Quando estávamos planejando a viagem para Portugal, a Margarida nos deu algumas dicas de roteiro. Não tivemos tempo para seguir todas, mas foi ela quem nos recomendou ir a Nazaré e Aveiro, por exemplo, duas cidades que eu adorei. Eu tinha planejado passar duas noites em Coimbra, mas ela, moradora da cidade, disse que seria muito e que um só dia seria suficiente para vermos o principal. Me desculpe, Margarida, mas terei que contar a verdade aos leitores do blog: você me enganou! Sua modéstia te fez subestimar o potencial turístico da sua cidade! Hoje posso dizer com certeza que ela tem atrações para muito mais que um dia.
Coimbra é uma cidade adorável, uma perdição para quem gosta de patrimônio histórico, como eu. Suas ruas exalam história e não é à toa. Coimbra já foi a capital de Portugal e ainda hoje é uma das maiores e mais importantes cidades do país. Chegamos lá de ônibus, vindo de Óbidos, por volta das 13h, e caminhamos até nosso hotel. Fizemos check-in, deixamos a bagagem no quarto e saímos para passear. Nosso primeiro destino foi a atração mais famosa da cidade, a Universidade de Coimbra, que acaba de completar 724 anos! Eu não disse que Coimbra é cheia de história? E nós somos até um pouco familiarizados com ela, afinal, quantos de nossos políticos, escritores e intelectuais não estudaram nessa universidade no período colonial? Sua entrada principal é pela Porta Férrea, um portal de face dupla que homenageia as quatro faculdades originais da Universidade e os reis que tiveram mais influência em sua história: D. Dinis, seu fundador, e D. João III de Portugal, que a transferiu definitivamente de Lisboa para Coimbra, em 1537.
Cruzando o portão, nos deparamos com o Paço das Escolas, ao redor do qual ficam as principais construções da universidade. Uma estátua de D. João III, mais uma vez homenageado, dá as costas à cidade, da qual se tem uma ótima vista dali.
Mas a maior atração estava atrás de uma dessas portas. Era a Biblioteca Joanina, um prédio de 3 andares que abriga mais de 200 mil volumes, a maioria com algumas centenas de anos. Ela é considerada uma das mais belas bibliotecas do mundo e estando lá é fácil entender o porquê. Só não consigo decidir qual a minha preferida, se a biblioteca de Coimbra ou a do Convento de Mafra. Cada uma é linda à sua maneira. A Joanina é mais rica, suntuosa, cheia de detalhes em ouro. A de Mafra é austera, mas imponente. Em ambas, parte da manutenção do acervo é feita por morcegos que se alimentam dos insetos que poderiam danificar os livros (as crianças adoram ouvir esse detalhe). As visitas são guiadas e fotos internas são proibidas, mas havia uns visitantes tão descarados fotografando com flash sem que ninguém falasse nada que eu arrisquei uns cliques inofensivos com o celular.
O bilhete de acesso à biblioteca inclui ainda outros cômodos importantes da universidade, como a Sala dos Capelos, utilizada em cerimônias, e a antiga Prisão Acadêmica. Para conferir informações atualizadas sobre preços e horários, visite o site oficial.
Terminado o passeio pela Universidade de Coimbra, continuamos andando pela parte alta da cidade e passamos pela Sé Nova, que de nova não tem nada, já que foi construída no século XVII. Quase ao lado fica o Museu Nacional de Machado de Castro, localizado no antigo Palácio Episcopal. É um dos principais museus de belas artes de Portugal, mas como essa não é muito nossa praia e não tínhamos tempo sobrando, não entramos.
Não precisamos andar muito para chegar à Sé Velha, construída em estilo românico no século XII. Essa sim faz jus ao nome que tem! Começamos a avistá-la pela parte de trás, enorme, imponente, antiga! Sua fachada principal é até bem discreta em relação ao conjunto. Apesar de ter sido pouco alterada ao longo dos séculos, ao contornar a igreja a gente percebe detalhes mais recentes e destoantes na construção, como a Porta Especiosa, em estilo renascentista, acrescentada ao prédio no século XVI.
