198 Livros: Suécia – A Procurada

198 Livros - SuéciaEu juro que tentei fugir do estereótipo literatura-nórdica-policial dessa vez. A verdade é que nem sou muito fã de romances policiais. Quer dizer, eu leio esses livros rapidinho e me divirto (devorei a trilogia Millennium, de Stieg Larsson, por exemplo), mas geralmente eles não me marcam, são puro passatempo mesmo. Só que quando se procura um livro da Suécia, da Finlândia, da Noruega é só isso que aparece! É impressionante como essa região se especializou nesse tipo de literatura e exporta best-sellers para o mundo todo. Ainda quero entender o que faz com que escritores de países tão seguros sejam tão fascinados por crimes. Parece até incoerente, né?

Na minha tentativa de variar o tema, pedi ajuda para a Laura, minha amiga que mora na Suécia. Ela é casada com o Erik, um sueco que também adora ler e que me deu boas sugestões. Fiquei com muita vontade de ler um dos livros indicados, de Åsa Linderborg, pois a história se passa em Västerås, a cidade em que eles moram e que eu conheci quando estive na Suécia, mas ele ainda não foi traduzido para o inglês (e muito menos para o português). O outro – A saga de Gösta Berling – também parecia ser bem interessante, mas não se encaixava no projeto, pois não é um livro contemporâneo. Uma pena, pois fiquei com muita vontade de ler a primeira mulher a ganhar um Nobel de Literatura: Selma Lagerlöf.

Bom, só sei que no fim das contas ficou difícil escapar dos policiais, então segui o opinião das amigas de projeto, e fiquei com A Procurada, de Karin Alvtegen. A Procurada - Karin Alvtegen

A Procurada conta a história de Sybilla, uma mulher que vive há muitos anos nas ruas de Estocolmo. O mistério já começa aí: como uma pessoa como ela, que nasceu em uma família rica, foi parar nessa situação? Ainda mais em um país como a Suécia! Mas o grande suspense surge mesmo é quando Sybilla se vê acusada de um assassinato que ela não cometeu. Ela simplesmente estava no lugar errado na hora errada. Enquanto a polícia a procura, ela tenta desvendar os crimes – no plural mesmo, porque eles não param de acontecer. A história vai alternando o presente e o passado de Sybilla e ambos vão se descortinando aos poucos para o leitor.

Mas Sybilla não é nenhuma mocinha ou heroína. Ela é uma mulher cheia de problemas e defeitos que não consegue conviver bem em sociedade e, muito menos, com sua família. É difícil definir se ela é uma vítima das tiranias da mãe ou se é apenas uma pessoa fraca que não conseguiu enfrentar as dificuldades que surgiram em sua vida.

“Se você vive um tempo nas ruas, está perdido. Não existe um caminho de volta, já que você perde a capacidade de se adaptar a uma outra vida. Você já não quer se adaptar, se encaixar. Para viver em sociedade, você tem de ser capaz de se conformar, mas você não quer mais se conformar. É um círculo vicioso. “

As sinopses do livro que encontrei falam sempre em exclusão social, como se Sybilla fosse marginalizada por causa de sua situação, mas a verdade é que ela luta muito para conseguir não ser ajudada. Ela faz de tudo para permanecer anônima e isso diz muito mais sobre ela do que sobre o lugar em que vive.

No fim das contas o livro não se encaixou muito bem na proposta do projeto, pois não me mostrou quase nada da cultura ou da história da Suécia. Sem contar que eu queria ter lido um livro melhor de um país que eu gosto tanto! Mas pode ser também que minha impressão seja apenas fruto da minha implicância com os romances policiais. ;-)

A Procurada foi publicado originalmente em 2000, em sueco, e no Brasil em 2005, pela Editora Record. A tradução é de Monica Goldschmidt.

Mais alguns livros de escritores suecos:

  • Gentlemen, Klas Östergren
  • O Ancião que Saiu Pela Janela e Desapareceu, Jonas Jonasson
  • A Rede, Håkan Nesser
  • A saga de Gösta Berling, Selma Lagerlof

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

 

16 Comments

  1. Carla Portilho

    ***SPOILERS***

    Eu acho bem interessante quando nós conversamos sobre romances policiais, porque a ideia corrente é mesmo que todos eles seguem uma fórmula, e por isso são razoavelmente parecidos. Devo dizer que a maioria é mesmo – quem lê Agatha Christie nota bem isso, né?

