Eu nunca tinha ouvido falar de Ohrid até começar a traçar o roteiro da viagem pelos Balcãs, quando já estava com a passagem para a Bulgária comprada. Pesquisando os locais interessantes na região me deparei com uma foto no guia que mostrava uma igrejinha com um lago ao fundo e na hora eu soube que queria ir até lá para ver aquela cena com meus próprios olhos. Logo depois eu joguei o nome da cidade no Google e foi só ver mais umas fotos para me decidir: ela tinha que entrar no roteiro! E que bom que foi assim, porque Ohrid acabou sendo um dos nossos destinos preferidos nessa viagem. Mas estamos falando de uma cidade histórica pequena, linda e barata, então não tinha como ser diferente!
Ohrid fica à beira do lago de mesmo nome, o Lago Ohrid, na fronteira da Macedônia com a Albânia , e é compartilhado pelos dois países. Como a Macedônia não tem mar, o lago acaba sendo o destino de verão natural do país. Nós estivemos lá em setembro, quando o calor dava seus últimos suspiros por ali e a cidade ainda recebia um certo fluxo de turistas querendo aproveitar o finalzinho do verão. E o que vimos é que os europeus, principalmente os do norte, já descobriram Ohrid!
A cidade está bem preparada para receber turistas. A rede de hospedagem é bem estruturada e conta com hotéis, pousadas e principalmente com casas e apartamentos para aluguéis de temporada. Na porta de muitos desses lugares há uma plaquinha padronizada informando o tipo e a classificação da hospedagem. E nas ruas, além de Ohrid ser um brinco, há placas bilíngues em macedônio e em inglês indicando a direção das principais atrações. É fácil perceber que os turistas são bem-vindos por lá!
E o que é que tem pra fazer em Ohrid? Andar sem rumo descobrindo resquícios milenares a cada curva e aproveitando as lindas vistas que a cidade oferece! Bom, brasileiro não precisa ir até lá curtir praia, né? O que mais me encantou é que o centro histórico de Ohrid é riquíssimo e representa diferentes períodos de sua história, principalmente do período medieval, quando a cidade tinha grande importância para a região. Não se deixe intimidar pelas ladeiras de Ohrid, pois gostoso mesmo é conhecê-la a pé.
Nós começamos nosso roteiro pela parte baixa, caminhando à beira do lago, e logo chegamos à imponente Igreja de Santa Sofia, cuja data de construção remonta ao século XI, apesar de não haver informações precisas a esse respeito. Assim como sua homônima de Istambul, a Santa Sofia de Ohrid também foi convertida em mesquita durante o domínio do Império Otomano. Dizem que no interior da igreja há belíssimos afrescos bizantinos, mas, não sei porque, nesse dia estávamos com preguiça de entrar nas igrejas.
Continuamos contornando o lago e ao nosso lado pedras altas começaram a surgir. Chegamos a uma pequena praia em que o pessoal tomava sol e os mais malucos animados se aventuravam no lago. A água é super transparente, mas também é gelada demais! E a cada poucos passos Ohrid nos surpreendia com mais um cantinho que parecia cenográfico de tão charmoso que era.
E aí acabou a moleza! Encaramos uma escadinha íngreme morro acima e dez minutos depois estávamos de cara com a imagem responsável por fazer de Ohrid desejo de consumo mundo afora: a visão da Igreja de São João em Kaneo sobre o lago, mais precisamente sobre a praia de Kaneo. Não é à toa que essa imagem virou cartão postal. Nós ficamos um bom tempo admirando-a de longe e tirando dezenas de fotos. Oportunidade de ver um lugar tão lindo assim a gente não tem todo dia, né?
Tivemos sorte, pois o dia estava super nublado, mas na hora em que nos aproximamos da Igreja de São João o sol até apareceu e deixou o dia mais lindo. Tudo ao seu redor conspira para deixar o ambiente mais bonito e no caminho até ela não faltam ângulos fotogênicos.
Depois de quase esgotar o cartão de memória da câmera, continuamos morro acima, não sem antes tirar mais algumas fotos da igreja, dessa vez de um ângulo diferente. Não tenham dúvidas: a caminhada vale a pena! Quem construiu essa igreja no século XIII não era nada bobo!
Nossa próxima parada foi a Fortaleza de Samuil. Ela é um resquício do período em que Ohrid foi sede do Império Búlgaro, entre 990 e 1015. Nessa época o Imperador Samuil (ou Samuel) transferiu a capital de Skopje para Ohrid, mas isso só durou até a os búlgaros serem derrotados pelo Império Bizantino. A fortaleza foi restaurada há poucos anos e hoje é super segura para os visitantes.