Foi por ali que Coimbra começou a me conquistar. Eu adoro construções históricas, mas elas sozinhas não passam de um parque de diversões. E Coimbra não é só isso. Ela é uma cidade viva, com alma. Nas proximidades da universidade, cada curva me revelava uma surpresa: cantinhos delicados ou as marcas de uma juventude inconformada. Mesmo os lugares que pareciam meio abandonados e decadentes tinham seus encantos.
Depois dessas andanças pela parte alta, descemos para explorar a parte baixa de Coimbra. Um bom ponto de partida é o Largo da Portagem, às margens do Rio Mondego. Lá começa a Rua Ferreira Borges, uma deliciosa rua comercial exclusiva para pedestres. Além de procurar por pastelarias por ali, vale a pena ficar de olho na arquitetura dos prédios da região. Impecáveis! Um charme só!
Descendo essas escadinhas da foto aí em cima a gente chega à Praça do Comércio, onde fica a Igreja de Santiago, construída no século XIII. No século XVI sua estrutura foi profundamente alterada quando construíram sobre ela uma nova igreja. Em 1932 foi concluído um processo de restauração que tentou lhe devolver suas feições medievais, mas não foi possível fazê-lo por completo, pois parte da construção havia sido destruída quando a avenida que passa atrás dela foi alargada. Quanta história para uma igreja tão pequena, né?
No ponto em que aparece a Igreja de Santiago, a Rua Ferreira Borges transforma-se na Rua Visconde da Luz, mas mantém o mesmo estilo: uma rua comercial para pedestres. E ela desemboca na Praça 8 de Maio. O bom é que de praça em praça a gente ia fazendo umas paradas e assim nem dava tempo de ficar cansado.
Na Praça 8 de Maio fica mais uma construção religiosa de Coimbra, o Mosteiro de Santa Cruz. A igreja não é a mais antiga da cidade, mas é uma das mais importantes, pois abriga os túmulos de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal (o que nasceu em Guimarães, lembra?), e de D. Sancho I, seu filho e segundo rei. Nós não conseguimos ver os túmulos, pois estivemos na igreja bem no horário de uma missa. Atrás da igreja fica o Jardim da Manga, um pequeno conjunto de capelas e fontes de água construído posteriormente no espaço do convento.
À noite nos encontramos com Margarida, Luis e Francisco, a família portuguesa mais simpática que eu conheço (converso com a Margarida há séculos e nos encontramos pela primeira vez em Estocolmo, em 2011, por pura coincidência). Por pouco não ocorreu um desencontro, pois eles embarcariam na manhã seguinte para Londres! Jantamos no Restaurante Giuseppe & Joaquim, cujas especialidades seu nome já entrega: comidas italiana e portuguesa. Ótimo para mim, já que a culinária tradicional portuguesa não é lá muito apropriada para vegetarianos. E depois eles ainda nos levaram por um tour pela cidade, tão linda à noite quanto durante o dia. Com a companhia que tínhamos, ela ficou ainda mais especial!
Na manhã seguinte ainda tínhamos algumas horas antes de pegar o trem para Porto. O dia amanheceu chuvoso, mas saímos andando a pé mesmo assim. Nossa caminhada pelo Parque Verde do Mondego estava perfeita para encharcar os pés, mas tinha gente lá praticando exercícios! Atravessamos o Rio Mondego pela Ponte Pedro e Inês, exclusiva para pedestres e ciclistas. Nesse trajeto tínhamos uma vista linda de Coimbra e foi aí que bateu aquele sentimento de “quero morar aqui”, sabe? E eu não sinto isso em qualquer lugar, não!