    Mas nos policiais contemporâneos podemos encontrar um outro tipo de narrativa (não em todos, claro…) – e eu acho que o romance da Karin Alvtegen (que eu também li em inglês, com o título Missing) se encaixa nisso que vou dizer.

    Nesses romances policiais nem sempre o protagonista é um detetive / policial / agente da lei, como é o caso da própria Sybilla. Esses personagens são muito mais representações / símbolos / alegorias de algo que se quer expressar / criticar do que aqueles personagens a que nos apegamos em narrativas mais tradicionais (e nesses casos sempre penso nos romances do século XIX, tipo os de Jane Austen ou os das irmãs Brontë).

    Sybilla é uma sem-teto em plena Suécia – só isso já basta pra mexer um pouco com as nossas convicções acerca dos países nórdicos, vistos como modelo de civilização. No meu entender, ela não deve ser analisada como uma pessoa, mas como uma representação de que mesmo sociedades praticamente perfeitas também têm seus “podres”… E os “podres” que cercam Sybilla estão intimamente ligados à sua família, principalmente sua mãe, que a princípio parecia ser apenas excessivamente rígida – o que, ao fim do romance, descobrimos ser apenas a sua faceta mais aparente.

    O assassinato que acontece logo no início do romance não tem muita importância. Na verdade, na maioria dos romances policiais contempoâneos que tem alguma relevância literária, o assassinato é apenas um pretexto, um pano de fundo para discutir outras questões – e é aí que eles deixam de seguir a fórmula, ou parecem segui-la de maneira um tanto quanto “desastrada” (porque na verdade não estão dando a menor bola para isso, rsrsrs…)

    Não vem muito ao caso as razões pelas quais ela optou por morar nas ruas, ou o que levou aos assassinatos. O grande barato (e nesse ponto eu concordo com a Lu, e acho que o romance não deixou de representar a Suécia satisfatoriamente) é ver que existe uma crítica sendo feita a essa sociedade vista como quase perfeita por boa parte do mundo ocidental. Não é o caso desse romance especificamente, mas a minha futura doutoranda que pretende estudar o RP nórdico me chamou a atenção outro dia para as críticas que têm sido feitas na literatura policial nórdica ao envolvimento das elites locais com o nazismo. Não é interessante ver como essa crítica pode ser feita por meio da literatura policial?

    O que me desapontou no romance foi o desfecho. Até boa parte da narrativa, a autora me manteve no maior suspense acreditando que ela enveredaria por um caminho totalmente diverso do que ela escolheu percorrer. O motivo que ela apresentou para os crimes na minha opinião foi a solução mais banal que ela poderia ter arranjado, poderia ter sido tirada de qualquer série de TV americana, muito sem graça…

    (Eu, que ando lendo muito sobre detetives metafísicos, tinha inventado uma hipótese bem mais bacana… Eu jurava que a Sybilla tinha mesmo problemas psiquiátricos, como é dito ao longo do romance, e era mesmo a assassina, rsrsrsrs…)

    • Lu Malheiros

      Carla,
      Não disse que eu aprendo um monte com seus spoilers? Adorei! Quando é que o curso na UFF começa?
      Achei a vida de uma sem teto na Suécia, se for como descrita, bem razoável. :-) Agora, sério, essa coisa com o nazismo quase que me irrita, tamanha a frequência com que aparece. Acho que até o Camilleri tem algum livro do Comissário Montalbano que fala de nazismo! Por outro lado, é um episódio historicamente recente e terrível: as feridas estão por aí. Não dá pra fugir, né?

    • Carla, arrasou no spoilers, adorei também! e acho que Lu tem razão, é um aprendizado. De fato, nunca tinha pensado que talvez a origem do gênero policial nos países nórdicos seja uma contrapartida para uma sociedade quase perfeita. Quanto ao desfecho, rsrsrs, não achei ruim não o final, gosto de finais felizes!

    • Carla, você tem que ler os livros junto com a gente! Precisamos dos seus spoliers para ampliarmos nossas visões sobre os livros!

