram o Saara Ocidental. Um movimento criado para defender os interesses do povo saaráui, a Frente Popular para a Libertação de Saguia el Hamra e Rio de Oro, conhecida como Frente Polisário, resistiu à invasões. Em 1979, a Mauritânia assinou um tratado de paz com a Frente Polisário e desistiu da parte territorial que disputava. Mas o Marrocos não fez o mesmo e a guerra continuou até 1991, quando a ONU interviu para promover um cessar-fogo.
Desde então a ONU mantem uma missão no Saara Ocidental chamada MINURSO, cujo objetivo é a realização de um referendo para decidir a questão da região. O tal referendo, no qual a população deveria escolher se preferia a independência do país ou a anexação do território ao Marrocos, foi adiado inúmeras vezes. Primeiro porque não chegaram a um acordo sobre quem poderia participar do referendo, depois porque o escopo do referendo foi alterado e rejeitado pelas partes envolvidas. E a situação se arrasta até hoje.
Cerca de 90 países já reconheceram a soberania do Saara Ocidental. O Brasil não é um deles. A Espanha também não. Nenhum país o reconhece como parte do Marrocos. No início do mês passado, a ONU lançou uma nova fase de negociações. Enquanto a crise não é resolvida, a população, de maioria nômade, sofre. O país foi transformado em um campo minado, literalmente. Milhares de saaráuis vivem em condições precárias em campo de refugiados. Direitos humanos continuam sendo constantemente violados, mas ainda assim o Saara Ocidental parece ser um pedaço do mundo esquecido aos olhos da comunidade internacional. A gente nem ouve falar de lá, não é verdade? Eu nem imaginava, por exemplo, que o governo marroquino havia construído um enorme muro de areia de mais de 2000 km de extensão para isolar as áreas sob seu domínio do território libertado. E isso há mais de 20 anos! Um muro bem maior que o de Berlim, mas que não tem uma ínfima parte de sua fama.
Depois de conhecer essa história, imaginei que não encontraria um único livro saaráui para ler. Mas não é que eu estava enganada? Descobri sim alguns romances publicados no exterior que me pareciam bem interessantes, mas daí a conseguir comprá-los já é outra história. Até entrei em contato com livrarias e associações espanholas e mexicanas que se envolvem com a causa do Saara Ocidental, mas nenhuma conseguiu me dizer onde comprar os livros (a lista está no fim do post e pode ser que alguém tenha mais sorte do que eu). Então descobri que o autor de um desses romances havia publicado um livro de forma independente e ele estava disponível para compra em pdf no site Bubok. Problema resolvido, né? E foi assim que eu acabei lendo Los Senderos de la Vida, do escritor saaráui Ahmed Mulay Ali Hamadi, o embaixador do Saara Ocidental no México.
Los Senderos de la Vida não era bem o que eu esperava. Eu queria algo que me ajudasse a conhecer o Saara Ocidental, mas o país mal é citado no livro. A história se passa em Mali, na cidade de Timbuktu. Olha o Mali de novo no meu caminho! Não é bem um romance, está mais para um conto de cunho moral. É curtinho (são apenas 58 páginas) e dá para ler numa só sentada. Fiquei um pouco chateada por não ter tido a chance de aprender um pouco mais sobre o Saara Ocidental e seu povo, mas nesse caso a própria pesquisa que me fez descobrir o livro já foi um grande aprendizado.
Mais alguns livros de autores saaráuis:
- Viaje a la Sabiduría del Desierto, Ahmed Mulay Ali Hamadi
- Lágrimas de Alegría, Abderrahman Budda Hamadi
- Los Caminos de la Esperanza, Mohamed Sidati
Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.
Que pecado mesmo Camila o livro não nos encher de informações sobre o Saara. Mas valeu a leitura em espanhol, que eu acho muito prazerosa!
E o livro é curtinho, né Lucimara? A gente lê num segundo! Mas eu espero ainda ter a chance de ler um que fale do Saara Ocidental. A Ana Luiza conseguiu comprar outro. Vamos ver o que ela vai dizer dele!
Pois é! Li rapidinho. Então a Ana nos indica se for legal. Eu li a sinopse de Lágrimas de Alegría, mas não fiquei procurando. Me pareceu interessante!
Gente, eu adorei o livro, apesar de muito triste! Acho que tem tudo a ver com o projeto! E fiquei fã do personagem, uma verdadeira lição de vida!
Ana, quero ler! :)
Claro que agora vou querer ler também! Se eu tivesse descoberto ele antes, acho que o Saara Ocidental merecia mesmo uma repescagem, como a Palestina.
Olá Ana, somente a titulo de curiosidade, qual livro seria esse que você leu?
Para quem sabe ajudar futuros leitores do projeto, gostaria de dizer que no meu caso vou ler o ‘Cuentos saharauis de mi abuelo’ de Bahia Mahmud Awah. A obra desse autor me pareceu incrível. Será meu primeiro livro em espanhol, estou ansiosa se vou dar conta!!!
Nadia, a Ana Luiza leu “Tifariti, Mi Tierra” (Abadurrahman Budda Hamadi). Ela também tem tudo registrado em seu blog: https://tiupar.com/outras-viagens/
Camila, eu to adorando esse teu projeto e, mais cedo ou mais tarde, (quando eu terminar a minha pilha de livros atrasados) vou começar a seguir teus passos nessa viagem de volta ao mundo!
Nao sei se te interessa, mas eu encontrei pra vender o livro “Tifariti, mi tierra” de Abadurrahman Budda Hamadi, que “se narra la historia y la evolución de un pueblo del Sáhara Occidental.”
http://www.abebooks.it/servlet/BookDetailsPL?bi=10921080738&searchurl=an%3Dhamadi%26amp%3Bbsi%3D60%26amp%3Bsortby%3D17%26amp%3Bx%3D45%26amp%3By%3D16
Beijinhos!
Obrigada pela dica, Luisa! Fiquei com muita vontade de ler mais sobre o Saara Ocidental. Mais um que vai para a lista de livros a ler após o projeto! A minha pilha de leitura não vai terminar nunca. ;-)
Camila, Voltou animada!
Ainda não acabei de ler o livro, mas entendo a sua decepção. Por outro lado, acho que foi a escolha mais acertada, tendo em vista as dificuldades!
bjs
Que nada, Lu! Esse post já tava no rascunho, era para ter sido publicado antes de eu sair de férias! Ontem só finalizei! :-)