Do outro lado do rio, chegamos ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, reaberto em 2009 após uma restauração. Isso porque o mosteiro, fundado em 1330, foi sendo alagado ao longo dos anos, chegando ao século passado em ruínas. Nós queríamos visitar seu museu, mas quando passamos por lá ainda estava fechado. Tivemos que nos contentar com o que vimos de longe.
Seguimos então para Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, construído no século XVII para substituir o velho quando ele começou a ser inundado. Por precaução, ele foi construído em um terreno mais alto, por isso nós tivemos que subir um morro para chegar até ele. O templo é dedicado à Rainha Santa Isabel, a fundadora do mosteiro original. É lá que estão seus restos mortais.
Nossa hora de ir embora já ia chegando e confesso que segui para a estação de comboios com um aperto no peito. Mesmo com o tempo feio, Coimbra continuava linda. Um dia foi pouco para conhecê-la como se deve, mas foi tempo suficiente para ela ganhar meu coração. Então, Margarida, pode esperar, porque com certeza irei voltar! :-)
Boa noite.
Somos do Brasil e
viajaremos para Portugal, Santa Clara Velha em maio e gostaríamos de
saber a melhor maneira (e também mais barata) de ir até Madrid, Espanha.
Pergunto-lhe pois ao mesmo tempo que seria muito
interessante viajar de trem para contemplar as belíssimas paisagens, o
valor da passagem saindo do Aeroporto de Faro (mais próximo de Santa
Clara) é muito mais caro do que as passagens de avião saindo de Lisboa.
Assim,
qual seria a melhor opção? Ir de trem até Lisboa e de lá tomar um avião
(barato) até Madrid ou ir direto de trem ou avião até Madrid?
Muitíssimo obrigado!
Ficaria muito grato com a resposta!
Fernando, infelizmente não posso te ajudar, pois nunca fui à Espanha. Só sei que os trens são mais eficientes no norte de Portugal do que no sul.
COIMBRA É LINDA NA VERDADE PORTUGAL É UM PAÍS LINDO, SENSACIONAL COM UM POVO ACOLHEDOR CLARO QUE MAIS BONITA E AGRADÁVEL QUE A CIDADE DE SANTOS/SP NO BRASIL NÃO TEM, RS…
Camila querida, adorei o post! Obrigado pelas sua palavras sobre nós e sobre a nossa Coimbra! :-)… Que bom que a vida nos permitiu conhecer vc e o Eduardo, um casal tão especial… têm que voltar,sim! E para ficar mais tempo… :) …por que eu, realmente, não tinha razão! :-)
Obrigada você pelas palavras e pelo carinho de sempre, Margarida! Portugal foi uma viagem maravilhosa para nós e ter amigos como vocês aí tornou tudo ainda mais especial! Mas, não sei porque, desconfio que nosso próximo encontro acabará sendo em Londres. ;-)
Beijos!
Parece encantadora, Camila! Adoraria fazer um pouco desse seu roteiro um dia…
Um beijo!
Ah, Emilia, Portugal é um país todo encantador! Eu fiquei realmente apaixonada!
Mais uma das belas cidades portuguesas que merecem uma visita!
Para a próxima visite também a Quinta das Lágrimas!
ps: desculpe mas não resisto em partilhar este belo video sobre Coimbra :)
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=JHRJ7Fc4RVs
Vídeo lindo, Tânia! Fiquei com ainda mais vontade de voltar a Coimbra e ver a cidade ensolarada. E o engraçado é que o que ela fala de Coimbra é parecido com o que escrevi! Obrigada pelo link!
Ainda bem que gostou!! :) O turismo de Portugal costuma realizar todos os anos bons vídeos de promoção de Portugal, aqui estão os de 2013: http://umolharviajante.blogspot.pt/2014/03/escolha-portugal.html
Só passei 1 dia na cidade, aliás menos do que isso e estava chovendo… Conclusão = não tenho nenhuma foto decente!
Que pena, Fernanda! Você viu que também não pegamos tempo muito bom lá, né? Mas mesmo assim Coimbra estava linda!