Sempre que eu falo sobre a Macedônia descubro que muita gente nem sabe que o país existe. Isso às vezes acontece também quando menciono o Laos e eu mesma me surpreendo ao sortear alguns países para minha Volta ao Mundo em 198 Livros, mas com a Macedônia a história é diferente. Todo mundo já ouviu falar dela, mas quando digo que fui para lá me perguntam se eu não estou falando da Grécia e mencionam Alexandre, o Grande. A dúvida é compreensível, afinal, realmente há uma região na Grécia com o mesmo nome e que geograficamente se estende pelos países vizinhos, dentre eles a Macedônia e a Bulgária. Confuso, né? E essa confusão é ainda maior do que a gente imagina a princípio.
A região dos Balcãs nunca teve longos períodos de tranquilidade. Os povos da Península Balcânica ficaram sendo jogados pra lá e pra cá nas mãos dos dominadores de cada época, ora otomanos, ora gregos, búlgaros ou sérvios, o que fez com que a fronteiras fossem sempre bem voláteis por ali. Até 1991 a Macedônia fazia parte da Iugoslávia e ela foi um dos primeiros países a declarar sua independência – e o fez de forma pacífica. Foi aí que começou o problema do nome. A Grécia não aceitou que a Macedônia adotasse esse nome, pois ele é também o nome de uma região do seu território e ela dizia que isso abriria precedentes para uma invasão da Macedônia grega. Em 1993 a Grécia exigiu que a Macedônia mudasse seu nome para ser admitida na ONU e ela então passou a adotar um nome provisório perante os órgãos internacionais: FYROM – Former Yugoslav Republic of Macedonia (Antiga República Iugoslava da Macedônia). Por causa dessa controvérsia a Grécia já conseguiu que a Macedônia não fosse aceita na OTAN e atualmente ameaça barrar sua entrada na União Europeia.
Com a Bulgária a Macedônia mantem relações amigáveis, mas não totalmente, já que há uma corrente que defende que parte dos macedônios teriam etnia búlgara e que a língua do país, o macedônio, seria na verdade uma variação do búlgaro. Enquanto isso, muitos macedônios conseguem passaporte búlgaro para poderem transitar com mais tranquilidade na União Europeia, da qual a Bulgária faz parte desde 2007.
Para completar, na Macedônia vive um grande número de albaneses, uma população que aumentou bastante com a chegada de refugiados da Guerra do Kosovo na década de 90. Estima-se que hoje mais de 25% da população macedônia seja de etnia albanesa. Os macedônios são cristãos ortodoxos, os albaneses muçulmanos. O albanês usa o alfabeto latino, enquanto o macedônio é escrito no alfabeto cirílico. Por aí a gente já imagina que essa integração possa ser complicada, né? E é mesmo. A minoria albanesa reclama de discriminações e exige mais direitos. A situação já ficou tensa por causa da atuação de grupos extremistas e em 2001 foi assinado o Acordo de Ohrid, que dentre outras coisas instituiu quotas para albaneses no serviço público e reconheceu o albanês como uma das línguas oficiais do país. O momento parece estável, mas onde essa história irá parar ainda não se sabe.
Em meio a tanta mistura étnica e conflitos territoriais, é até difícil falar em identidade nacional (já mencionei aqui como isso me impressionou quando procurei livros dessa região), mas essa não parece ser a opinião do primeiro-ministro Nikola Gruevski. Foi ele quem criou o Skopje 2014, um projeto que visa dar uma identidade visual clássica à capital do país, resgatando sua história e reforçando o nacionalismo dos macedônios. No projeto estava prevista a a construção (e reconstrução) de inúmeros prédios públicos, pontes e monumentos. Estivemos em Skopje justamente em 2014 e, apesar de o projeto não estar concluído, tenho certeza de que conheci uma cidade bem diferente da que existia 5 anos antes e principalmente da que existia depois do terremoto que em 1963 praticamente a destruiu.
O projeto é controverso, claro. A começar pelo investimento do governo, anunciado em algumas centenas de milhões de euros, num país em que ainda há muita pobreza e altas taxas de desemprego. Há ainda os que criticam o próprio projeto em si, chamando-o de brega mesmo e dizendo que estão querendo transformar Skopje em uma nova Las Vegas. O governo argumenta que a remodelação da cidade atrairá turistas e, consequentemente, dinheiro. Nesse ponto eu tenho que concordar. Eu mesma fiquei super curiosa para conhecer Skopje depois de ler algumas notícias sobre a remodelação pela qual a cidade estava passando e saí de lá com vontade de voltar daqui a alguns anos para ver o projeto concluído. Mesmo que seja tudo fake, a cidade é gostosa, amigável e fotogênica. E ainda por cima segura e cheia de ruas e espaços para pedestres. Me conquistou!
