A Wandering Nomad: uma viagem que vai te inspirar

Shirine Taylor - A Wandering NomadHoje a gente tem acesso a tanta informação que é difícil selecionar o que vale a pena ler. São dezenas de posts, links, fotos, textos pipocando nas telas ao nosso redor e é fácil perder o foco. Eu percebi que estava ficando viciada no “salvar para ler depois”. Sabe quando a gente vê uma chamada que nos interessa, mas não tem tempo naquela hora de abrir o link? Quando vê uma receita de comida bacana e salva para fazer um dia? Ou quando ouve falar bem de um filme e guarda o nome para assistir depois? Com isso a gente vai criando uma lista enorme de “pendências” que provavelmente nunca irá ser zerada. Eu fico meio agoniada com isso e no último fim de semana resolvi dar um limpa nos itens que favoritei ao longo de sei lá quanto tempo. Em em meio a eles eu encontrei uma matéria que a Adriana Lacerda, do blog Escapismo Genuíno, compartilhou no twitter há alguns meses. Lembro que na época eu abri o link, achei o assunto interessante, mas não tive tempo para ver tudo e salvei para depois. E quando, enfim, eu fui ver o que era, só conseguia pensar: “Por que eu demorei tanto a ler essa história?” E foi assim que eu conheci o blog A Wandering Nomad, da Shirine Taylor.

Shirine Taylor - A Wandering Nomad

Há um ano Shirine saiu de sua casa, nos Estados Unidos, para conhecer o mundo sozinha. Até aí tudo normal, né? Mas essa menina tinha apenas 20 anos! E ela resolveu fazer essa viagem de bicicleta e gastando apenas 5 dólares por dia! Isso significa que ela não tem luxos. A casa dela na maioria das vezes é sua barraca de camping, o chuveiro pode ser um rio que ela encontra pelo caminho, a comida é a de rua ou a que ela consegue preparar em seu fogareiro. E nada de ficar só nos roteiros turísticos conhecidos pelos mochileiros, o que ela queria era conhecer os lugares aonde os turistas não chegam frequentemente. Para completar, ela começou essa viagem pela Índia, um país famoso pelo machismo e pelos crimes contra as mulheres. Já deu para perceber o quanto essa história é especial, né?

Shirine Taylor - A Wandering Nomad

Eu fiquei tão fascinada pela história da Shirine que perdi o sono lendo seu blog. O que me impressionou primeiro foi a coragem que essa garota teve de sair daquele padrão de vida/escola/trabalho delineado para nós e seguir seus instintos se aventurando de um jeito que eu nunca ousaria. À medida em que fui lendo os relatos, fui me encantando com as experiências de Shirine e com a sua sensibilidade para registrá-las (suas fotos são tão  apaixonantes quanto seus textos). A maioria de nós nunca irá vivenciar uma viagem de forma tão intensa quanto ela. O contato com a natureza que ela teve ao percorrer as estradas de bicicleta e ao ter as montanhas da Índia e do Nepal como quintal é inigualável. E a convivência com os moradores das regiões que ela visita, muitas vezes através da estadia em casa de famílias generosas, torna essa jornada ainda mais linda.

O plano inicial de Shirine era passar 3 anos na estrada, apenas uma pausa antes de concluir a faculdade. Como aquecimento ela pedalou quase 3000 km na costa oeste americana, da fronteira canadense à mexicana. De lá ela voou para a Índia. No último ano ela percorreu o Himalaia Indiano e o Nepal e já se foram mais de 7700 km. Depois de uns 9 meses viajando sozinha, o namorado que ela havia deixado para trás quando partiu dos Estados Unidos se juntou a ela e agora eles estão viajando juntos. Para os próximos anos ela tinha planejado ir também à Europa, África, Oceania e América do Sul, mas agora os 3 anos já não são um prazo. Na verdade, não há mais planos e o roteiro será definido ao longo do caminho. É uma viagem sem data para acabar.

Não satisfeita em devorar o blog da Shirine, entrei em contato com ela para conversar um pouco mais e aproveitei para fazer uma pequena entrevista para o blog. Tentei traduzir o melhor que pude o que ela disse e espero que eu tenha conseguido transmitir a essência do que a Shirine disse.

Como tudo começou?

Tudo começou comigo querendo viajar novamente, mas eu queria algo diferente de um mochilão, pois eles nos levam a uma cidade turística atrás da outra. Então eu procurei por voltas ao mundo de bicicleta no google e depois de ler um monte de blogs eu decidi que era capaz de fazer isso também!

