Pouca gente sabe, mas religião é um assunto que me interessa. Mas não sou nenhuma estudiosa, só uma mera curiosa. Na época da faculdade li alguns livros sobre religiões que me ajudaram a desfazer muitos preconceitos. A maioria eram leituras genéricas, como A Viagem de Théo, de Catherine Clément, e O Livro das Religiões, que tem Jostein Gaarder como um dos autores. E foi em um desses livros que eu ouvi falar pela primeira vez dos dervixes. Desde então eu sonhava em vê-los de perto. Quando a Turquia apareceu como uma escala na nossa viagem para o Sudeste Asiático, eu não tive dúvidas: eu tinha que ver os dervixes em Istambul!
Os dervixes são praticantes do sufismo que veem na dança uma forma de comunhão com Deus. E o sufismo é uma vertente dos islamismo geralmente descrita como mística. Mas não é tão simples assim, pois o sufismo, assim como o islamismo, tem diversas correntes. Em comum está o fato de os sufistas acreditarem em um contato direto com Deus. Cada um é livre para praticar essa comunhão, que pode se dar através da música ou da dança, por exemplo. O sufismo não nega a doutrina muçulmana, mas, por defender uma filosofia mais liberal, não é visto com bom olhos pelo fundamentalismo islâmico, sendo proibido em vários países. Mas o engraçado é que não só muçulmanos implicam com o sufismo. Ataturk, o presidente que pretendia ocidentalizar a Turquia no início do século passado, declarou a prática sufista ilegal. E o livro do Uzbequistão que li para o #198livros também falava da perseguição aos sufistas no país.
Mas o que importa aqui é o sufismo turco hoje! Na Turquia, a ordem sufista mais comum é a Mevlevi, fundada pelos seguidores de Mevlana, um poeta que viveu no século XIII. Os dervixes turcos pertencem a essa ordem. A dança dos dervixes é chamada Sema e ela é executada nos tekkes, os locais onde os sufis se reúnem. Como era algo de que eu fazia questão, pesquisei bastante para escolher o melhor lugar para assistir à cerimônia. O mais indicado parecia ser o Galata Mevlevi Museum, onde as cerimônias acontecem aos domingos. Nós iríamos embora de Istambul no domingo à noite, mas eu estava disposta a ir lá antes. Só que, numa das nossas primeiras caminhadas em Istambul, no dia antes, passamos pela Estação de Trem de Sirkeci e vimos que haveria apresentação naquela noite. Preferimos garantir, pois ficamos com medo de algo dar errado no dia seguinte e acabarmos perdendo a chance.
Chegamos com uns minutos de antecedência e sentamos em nossos lugares. Antes de começar, foram servidos chás fumegantes que vieram bem a calhar naquela noite fria. Depois os músicos começaram a tocar e a cantar. Fiquei esperando os dervixes entrarem e demorei a perceber que ainda não era a hora deles. Era a vez da música sufi, uma música linda, profunda. Fechei os olhos e me deixei envolver, mesmo sem entender o que dizia a letra.
Quando já havíamos entrado no clima místico, embalados pela música apaixonante, os dervixes começaram a entrar no salão. De olhos semi-fechados e em silêncio eles ocuparam seus lugares.
Depois de um ritual repleto de simbolismo, eles retiraram as mantas pretas e começaram a rodopiar pelo salão. Foi hipnotizante! No início eu não sabia se olhava para os pés, para o balanço perfeito das saias ou para os braços dos dervixes. Eu queria prestar atenção em tudo para reter aquele momento, mas logo percebi que a beleza estava no todo e que eu não precisava me prender a detalhes.
Havia breves pausas, mas logo a dança recomeçava. A cerimônia durou cerca de uma hora. No final eles se retiraram tão discretamente como entraram e nós saímos da estação também silenciosamente, ainda tentando assimilar o que tínhamos visto e sentido.
Contando assim, parece que estávamos em um ambiente propício à contemplação, né? E até seria, caso não houvesse por lá uma pessoa sem noção. Quase todos tiravam fotos, mas sentados em seus lugares, discretamente. Só que uma mulher andou o tempo todo ao redor do salão, se posicionando inclusive atrás dos músicos, e tirando fotos super barulhentas com flash! É muita falta de bom senso! Tudo bem que aquilo ali é uma espécie de espetáculo, já que é aberta ao público, mas é também uma cerimônia religiosa e exige respeito. E os demais presentes também merecem respeito. Espero que vocês tenham mais sorte do que eu e não esbarrem em uma turista sem noção quando estiverem por lá.
