O livro da Eslovênia foi engraçado. Bom, não o livro em si, mas a história toda. Quando eu pesquisei autores eslovenos não encontrei nada que parecesse se encaixar na proposto da #198livros, mas aí a Lu Malheiros disse que tinha recebido uma indicação de um livro de lá: era Southern Scum Go Home, do escritor Goran Vojnović. Eu até brinquei dizendo que dava dó porque ele era muito pequenininho (míseras 47 páginas), mas que se fosse bom não tinha problema. O livro parecia falar sobre a “dificuldade de integração de sérvios e bósnios na Eslovênia, usando as próprias palavras da Lu, então a questão da temática estava resolvida e ele foi o escolhido. Sei que sentei para ler e em pouco tempo, pluft, o livro acabou! O mais estranho é que eu li no kindle e lá a gente não vê a numeração das páginas, mas a porcentagem do livro e ele acabou ainda nos 50%! Depois vinham só informações da editora, ou pelo menos é isso que eu acho, porque era tudo em esloveno ou em alguma outra língua desconhecida. Fiquei lá pensando que meu arquivo tinha vindo com problema, mas não, o livro tinha acabado mesmo. Ainda bem que ele realmente foi bom. Curtinho, mas bom, como a gente imaginava.
Southern Scum Go Home é narrado por um scum, “uma pessoa que vive no território de um certo país, mas que não pertence à maioria étnica do lugar”, nesse caso os imigrantes dos demais países da antiga Iugoslávia que vivem na Eslovênia. Ele é um rapaz de origem bósnia e o que mais o aflige é o fato de ele não ter um time para o qual torcer como todos os seus amigos.
“It’s in my blood. This need for a team for which I could get into a fight with anyone who’d say any shit about it.”
Na verdade ele não consegue se identificar com nenhum time. Ele gosta de um, que é o time para o qual a maioria dos seus amigos torce, mas esse é o time dos sérvios. Legal seria apoiar o time de sua cidade, Liubliana, mas isso é coisa de eslovenos. A questão dos times é só um pano de fundo para que ele fale sobre assimilação cultural e sobre a vida dos imigrantes em Liubliana, mais especificamente em Fužine, onde os jovens passam os dias do lado de fora dos apartamentos que têm uma só televisão e nenhum computador. (O livro nem é muito antigo, tem menos de uma década, mas fico pensando se os celulares com internet já não alteraram essa situação.)
Muitos dos moradores de Fužine não falam esloveno e o narrador não entende o porquê de os eslovenos se importarem tanto com isso, já que os imigrantes trabalham na construção civil e ninguém conversa com eles. Que diferença faz a língua que eles falam?
“And then they go on about assimilation. This takes time. Workers come from ex Yugo and you want them to learn about your poets and writers. What else? As if they gave a toss about any of their own poets back home. I want to be into a team. But I can’t. There you have it. And so part of my Eslovenian identity is under pressure. As is my scum identity. How am I supposed to assimilate and become a sort of Slovenian if I ain’t even got a team. Just not possible. And this bugs me.”
Apesar de pequeno, o livro traz vários questionamentos interessantes a respeito de identidade, imigração e assimilação cultural. Numa época como a nossa, em que há tanta gente vivendo fora de seu país de origem em busca de uma vida melhor, acho que essas questões são super pertinentes.
Southern Scum Go Home foi publicado originalmente em esloveno, em 2008, e em inglês em 2012, pela Beletrina Academic Press.
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- Crumbs, Miha Mazzini
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Camila,
Já tinha me esquecido da raiva que senti quando o livro simplesmente acabou na metade! Affff…. Ok, ele representa o país, mas eu queria mais! :-(
Também fiquei querendo mais, Lu! E aquilo de acabar nos 50% foi sacanagem! rsrs