Por que a bicicleta?

A bicicleta é a forma perfeita de viajar porque ela permite muito mais experiências culturais e nos dá liberdade absoluta. Ela nos leva a ótimos acampamentos, a estadias incríveis em casas de famílias no mundo todo e a uma vida simples que traz felicidade.

Como foi a preparação para essa viagem de bicicleta?

Eu ainda não sei nada sobre bicicletas (ops!), mas sempre há alguém por perto para me ajudar. E desde que um amigo me presenteou com todas as ferramentas numa loja de bicicletas, eu sei que sempre haverá alguém que poderá me ajudar. Quanto ao treinamento físico, não fiz nada! Você treina ao longo do caminho!

Shirine Taylor - A Wandering Nomad

O que você achava que seria difícil e acabou sendo mais fácil do imaginava?

Tudo é mais fácil do que eu imaginei. Eu pensei que me sentiria sozinha e entediada, mas esse definitivamente nunca foi o caso! E como eu pedalo devagar e pequenos trechos de cada vez, a viagem também não me exige muito fisicamente.

E o que foi mais difícil do que você previa?

Eu achei a Índia muito mais difícil do que eu poderia imaginar, mas isso por causa da terrível situação das mulheres aqui. Shirine Taylor - A Wandering Nomad

Qual item você não poderia viver sem nessa viagem?

E o que você viu que é dispensável? Minha barraca, com certeza eu não poderia viver sem minha barraca. E para mim um armário cheio de roupas é totalmente inútil, porque eu basicamente visto a mesma roupa todos os dias.

Como foi a experiência de fazer a primeira parte dessa viagem sozinha?

Eu amei viajar sozinha e, na verdade, eu sei que algum dia vou fazer isso de novo em viagens mais curtas porque é uma experiência e tanto ser uma mulher viajando sozinha, principalmente em países que não incentivam isso.

E qual a melhor parte de se viajar em casal?

A melhor coisa em viajar agora com o Kevin é que eu tenho alguém com quem dividir essa experiência, alguém que entende todas as coisas maravilhosas que eu estou vendo.

Qual foi seu maior choque cultural até agora?

Um dos maiores choque culturais provavelmente aconteceu no casamento, quando eu vi uma mulher sendo arrastada (simbolicamente, embora a corda seja um simbolismo estranho) soluçando rumo ao seu casamento, e descobri que é assim que as coisas funcionam aqui.

A Índia é conhecida pela desigualdade entre gêneros. Qual a situação das mulheres indianas nos lugares em que você esteve?

A Índia é corretamente conhecida por isso. As mulheres são consideradas de segunda classe, cães sarnentos no sentido de que seus maridos ou pais é que tem a propriedade delas. Mesmo as próprias mulheres se reconhecem como inferiores, o que causa um desequilíbrio terrível. As mulheres não são nem um pouco respeitadas e é isso o que leva a estupros diários, geralmente por membros da família. A situação das mulheres aqui é o que me motivou a dar voz às mulheres ao redor do mundo.

Sendo uma mulher acampando sozinha, você não teve medo de ser vítima de algum crime?

Houve momentos em que eu tive medo (leia aqui e aqui) e outros em que eu quis desaparecer e nunca mais voltar à Índia. Felizmente, apesar de eu ter sido ameaçada, escapei fisicamente ilesa, mas psicologicamente eu com certeza fui afetada .

Shirine Taylor - A Wandering Nomad

Você acha que conseguiria se adaptar a uma vida “normal” novamente?

A adaptação com certeza será difícil para mim e eu acho que minha vida nunca será totalmente normal… Eu e o Kevin queremos constituir uma família, mas vamos continuar viajando (por períodos mais curtos) ao longo de nossas vidas. Nós também queremos construir nossa própria casa, o que vai ser uma experiência por si só. Nós iremos sempre viver como minimalistas, respeitando o ar livre mais do que o dinheiro.

Se você conseguisse mais dinheiro para essa viagem (através de doações ou do seu blog), o que você faria: viajaria com mais conforto ou por mais tempo?

Meu estilo de viajar continuaria o mesmo, seria apenas para prolongar a viagem!


Se você, como eu, também ficou triste por não ter acompanhado essa viagem desde o início, não se preocupe! Pelo jeito, ela está só começando!