Para fechar o assunto com o astral que ele merece, fica aqui um pequeno vídeo que fizemos mostrando alguns momentos na cerimônia. O som é mais baixo no início, então não aumente ou você poderá levar um susto depois. :-)
DERVIXES EM ISTAMBUL – INFORMAÇÕES PRÁTICAS
Há um site em que você pode fazer a reserva antecipada para assistir à cerimônia em qualquer um dos lugares em que ela ocorre, mas as informações são meio confusas e não sei dizer se o formulário de reserva realmente funciona. De qualquer forma, acho que é o lugar mais indicado para entrar em contato e sanar eventuais dúvidas. No Galata Mevlevi Museum (Galipdede Caddesi, 15) as semas acontecem aos domingos às 17h. Na Estação de Trem de Sirkeci parece que é diariamente, às 19h30. É melhor comprar com antecedência. Nós compramos à tarde e recebemos tickets numerados que nos garantiram lugares na primeira fileira; são só duas, mas faz diferença, principalmente para tirar fotos. Pagamos 50 TL por pessoa em novembro de 2013.
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Oi! Tentei assistir o vídeo mas não está disponível. Poderia colocar novamente? Muito obrigada! E obrigada pelo seu lindo relato :)
Oi, Ana! Acho que agora você conseguirá ver.
Que coisa LINDA Camila! Embarcando para Istambul amanhã e depois do seu post, a dança dos dervishes passou a ser um dos momentos mais esperando da viagem! Obrigada por compartilhar
É uma experiência linda, Mari! Principalmente se você não der o azar de assistir junto com uma pessoa sem noção! rsrs
Oi Camila, tudo bom? Estou pesquisando trechos da Europa com stoppover em Instambul. Porém o que aparece são apenas trechos com menos de 24 hrs, coisa de apenas pernoite. Como vc conseguiu permanecer mais tempo? mandei um email a Turkesh, mas nao tive resposta. Eles oferecem ate tour na cidade de graça, mas precisa-se o dia todo.
Transporte: Vc usou o metro no aeroporto? Tranquilo? Obrigada
Renata, não sei como é hoje, mas quando eu comprei a passagem o voo de Istambul a Kuala Lumpur não era diário, então ao comprar a passagem saindo do Brasil alguns dias antes, o stopover já estava garantido. Era tipo assim: eu colocava a saída daqui na segunda, chegava lá na terça e o próximo voo pra Kuala Lumpur era só na quinta, sabe?
Usamos o metrô para o aeroporto sim. Ele não ia até perto do nosso hotel, então descemos antes e pegamos o tram. Foi tão tranquilo que fizemos o caminho inverso pra voltar pro aeroporto também, às 6h da manhã, em pleno inverno, ainda escuro. rsrs
obrigada! Consegui falar com a cia area por tel e da sim! Adoro ter metro e trem em aeroporto.. facilita demais ne? Qual hotel vc se hospedou? Acompanhei sua viagem no insta! Que surpresas boas nessa regiao. `Parabens pelo planejamento e compartilhar. Esperando anciosa os relatos…
Eu já estou é com vergonha de não ter terminado de postar sobre essa viagem até hoje! Ah, como eu queria ter mais tempo para o blog… Ainda não postei sobre o hotel, né? Bom, era este aqui: http://www.booking.com/hotel/tr/agan.pt-br.html?aid=1763473 A localização é ótima e o hotel tem um bom custo-benefício.
Emiti hoje Istambul! Sooooo pro ano que vem, mas ok, tá emitido pelo menos rs. Vim ver o que tinha aqui pra ja colocar na lista do roteiro. Com certeza vou querer fazer isso =)
bjs,
Ufa! Ainda bem que é só ano que vem! Até lá já vou ter falado mais sobre Istambul aqui! rsrs Nossa passagem por lá foi tão rápida que eu acabei fazendo só o básico mesmo, mas já foi sensacional!
Lindo, Camila! Tenho certeza que também iria adorar :)
Eu ainda quero ver de novo, Liliana!