Todas as fotos deste post são do novo centro histórico de Skopje, mas a cidade não se resume a isso. No próximo post eu vou mostrar o que a gente encontrou por lá além das construções monumentais. Uma coisa é certa: Skopje está dando o que falar! Fontes de informações para este post:
- Guia Lonely Planet Southesatern Europe
- Dissent Magazine
- Wikipédia: Disputa sobre o nome da Macedônia
- Wikipédia: Skopje 2014
Veja tudo o que já foi publicado sobre a Macedônia no Viaggiando! E para ver todos os posts sobre essa viagem, clique aqui.
Lindas as fotos Camila!
Obrigada, Ana! Skopje não é super fotogênica? =)
Camila, estava planejando uma viagem assim que nem a sua, incluindo vários lugares dos balcãs. E a Macedonia era a minha interrogação maior, no sentindo do que fazer, o que encontrar e esperar do país. Pouco se fala sobre, e o que li nos fóruns foi controverso exatamente porque a opinião de quem conheceu a região há 5 anos não é a mesma da que conheceu há 1. E isso me deixou curiosa e só alimentou minha vontade de conhecer o país. No final das contas resolvemos concentrar a viagem toda na Albânia fechando com a Grécia pois faremos tudo somente em 8 dias e queremos praia. Mas ainda vou tentar conhecer a capital da Macedônia em algum final de semana prolongado desses. Já falei e repito, estou de olho nessa sua série! Só conheço a Bulgaria desse seu roteiro e há muito tempo “namoro” os outros destinos!
Liliana, então já vou tentar bagunçar seus futuros planos! rsrs É que Skopje é legal, mas o melhor da Macedônia para mim foi Ohrid, um pouco mais ao sul. Vou falar dela em breve por aqui. O bom é que o país é pequeno, então dá para combinar os dois destinos facilmente. E se você tiver um tempinho a mais dá para esticar até o Kosovo. Pristina fica muito perto de Skopje. Mas pra variar gostei muito de uma cidade no interior também: Prizren. Eu gosto das capitais, mas as que me encantam mesmo são as cidadezinhas fofas no interior. Mas já estou me adiantando, melhor postar sobre esses lugares primeiro. =)
Olha, achei o lago Ohrid para lá de sensacional. O transporte na região ainda é bem precário mas conseguimos ir de lá para a Albânia de vans e depois seguimos para Montenegro, outro destino absurdo de lindo. Na verdade a região é toda fantástica. A gente fez Bulgária, Romênia, Sérvia, Macedônia, Albânia, Monte Negro, Bósnia Herzegovina, Croácia e Eslovênia, tudo em sequência, usando transportes locais. Foi uma delícia. Uma das melhores viagens da nossa vida.
Leonardo, nós também fizemos tudo de transporte público, mas só Bulgária, Albânia, Macedônia e Kosovo. Fomos de Ohrid para a Berat de ônibus/van e que viagem horrível! rsrs Já até publiquei um post aqui com os detalhes de todos os transportes que usamos, porque falta muita informação sobre isso, né? Queria muito ter ido a Montenegro, mas não tínhamos tempo suficiente. Por isso quero muito voltar!
Quando fomos não era alta temporada. Então de Skopje para Ohid não tinha ônibus. Era van pequena e logicamente lotada. Com direito a motorista que comia, bebia, fumava, conversava virando para trás e dirigia, tudo ao mesmo tempo.
De Ohid para Berat fomos como vocês. Mas por ser baixa temporada, no trajeto de Ohid para Elbasan fomos de Van. E só nós! Por isso o motorista nos levou até a cidade, perguntou na rua e nos deixou praticamente dentro da van que ia para Berat. Sem dúvida o transporte mais sofrível que pegamos em todo o mundo. Mas hoje a gente lembra e morre de rir! São perrengues que depois viram histórias né?
Ah, e como era baixa temporada, não dava para comprar quase nada com antecedência, só na hora mesmo.
Também adorei a cidade. Sobre o projeto de reconstrução da cidade, nunca dá para agradar a todos. E realmente para um país pobre, os gastos foram bem altos. Mas eu acho que o retorno turístico vai existir. Está ficando uma capital bem legal. Outro atrativo legal grudado na cidade é o lago Matka com seu desfiladeiros. Também estive em Ohrid, na divisa com a Albânia. O lago é maravilhoso.
E uma vantagem de viajar para lá são os custos super baixos.
Leonardo, não tive tempo de conhecer o lago Matka, mas Ohrid foi o principal motivo de eu ter incluído a Macedônia no roteiro. E amei! A dobradinha Skopje + Ohrid é um roteiro bem legal! E realmente os preços são ótimos. Já estou doida para voltar aos Balcãs!