19 Comments

  1. Incrível o relato dela. Não conhecida o blog. Vou adicionar aos favoritos. :)

    E concordo com tudo que ela disse sobre a Índia.

    • Rafael, depois de sentir só uma amostra da “cultura” indiana a respeito das mulheres em Kuala Lumpur, percebi que uma viagem à Índia seria insuportável para mim. Tirei o país dos meus planos de viagem por um tempo. Nem sei se algum dia terei coragem de encará-lo.

  2. ah, que maximo! adoro esse tipo de gente, que tem, acima de qualquer outra coisa no mundo, coragem! vou correndo la fuçar. obrigada por compartilhar, camila!

    • Eu disse a ela que espero conseguir criar um filho ou filha para ser seguro e corajoso como ela. Acho que você deve querer o mesmo para a Alice, né? A Shirine é uma inspiração e tanto!

  3. Helder Ribeiro

    Realmente impressiona a coragem dela. Seja a coragem de largar tudo pra trás e sair viajando como a coragem de se aventurar sozinha por um lugar que nem a Índia.
    Muito legal mesmo, vou passar a acompanhar o blog dela.

    Abraços,
    Helder

  4. Guilherme - Viajando com Eles

    Sensacional. Da vontade de pegar a bike e sair viajando. Já fiz uma volta ao mundo, meu sonho é fazer outra com mais tempo.

  5. Muito legal, Camila! Sempre bom ver a mulherada saindo para explorar o mundo sozinha, não importando origem ou idade, cada uma no seu estilo.

  6. Elaine Castro

    Adorei a história, a Shirine, a coragem, a viagem.. tudo. E também o início do seu post. Realmente vamos marcando tanta coisa pra ver melhor depois… vou dar uma olhada nas minhas marcações também.

    • Eu amo a internet e é ela que me possibilita conhecer histórias como a da Shirine, mas às vezes tento me policiar para não deixar ela me engolir. rsrs

  7. Adorei a entrevista, adoro descobrir bicicleteiros mundo afora. Pesquisando sobre uma ideia que Bernardo deu pra uma viagem que estamos preparando com muito carinho, encontrei o blog de um casal que viaja sempre de bicicleta, o Travelling two http://travellingtwo.com/, e agora levam o filho junto. Um itinerário que eu tinha desconsiderado completamente e que achava altamente improvável, mas eles fizeram, estou me deliciando com os preparativos :)

    • Natalia, eu descobri o travelling two pelo blog da Shirine! Eu algum post ou comentário ela comenta que esse seria o melhor blog para quem quer começar a pedalar. Aí entrei lá e fiquei doida com tanta informação! É sensacional, né?

  8. Luisa Ferreira

    Adorei! :) Há tempos fiquei encantada com a história de Artur Simões, do
    Pedal na Estrada, cuja história contei lá no blog:
    http://www.janelasabertas.com/2012/09/11/pedal-na-estrada/
    Mas ver uma menina – e tão jovem – fazendo algo parecido é ainda mais inspirador :) Lembro também de Aline, do Portas Abertas, que gerou muita polêmica por viajar sozinha e sem gastar dinheiro algum (http://www.janelasabertas.com/2013/11/18/como-viajar-por-tres-meses-pela-europa-sem-dinheiro/). Mas mesmo que a gente não viva experiências tão “extremas”, é sempre bom lembrar o quanto vale a pena desapegar e se jogar, né? Já sei que vou passar umas boas horas lendo o blog dela <3
    Valeu por compartilhar ^^

    • Acho que a maior lição é a do desapego mesmo, Luisa. Eu já estou a cada dia tentando adotar um estilo de vida mais minimalista e histórias como a da Shirine são uma super inspiração, né?

      • Luisa Ferreira

        Com certeza ^^ É bom lembrar que tem gente vivendo de formas diferentes das que encontramos no nosso dia a dia tradicional…

  9. Mirella Matthiesen

    Incrível a experiência dessa menina… sensacional!
    Não conhecia a Shirine e já me apaixonei por ela.

    eu jamais teria coragem de fazer essa jornada que ela fez, em especial na India, apesar de ser um país que sonho em conhecer.

    Valeu demais por esse post!!!

    • Mirella, eu também não teria coragem. Olha, hoje em dia eu já nem sei se ainda quero ir à Índia, quanto mais acampando sozinha! Por isso minha admiração por ela cresceu ainda mais.

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