198 Livros: Bolívia – O Delírio de Turing

198 Livros - Bolívia Eu não fazia idéia da riqueza da literatura boliviana! Minhas pesquisas me apresentaram tantos escritores e livros contemporâneos que me pareceram interessantes! O que me entristeceu foi descobrir que muito pouco disso, quase nada, chega ao Brasil. São raros os livros bolivianos traduzidos para o português e eles não aparecem por aqui nem mesmo em espanhol. Felizmente já há muita coisa sendo publicada em versão digital, tornando o acesso mais amplo, mas no #198livros eu tenho que me ater aos livros que de alguma forma retratem o país de origem do autor, o que diminui bastante meu leque de ofertas. Pensando nisso, escolhi o escritor Edmundo Paz Soldán, autor de vários romances, e fiquei com um de seus livros publicados no Brasil: O Delírio de Turing. O Delírio de Turing - Edmundo Paz Soldán

O Delírio de Turing narra uma revolução virtual travada na fictícia cidade boliviana de Rio Fugitivo. De um lado temos a Resistência, um grupo de hackers comandado pelo jovem Kandinsky que ataca sites do governo e multinacionais como forma de luta contra a globalização e políticas neoliberais. Do outro temos a Câmara Negra, um órgão governamental secreto criado na década de 70, durante a ditadura, diante das ameaças à “segurança nacional” (para não dizer ameaça ao governo). Miguel Sáenz, também conhecido como Turing, era o maior decifrador de enigmas da Câmera Negra, mas, assim como o órgão em que trabalha, se tornou obsoleto em relação ao crime cibernético. Sua filha, Flávia, é quem parece estar mais antenada com o que acontece no mundo virtual, mas estaria ela do lado da Resistência ou da Câmara Negra?

O motivo da eclosão dos conflitos, que se espalham também pelas ruas de Rio Fugitivo, é o aumento da tarifa de energia elétrica, acompanhado de frequentes apagões. O episódio talvez seja uma referência aos protestos que ocorreram em Cochabamba contra a privatização do sistema de água, em 2000. O serviço de energia em Rio Fugitivo é oferecido pela multinacional Globalux, o tipo de empresa que a Resistência despreza. Pela primeira vez, pobres e ricos se unem para protestar por uma causa comum. À medida em que os protestos nas ruas se intensificam, o embate entre a Resistência e a Câmara Negra também ganha força. Um suspense para não nos deixar tirar os olhos do livro!

Apesar de ter sido publicado há mais de 10 anos, O Delírio de Turing é mais atual do que nunca. Conflitos cibernéticos aumentam a cada dia e não há dúvidas de que hoje o meio eletrônico é o grande detentor de informações — Edward Snowden e WikiLeaks são provas disso. Foi interessante ver esse contexto sendo explorado na Bolívia, onde o povo é acostumado a ir para as ruas exigir seus direitos. Edmundo Paz Soldán consegue transmitir esse sentimento ativista no livro, ao mesmo tempo em que expõe alguns problemas de seu país, principalmente a desigualdade social.

O Delírio de Turing levanta várias questões interessantes a respeito de política, tecnologia, consumismo, liberdade e até mesmo de relacionamentos pessoais. Foi meu primeiro contato com a literatura boliviana, mas com certeza não será o último. E vou torcer para que as editoras brasileiras se interessem por ela e publiquem mais traduções por aqui. Os leitores brasileiros só tem a ganhar!

O Delírio de Turing foi publicado originalmente em espanhol, em 2003, e no Brasil em 2010, pela Editora Record. A tradução é de Bernardo Ajzenberg.

Mais alguns autores bolivianos:

  • Giovanna Rivero
  • Wolfango Montes
  • Ramón Rocha Monroy
  • Cé Mendizábal
  • Claudio Ferrufino
  • Juan de Recacoechea

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

12 Comments

  1. Lucimara Busch

    Meninas, aqui eu vou acompanhar a Carla e ler o Palácio Quemado. Eu já tenho uma versão 2 dos 198 Livros de tanto livro que tá brotando nesse projeto porque eu quero ler todas as sugestões e as que rendem delas também.

    • Lucimara, a gente já chegou à conclusão de que daremos umas 3 ou 4 voltas ao mundo assim. ;-)

      • Lucimara Busch

        E eu acompanharei :)

        • Carla Portilho

          Pois é, não vai ter jeito… Vamos rodar o mundo dos livros com essa VAM várias vezes!

          • Lucimara Busch

            E do jeito que a gente encontra livros todos os dias rsrs. Gente, eu não fazia ideia de que esse projeto me proporcionaria tudo isso! Fico cada vez mais impressionada!

            • Eu também, Lucimara! Nada me ensinou tanto em tão pouco tempo como esse projeto!

              • Lucimara Busch

                Que delícia né Camila? Sabe, no final deste ano me sentirei muito mais feliz por ter lido tanto, e serei grata por todo o conhecimento que esse prazer me trouxe! Fui bem feliz por ter encontrado você e seu projeto! :)

  2. Lu Malheiros

    Camila,
    O livro superou as minhas expectativas! Também foi o meu 1o contato com a literatura boliviana e acredito que não será o último!

  3. Carla Portilho

    Fiquei impressionada também com a riqueza da literatura boliviana contemporânea. Não conhecia nenhum dos autores que pesquisamos e me deu vontade de ler vários romances. Também escolhi um do Paz Soldán, mas dessa vez não foi o mesmo que você: vou ler o Palacio Quemado. Mas trocamos ideias depois mesmo assim! Acho que vai ser bacana ter opiniões sobre dois romances diferentes do mesmo autor!

    (E acabei comprando também o American Visa, do Recacoechea, que não se encaixa no projeto porque se passa em meio à comunidade boliviana imigrante nos EUA, mas acho que posso vir a usá-lo em algum curso na universidade…)

    • Carla, eu estou só deixando a lista pós-198livros crescer. Não me atrevo a comprar nenhum pra não aumentar a ansiedade! Mas você tem a “desculpa” do trabalho, então está liberada. rsrs

      • Carla Portilho

        Em parte é “desculpa” mesmo, porque, se eu for usar em aula todos os livros que estou lendo com esse “objetivo” em mente, vou ter que dar uns 300 cursos, rsrsrs…

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