Como sempre acontece com as fortalezas, a melhor parte é a vista que elas nos proporcionam. Na Fortaleza de Samuil não foi diferente. Do alto de suas muralhas a gente percebe que Ohrid é muito mais do que o seu centro histórico. Lá de cima ela parece ser até bem grandinha!
No caminho entre a Igreja de São João em Kaneo e a Fortaleza de Samuil a gente passou ao lado das ruínas de uma igreja do século IV e lá de cima a gente pôde enxergar bem Plaošnik, um sítio arqueológico que abriga o Mosteiro de São Clemente e Pantaleão. São Clemente de Ohrid foi um discípulo de São Cirilo e São Metódio, os irmãos a quem muitos atribuem a criação do alfabeto cirílico, façanha na qual São Clemente teria tomado parte. A verdadeira origem do alfabeto é controversa, mas sabe-se que nesse mosteiro funcionou a Escola Literária de Ohrid – ou de Ácrida, que era como a cidade se chamava na época – criada por São Clemente e onde ele teria ensinado e difundido o alfabeto cirílico. Por aí já dá para ver o quanto Ohrid já foi importante para a história europeia, né?
Saindo da fortaleza a gente começou a descer o morro, mas por um caminho diferente da subida. E aí eu constatei o inimaginável: que Ohrid poderia se mostrar ainda mais charmosa do que tinha se mostrado até então! É sério, gente! Parece que cada morador de Ohrid enfeita a sua casa e a sua rua de modo a encantar os olhos de quem passa por ali. As flores e pimentas estavam por todo lado. Nunca estive na Grécia, mas fiquei pensando que havia um quê de grego naquele lugar.
Paramos para descansar no Teatro Antigo de Ohrid. Ali a gente voltou ainda mais no tempo, pois esse teatro foi construído em 200 a. C., no Período Helenístico. Os romanos descaracterizaram o teatro e apenas as camadas inferiores foram preservadas, o que significa que o que vemos hoje é apenas uma fração do que já existiu. Os romanos costumavam executar cristãos ali, o que fez com que o local não fosse benquisto pelos locais, e por isso ele acabou abandonado e soterrado, só sendo redescoberto na década de 80.
Chegando nas proximidades da Gorna Porta, um dos antigos portões da cidade, há uma sequência de igrejas e construções dos séculos XIII e XIV com direito a algumas paisagens com o lago ao fundo que nos fizeram passar um bom tempo por ali. A que eu achei mais fofa foi a pequenina Igreja de São Demétrio, mas cada uma delas tinha seu charme particular. Parece que a maioria abriga lindos afrescos bizantinos, mas mais uma vez não entramos em nenhuma para verificar.
Saindo do centro histórico Ohrid também não decepciona. As ruas para pedestres são super agradáveis e em meio às lojas de roupas e de eletrônicos há várias lanchonetes e sorveterias ideais para uma pausa no meio do dia. A verdade é que a cidade toda é muito gostosa!
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Quando chega a noite Ohrid ganha um ar ainda mais especial. Nós passamos duas noites lá, mas no sábado choveu muito e não pudemos sair. No domingo a cidade já estava bem vazia e as ruas quase desertas e foi uma delícia percorrer aquelas vielas tortuosas sem cruzar com quase ninguém. Nessas horas é que a gente parece realmente voltar no tempo.
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Como só pudemos sair numa noite, só tivemos a chance de jantar uma vez em Ohrid. Saímos em busca de um restaurante que tivesse opções vegetarianas, mas os cardápios não ajudavam muito. As traduções eram tão resumidas que eu não conseguia entender. Paramos na porta de um, o Restaurante Antiko, que o Lonely Planet dizia ser um famoso restaurante de comida tradicional macedônia. O garçom começou a me mostrar um monte de opções vegetarianas no cardápio, então entramos. Foi uma ótima decisão! Pedimos arroz, salada e dois pratos típicos, um a base de feijão branco e outro de tomate. Os nomes eu não sei, mas estava tudo muito gostoso! E o restaurante era uma gracinha e não era caro, ao contrário do que dizia o guia. Nosso jantar custou 780 denares (menos de 50 reais) com bebidas e gorjeta.
Eu sei que o post ficou gigantesco, mas acho que Ohrid merece! No próximo post ainda vou falar de um passeio super legal nos arredores da cidade. As belezas dessa região não acabam nunca! Fontes: A maioria das informações históricas que eu mencionei aqui eu encontrei no site Exploring Macedonia e mais um bocado no Wikipédia.
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