Partimos da Estação de São Bento, no Porto, às 10h20 da manhã. Compartilhando o vagão do comboio conosco ia um grupo de escola, crianças e adolescentes acompanhados dos professores, uma cena bem comum em Portugal durante o período letivo. As meninas mais novas iam cantando em coro para ajudar a passar o tempo. A música que mais se repetia era Girl on Fire, de Alicia Keys, que elas entoavam em um inglês perfeito (é por isso que, ainda hoje, eu me lembro de nossa viagem toda a vez que a ouço). Uma hora e treze minutos depois, desembarcamos em Guimarães, o berço de Portugal.
Guimarães ostenta esse título por ser o local de nascimento de D. Afonso Henriques, o fundador do Reino de Portugal, em 1139, e primeiro rei do país. A cidade soube preservar o seu passado memorável e seu Centro Histórico é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.
Da estação de trem, atingimos o centro histórico em uma caminhada de cerca de 5 minutos. No caminho para as principais atrações já começamos a nos deparar com as riquezas de Guimarães: casarões medievais restaurados e ruelas tortuosas que desembocam em pátios convidativos cercados por restaurantes e cafeterias.
Logo chegamos à Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, um dos pontos mais fotogênicos da cidade. Sua história é remota. Ela teria sido construída há mais de mil anos pela Condessa Mumadona Dias para sediar um mosteiro, mas é claro que o que vemos hoje é uma construção que foi bastante modificada ao longo dos séculos. No largo em frente à igreja, fica o Padrão do Salado, um monumento em estilo gótico erguido por D. Afonso IV em comemoração à vitória dos cristãos sobre os mouros na Batalha do Salado, em 1340.
Continuando nossa caminhada, passamos pelos Antigos Paços do Concelho e pelo Convento de Santa Clara, no Largo Cónego José Maria Gomes, onde hoje funciona a Câmara Municipal de Guimarães. Nosso caminho foi pela Rua de Santa Maria, uma das mais antigas de Guimarães, aberta para ligar a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira ao Castelo.
Por falar em Castelo, era para lá que nos dirigíamos. O Castelo de Guimarães foi construído originalmente no século X pela Condessa Mumadona Dias, que, após a criação do mosteiro, queria proteger a comunidade cristã dos ataques dos mouros. Mas foram os pais de D. Afonso Henriques que dois séculos mais tarde ampliaram o castelo dando-lhe uma cara mais parecida com a que vemos hoje. E é daí que surge a idéia de que no interior de suas muralhas nasceu o primeiro rei de Portugal. Depois de muitos anos de abandono, apenas as parte externa e as torres estão de pé. Quando estivemos lá, há quase um ano, o castelo passava por reformas e por isso não pudemos subir nas torres.
Praticamente ao lado do Castelo fica a Capela de São Miguel, pequena e simples, mas que abriga uma pia batismal carregada de simbolismo para os portugueses, pois acredita-se que tenha sido nela que D. Afonso Henriques foi batizado.
Não precisamos andar muito para chegar ao Paço dos Duques de Bragança, esse sim um castelo como a gente costuma imaginar. O que vemos é uma reconstrução do palácio construído em 1401 por D. Afonso, Duque de Bragança e filho bastardo do rei D. João I. Um século após sua construção, o palácio foi abandonado até se transformar em ruínas. Entre 1937 e 1959, foi desenvolvido um trabalho de reedificação que o colocou em pé novamente e o recheou com móveis e objetos históricos para servir de residência presidencial para Salazar. Hoje é um museu aberto ao público. Um dos destaques é o conjunto de peças de tapeçaria que retratam as conquistas portuguesas no norte da África. Nas salas do térreo também há exposições interessantes.
Depois dessa andança toda, já era hora de recarregarmos as baterias. Almoçamos no restaurante Flor de Tangerina, que fica em frente ao Paço dos Duques, sobre o qual eu já falei aqui e recomendo!
Após o almoço, começamos nosso caminho de volta, parando para nos aquecer sob o sol nas diversas praças espalhadas pela cidade. Nossa última parada foi o Largo do Toural, um dos principais pontos da cidade. Quase ao lado fica o Largo da República do Brasil. Nessa área, as construções medievais dão lugar a prédios tipicamente revestidos de azulejo que surgiram num projeto de renovação da praça no século XVIII. Esse mesmo projeto fez com que retirassem do Largo do Toural o chafariz ali construído em 1583 e o levassem para o Largo Martins Sarmento, onde fica o restaurante em que almoçamos. Em 2011, o chafariz retornou para seu local original e hoje convive lado a lado com as construções mais recentes (e que já são também antigas!).
Em poucas horas é possível conhecer os principais pontos turísticos de Guimarães. Muita gente aluga um carro e faz um passeio a Braga e Guimarães no mesmo dia. É possível, mas com certeza mais corrido. Além de preferirmos andar de transporte público, nós gostamos de passear com calma, de sentar nas praças para observar o vai e vem das pessoas, de tomar um sorvete sem pressa pelo caminho, por isso reservamos um dia para cada cidade.
Ir até Guimarães de trem a partir de Porto é muito fácil. Os comboios partem das estações São Bento e Campanha a cada uma ou duas horas. A viagem dura pouco mais de uma hora. O bilhete custa €3,10 por trecho. Só fique de olho para comprar o bilhete Urbano, pois o Intercidades é bem mais caro! Consulte os horários e os valores atualizados no site dos Comboios de Portugal. O trajeto de trem só é meio chatinho porque há muitas paradas no caminho (contei 20!), então um livro e uma música para ajudar a passar o tempo pode ser uma boa idéia.
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Gostei do castelo, mas foi praticamente a única atração que visitei na cidade, em 2001! Dormi em um hotel com vista para ele!
Que legal que você dormiu lá, Fernanda! Eu sempre fico com vontade de passar uma noite nas cidades para sentir a atmosfera noturna!
Passar um dia e uma noite em Guimarães depois de conhecer, passou a ser para mim uma daquelas experiências a aconselhar fazer pelo menos uma vez na vida! Muitos são os que fazem de Guimarães uma viagem de “bate-e-volta” do Porto como você, mas Guimarães merece um pouco mais, se tiver oportunidade volte e aproveite a sua noite principalmente na Praça de S. Tiago
Tânia, eu bem que queria ter passado uma noite em Guimarães, uma em Batalha, outra em Braga… Mas infelizmente o tempo não era suficiente para conhecer tão bem cada uma das cidades. Por isso morro de vontade de voltar a Portugal!