Quando eu li a sinopse de Paranoia, do escritor belarrusso Victor Martinovich, eu imaginei que se tratava de um livro parecido com o da Lituânia, Vilnius Poker, que não foi uma leitura muito fácil. O título já era sugestivo e o contexto de uma dominação ao estilo soviético era tema comum entre os dois. Hoje a Lituânia vive uma nova história, mas a Belarus é considerada a última ditadura ainda vigente na Europa. O presidente Alexander Lukashenko está no poder desde 1994 e é alvo de várias acusações referentes a fraudes nas eleições, violações de direitos humanos, censura e por aí vai. É claro que Paranoia, um dos raros livros do país traduzidos para o inglês, iria refletir esse cenário. E parece que ele fez jus ao seu nome, pois foi retirado das prateleiras de Minsk dois dias após sua publicação.
Paranoia se passa na capital de um país não nomeado que é governado por Muraviov, um ser praticamente onipresente na vida dos cidadãos ou pelo menos na de Anatoly, o jovem escritor que é protagonista do livro. A história se alterna entre seus relatos em primeira pessoa e relatórios detalhados do Ministério da Segurança que descrevem quase todos os seus passos de forma sistemática. São cartas interceptadas, escutas instaladas na casa de Anatoly, pessoas que o seguem nas ruas, vigilâncias constantes que não deixam passar quase nada. Ele tem uma leve consciência disso, ou melhor, ele pressente o que acontece, mas pouco pode fazer para confirmar suas suspeitas ou evitar essa invasão.
As duas narrativas, a de Anatoly e a dos relatórios, quase sempre se relacionam a Elisaveta, uma mulher misteriosa que ele conhece em um café e por quem se apaixona perdidamente. E é essa história de amor que irá ditar os rumos da vida de Anatoly. Mas poderia ser Elisaveta apenas uma personagem criada pelo governo para aumentar o poder de infiltração em sua vida? No mundo em que eles vivem, tudo é possível.
O livro não traça uma linha clara entre o que é realidade e imaginação na vida de Anatoly. Algumas cenas são descritas de forma tão surreal que fica difícil acreditar que sejam verdade. Mas o que é vida real num cenário totalmente controlado pelo Estado? Por quanto tempo uma pessoa consegue permanecer lúcida submetida a um regime de constante repressão?
Através de uma história envolvente, Victor Martinovich conseguiu fazer uma crítica brilhante ao governo de Belarus. O que ele descreve nos assusta, nos deixa asfixiados, algo como 1984, sabe? Mas ainda assim é uma leitura que flui e que nos deixa sempre querendo ler o próximo capítulo para saber o que vai acontecer. O triste é pensar que essa história pode não ser totalmente ficção…
Paranoia foi publicado originalmente em russo, em 2010, e em inglês em 2013, pela editora Northwestern University Press. A tradução é de Diane Nemec Ignashev.
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Acabei de ler esse livro! Gostei demais!! Achei a segunda parte genial, a história de amor através dos relatorios… mesmo lendo em inglês, consegui captar o estilo particular da escrita do autor. Achei isso muito legal! E me senti em
Minsk! Foi uma viagem e tanto! Obrigada pela dica!!
Que legal que você se animou a ler, Joana! É um livro bem peculiar, né? Adorei ter a chance de conhecê-lo!
Camila, eu também achei que a leitura seria mais complicada do que foi na realidade, embora tenha achado um pouco maçante. As duas primeiras partes prometem mais do que acontece.
Ana, eu fiquei achando que teríamos mais respostas do que tivemos, mas ao fim da leitura fiquei pensando que a intenção do autor foi essa mesmo, nos deixar sem saber o que era ou não real… Gostei!
Também gostei, ele escreve bem, consegue passar um pouco da loucura(ou paranoia) dele! É forte, demorei para me desligar dos personagens!
Camila, o meu exemplar ainda não chegou. Está pedido desde maio…
Que chato, Lu! Comprei na Book Depository? Os meus nunca demoraram tanto. Já os usados…