Confesso que meu conhecimento sobre o mundo islâmico é bastante limitado. É até fácil entender essa ignorância, pois há poucos muçulmanos no Brasil, só que isso acaba dando espaço para preconceitos. Somos bombardeados constantemente por visões negativas de tudo que diz respeito ao Islamismo. Somos levados a acreditar que todo muçulmano é um fanático religioso e um potencial homem-bomba. O #198livros tem me ajudado a conhecer melhor esse mundo e a desmitificar essa visão. Quando procurei o livro do Uzbequistão e encontrei um cuja descrição dizia que se tratava da história de um poeta que se tornou um terrorista “aos olhos do mundo”, não tive dúvidas de que eu aprenderia muito com ele.
A Poet and Bin-Laden, do escritor uzbeque Hamid Ismailov, não é um leitura fácil. A trajetória fictícia do poeta Belgi é contada paralelamente a relatos de fatos reais. São trechos de documentários, entrevistas, reportagens que nos contam sobre a ascensão do fundamentalismo islâmico no Uzbequistão e nos países vizinhos na Ásia Central. Não há uma sequência cronológica e é difícil acompanhar a profusão de personagens e fatos históricos, mas valeu a pena insistir na leitura para entender melhor esse cenário. A política de repressão ao islamismo do presidente Islam Karimov, no poder há mais de 20 anos, parece ter criado um terreno fértil para o fortalecimento do jihadismo, uma “guerra santa contra os infiéis e sobretudo contra o império Satânico – os EUA”.
A vida de Belgi muda quando seu irmão mais novo Sher, de apenas 18 anos, morre na prisão após ser acusado de extremismo religioso e de atividades anti-constitucionais (ele praticava o Sufismo). A versão oficial diz que Sher suicidou-se, mas Belgi não acredita nisso, principalmente pelas marcas que ele percebe no corpo do irmão. Até então, Belgi não acreditava que o governo de seu país fosse capaz de sustentar essas mentiras, mas a partir daí sua opinião muda. Atormentado pela morte do irmão, ele parte com dois amigos para o Tajiquistão em busca de um famoso mestre de uma ordem sufista da qual seu avô fez parte. E é essa viagem que muda tudo e acaba levando Belgi para as montanhas do Afeganistão, onde ele supostamente morreu lutando ao lado do Talibã.
O livro nos ajuda a destruir alguns estereótipos ao nos apresentar muitos jovens que se juntaram à guerrilha por motivos não-religiosos. O governo ditatorial é um motivador, mas alguns foram capturados e obrigados a entrar para a guerrilha, outros eram jovens pobres que queriam ganhar algum dinheiro e fugir da miséria. Cada um entra por motivos diferentes, mas parece que ninguém consegue sair. Nós sabemos como Belgi entrou nesse mundo, mas não sabemos o que ele realmente pensava, pois não temos seus relatos em primeira pessoa. Tudo o que temos são seus versos e os depoimentos de quem estava ao seu lado em alguns momentos. De certa forma, cabe ao leitor julgar o verdadeiro caráter de Belgi.
Eu não indicaria esse livro para qualquer um. Como eu disse, não é uma leitura fácil. Muitas pessoas provavelmente o deixariam pela metade, mas para quem se interessa pelo assunto é um livro e tanto. Fiquei bem satisfeita com a minha escolha e com o que eu aprendi.
No final do livro há a transcrição de uma história que o narrador acredita ter sido escrita por Belgi, sobre a família do idealizador do Taj Mahal. Confesso que estou até agora tentando entender qual era a intenção do autor com isso… Quanto ao título do livro, não se deixe enganar! Acho que a inclusão de Bin-Laden foi apenas uma estratégia de marketing. Ele aparece muito rapidamente, é praticamente um figurante. ;-)
A Poet and Bin-Laden foi publicado originalmente em russo, em 2005, e em inglês em 2012, pela Glagoslav Publications. A tradução é de Andrew Bromfield e Richard MacKane.
Mais alguns livros de autores uzbeques:
- The Railway, Hamid Ismailov
- The Silence of the Sufi, Sabit Madaliev
- The Dancer from Khiva, Bibish
Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.
