Tive vontade de ler o livro de um sopro só. Ao final da leitura eu já queria recomeçá-la, ler nas entrelinhas, entender as referências, juntar as partes do quebra-cabeça. O mesmo aconteceu quando li pela primeira vez Cem Anos de Solidão. Ao virar a última página, meus ombros estavam até pesados. Era como se a história da família Buendía, todas as suas dores e desventuras, pairasse sobre eles. Um turbilhão de emoções não me permitia saber se eu tinha amado ou odiado o livro. Precisei ler de novo um tempo depois para entender meus sentimentos. E descobri que era mesmo amor. Forte, daqueles que nos confundem. Com Olhos de Coruja Olhos de Gato Bravo, do escritor timorense Luís Cardoso, foi um pouco diferente. De cara eu já soube decifrar meus sentimentos, talvez por já estar familiarizada com eles. O livro me encantou completamente. Precisei me segurar para não virar a noite lendo.
A comparação com Cem Anos de Solidão não foi à toa. Em ambos, o universo fantástico é forte. Apesar de abranger um período de tempo bem menor, em Olhos de Coruja Olhos de Gato Bravo os nomes dos membros da família também se repetem e com eles vem uma herança da qual é impossível fugir. Beatriz, filha de Beatriz, neta de Beatriz, nasceu tarde. Seus irmãos, os gêmeos Mateus e Matias, já estavam crescidos e os pais, em idade avançada, não esperavam mais filhos. A avó previra sua chegada e sonhara que seria ela quem repararia as mágoas do passado. Para a mãe, a filha significava o fim da sua solidão. Para o pai, o “velho catequista”, não havia espaço para ela, afinal, a família já estava completa. Um novo membro àquela altura só poderia ser a reencarnação de um morto que voltava para executar uma vingança. Mas o que mais espantou a todos quando a pequena Beatriz nasceu foram seus olhos. Olhos enormes, olhos de coruja. Para que olhos daquele tamanho? Não havia mais nada nesse mundo para ser visto. Seus antepassados já haviam visto tudo, as guerras já tinham se encarregado disso. Por isso, sobre seus olhos foram colocadas vendas pretas. Vendas que foram feitas para escondê-las dos olhos alheios, mas que a impediram de ver o mundo.
De certa forma, a história de Beatriz nos conta também a história do Timor Leste. Os olhos de Beatriz se abrem para fitar os olhos de gato bravo e esse momento coincide com o despertar de Timor Leste, com sua independência de Portugal, em 1975 (independência que só se tornou efetiva em 2002, após décadas de conflitos após a invasão da Indonésia). Acredito que não consegui perceber muitos pormenores do livro por não conhecer bem essa história, mas aprendi muito sobre o país, principalmente sobre seu povo.
Quando vi que havia sorteado um país de língua portuguesa, fiquei bem feliz achando que seria fácil encontrar um livro de lá. Só que, apesar de o português ser uma das línguas oficiais de Timor Leste, hoje ele é falada pela minoria da população. Luís Cardoso talvez seja o primeiro autor timorense de língua portuguesa. Ele rejeita o título, mas é sem dúvidas um excelente representante do Timor Leste mundo afora. Um de seus livros, Requiem para o navegador solitário, foi publicado no Brasil. Eu gostei tanto do livro que li que com certeza lerei outras obras de Luís Cardoso!
Olhos de Coruja Olhos de Gato Bravo foi publicado em Portugal em 2002, pela Publicações Dom Quixote.
Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.
Uau! Acabei de terminar o livro e to aqui pensando nas frases e tentando decifrar os pedaços. Que história interessante.
Fiquei com muita pena da Beatriz escondida sob um pano preto, fiquei pensando em tudo que ela deixou de ver fiquei com um pouco de raiva do padre. Adorei!
É um livro pequeno, mas intenso, né Marina? Eu li e reli algumas partes para tentar desvendar a história, mas sei que muita coisa me escapou por eu não conhecer bem a história do Timor Leste. Ainda assim, também adorei o livro!
Marina, eu não conseguia deixar de pensar porque ela não abria os olhos, pelo menos na hora do banho. Mas não dá para querer racionalizar, senão você não viaja na história, porque ela é toda surreal.
Oi Camila! Li O Requiem, do Luis Cardoso!
Percebi que agora sou fã desse autor e já coloquei na lista mais alguma coisa dele! A história é narrada por Catarina, uma chinesa que vai ao Timor, pois foi prometida noiva do capitão do porto, e lá espera encontrar o amor da sua vida, o navegador solitário. O livro não é sobre a guerra! Trata do desenrolar da vida de Catarina, de tudo o que se tornou a vida dela lá, mas bem no finalzinho, o livro traz a invasão dos japoneses! Pois bem, eu sou péssima pra escrever! hehe Quem é ótima em resenhas é você, então, se um dia você ler esse livro, conta! :) Beijos!
Que legal, Lucimara! Eu com certeza ainda lerei outros livros dele, mas vai ter que ser depois do #198livros. Você viu uma entrevista dele em vídeo no site da Saraiva? É bom para darmos sotaque aos livros enquanto lemos. ;-)
Eu também vou deixar pra depois, porque tenho muitos outros na frente! É livro que não acaba mais! Eu vi a entrevista sim e achei uma graça!
Camila, quando cheguei lá pela página 100, a minha curiosidade cresceu de um jeito, que eu não consegui desgrudar do livro. Confesso que me confundi um pouco com os vivos e os mortos e a própria crença que de lá eu não conheço praticamente nada. Mas a Beatriz prendeu minha atenção e também me deixou agoniada com a venda preta nos olhos! Gostei bastante desse romance! Sem dúvida eu quero ler mais livros desse autor. Obrigada por compartilhar! Beijos!
Lucimara, eu tive que reler algumas partes para me situar também, mas a vontade era de ler num fôlego só! Muito bom, né? Há alguns exemplares do Requiem para o navegador solitário na Estante Virtual. Se você ler antes de mim, me conta o que achou! :-)
Acho que nesse livro a personagem é a Catarina né? Vi alguma coisa sobre…
Vou lá na Estante pegar um pra mim e se eu conseguir ler antes, te conto sim! Beijos.
Camila, eu até fiz contato com a Dom Quixote, e me informaram que o livro está indisponível e fora do catálogo. :(
Lucimara, eu tive muita sorte e consegui comprar o único exemplar do livro disponível na Estante Virtual. Ele veio até com o carimbo da livraria em Lisboa. Mas ó, vou te mandar um e-mail, tá? :-)
Então, eu procurei na estante e nas demais livrarias hehe, e por isso resolvi te perguntar! Ok, aguardo! Bjs
Camila, acabei de encontrar um exemplar na estante virtual! Como eu gostei tanto, quero colocá-lo na minha estante! :)
Então apareceu mais um exemplar por lá? Quem é que teve coragem de se desfazer dele??? rsrs
Pois é! Por um lado achei ótimo, pois assim eu consegui ele hehe!
Oi Camila! Fiquei com vontade de ler! Você conseguiu comprar esse livro?