      Pra mim esse livro representou melhor a Suécia do que o da França ou da Holanda, por exemplo, mas acho que eu é que estava esperando mais da literatura sueca. Já estou até acostumada a não me empolgar muito com os países desenvolvidos. ;-)

      Eu ainda não consegui desvendar o mistério da literatura policial nórdica, mas também acho que ele serve como uma crítica social. Você ainda não leu o livro da Noruega, né? A questão do nazismo/neonazismo é tema central. Já estou começando a embaralhar algumas histórias, mas acho que esse tema está presente em algum outro livro também.

      • Carla Portilho

        Eu vou ter que puxar os nórdicos um pouco, justamente por causa dessa minha doutoranda, pra poder acompanhar melhor a pesquisa dela… Mas ainda não puxei nenhum deles – acho que vem primeiro o da Finlândia, e depois o da Noruega. Já comprei um dinamarquês também pra ir me adiantando.

        Tenho mesmo que ler algumas coisas junto com vocês, pro papo ficar mais animado! Li The Tale of Aypi, então vou poder comentar assim que sair a resenha – e acho que vou puxar Malinche pro início da fila, porque o tema me empolga!

  2. Oi Camila,

    Vim aqui pra recomendar o “O ancião que saiu pela janela e desapareceu”, mas vi que já está na sua lista de recomendações – na verdade só agora vendo-o na sua lista que eu soube que ele já foi publicado no Brasil =)

    Se eu tivesse lido ele antes da sua leitura da Suécia, teria o recomendado pro projeto, pois acho que ele se encaixa perfeitamente, e sai do padrão de romance policial que vc mencionou. Além de ser MUITO divertido. Ainda falta uns 20% pra eu acabar, mas o que li até agora já valeu a pena.

    Bem, mas acho que agora é tarde demais né! Mas já fica então a recomendação pro futuro pós-198 livros :)

    Beijos!

    • Nina, eu cheguei a escolher esse livro, justamente pra fugir do clichê e porque me parecia um livro divertido, mas aí uma pessoa que já o tinha lido comentou lá na página do facebook que ele não tinha nada a ver com o projeto porque a maior parte da história não se passava na Suécia. Aí desisti… Bom, mas ele fica para a enorme lista pós-198 livros. =)

      • Nossa, que pena! Bem, é verdade que metade dele se passa fora da Suécia mesmo. Mas em um livro de 380 páginas, ainda assim são 190 páginas de Suécia né hehe

        Mas acho que diante da maioria das outras opções (policiais), esse livro se encaixaria no projeto sim! Concordo com vc quando vc diz que no geral os livros de países desenvolvidos parecem atender menos os objetivos do 198 livros, de não retratar tão diretamente as principais questões sociais e culturais e etc. Parece que eles já sabem muito bem quem são, então não vêem necessidade de ficar falando muito né. Mas enfim, neste caso específico, nas partes que se passam na Suécia em si, sempre aparece um comentário aqui e ali sobre a política, a sociedade, os costumes suecos (geralmente sempre com um tom bem irônico – e passando bem longe da imagem idealizada associada aos países nórdicos). Então, acho que diante das opções disponíveis, ele se encaixa sim, e muito bem! =)

        Bom, parece que eu sempre tô chegando atrasada nas discussões né? kkkk vou tentar melhorar meu timing pras próximas escolhas!

  3. Lucimara Busch

    Camila, esse tema também não curto muito, porém, a leitura foi boa! Policiais eu ando lendo só esses que acabam caindo aqui no projeto mesmo! :)

  4. Lu Malheiros

    Camila,
    Gosto de romances policiais, mas não consigo ler muitos em sequência. A narrativa costuma ser leve, bom pra depois de ler um livro “pesado”.
    Acabei lendo o livro em inglês – não sei por que! – e acho que ele não foge tanto do projeto.

    • Não tô dizendo que pode ser a minha implicância? rsrs Mas eu também acho que a leitura costuma ser leve, apesar dos crimes, né? O que me irrita um pouco é que além da tentativa de desvendar o crime, não costuma existir muita surpresa. Sei lá, parece que todos seguem mais ou menos o mesmo roteiro. Falo isso, mas não sou especialista no assunto, pois leio poucos policiais. A Carla é que pode falar com mais propriedade. ;-)

      • Carla Portilho

        Meninas, eu nem tinha visto que a Camila já tinha postado a resenha da Suécia!!! Bom, vou postar um spoiler aqui embaixo em outro comentário…

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