Oi Camila! Você é responsável por minha lista de livros estar cada vez maior! Não vou conseguir terminar de ler tudo nessa vida! :) Obrigada por compartilhar! Bjs
Lucimara, imagine então o tamanho da minha lista! Era já era enorme. e a cada livro que escolho ficam mais alguns para depois. Ao fim desses projeto minha lista será infinita! rsrs Mas isso é bom! Triste mesmo seria ficarmos sem livros para ler.
Nossa Camila, isso é maravilhoso! Eu queria ler um livro por dia, mas infelizmente não consigo. Boas leituras pra todos nós!rsrs
Posso me sentir porque você disse que não indicaria para todo mundo, mas disse que eu ia gostar? Eh mesmo um assunto que me interessa, Ca! Vou logo procurar pra ver se o encontro por aqui. Volto depois para deixar as minhas impressões.
bjim!
Pensei mesmo em você, Mi! Sei que você gosta de temas políticos/religiosos. Vou torcer para que você goste!
Camila,
Também acho que a leitura do livro não foi fácil, mas valeu a pena!
Fiquei perdida com a inclusão daquele texto, supostamente de Belgi, no fim do livro :-( Fiquei com a sensação de que precisaria saber mais sobre a história da região para ligar os pontinhos… Considerando que uma coisa tenha relação com a outra!
Que alívio saber que não fui a única a não entender a história no final! rsrs Bom, mas deve ter alguma relação com o livro. Vamos esperar a Carla ler o livro, quem sabe ela não desvenda o mistério? ;-)
Dona Carla Detetive vai tentar desvendar o mistério, rsrsrs… Só fico com pena de estar tão atrasada em relação a vocês e fazê-las esperar tanto tempo!
A gente espera, Carla! Seus comentários são preciosos. :-)
Olha, tô apostando que a D. Carla Detetive vai matar a charada de primeira! :-) É muita sorte a nossa poder contar com os seus comentários!
Oi meninas estava esperando terminar o livro para poder me manifestar. Também achei a leitura do livro difícil, mas muito interessante. Minha teoria a respeito da história no final do livro, supostamente escrita por Belgi, é a de que talvez ele tenha querido mostrar(ou justificar)que muitas vezes o destino pode dar um novo rumo para as nossas vidas nos fazendo reféns dele, e das nossas escolhas. Na história do final, o imperador Shah Jahan, escreveu na carta que foi interceptada que o poder da espada era maior do que o da pena.E assim, Dara Shukuh, o filho poeta foi derrotado e perdeu o trono e a vida para Aurangzed, o filho guerreiro, porque investiu mais na vida espiritual e intelectual do que nas táticas de guerra. Assim como Aurangzed, apesar de vitorioso na guerra, no final da vida, meio que se arrepende de suas maldades, e pensa que se o pai não tivesse favorecido tanto Dara, o filho predileto, a história não teria terminado do jeito que terminou. E assim como a maioria dos personagens, parece que não tiveram muita ingerência em suas vidas, assim como na história em que Belgi foi protagonista. Talvez esteja voando, mas foi o que me passou.
Nossa, Ana! Eu não consegui ver tudo disso. Mas confesso que li a história meio com preguiça, com uma sensação de que ela estava fora de lugar, sabe? Fiquei até com vontade de reler para prestar mais atenção nas entrelinhas.
Oi Camila, tudo bem?
Venho acompanhando seu blog assim como vários outros, mas esse post sobre literatura em específico vem me chamando atenção e esse livro que você recomendou é de grande interesse, estou lendo várias coisas sobre alguns países, e esse livro me deixou intrigado. Espero novas sugestões, que cada vez mais estão interessantes.
Abraços: William / facebook.com/williamwinwill
Oi, William! Espero que você descubra mais livros interessantes por aqui! É claro que há tenho meus preferidos, mas cada um desses livros tem me ensinado muitas coisas! Se você ler “A Poet and Bin-Laden”, volte aqui para me dizer o que achou, viu?