Comprei o livro do Tajiquistão ainda no inicinho do projeto quando vi que Hurramabad, do escritor Andrei Volos, estava na lista dos 10 preferidos da Ann Morgan em sua volta ao mundo literária. Como o livro não estava disponível no Brasil ou em versão digital, encomendei o meu na Book Depository sem me preocupar com o tempo que ele levaria para chegar. Quando, enfim, o Tajiquistão foi sorteado, ele já estava aqui na minha estante só esperando para ser lido!
Hurramabad é uma coletânea de contos que se passam na fictícia cidade tajique de Hurramabad. Eles não têm uma conexão direta entre si e a princípio a gente não conhece o fio que os une, pois o autor não nos dá muitas informações que nos situem no tempo, mas ao longo da leitura a gente percebe que os contos retratam o colapso da União Soviética no Tajiquistão e a guerra civil que afligiu o país após sua independência, de 1992 a 1997. Cada conto nos apresenta a história de um personagem diferente, mas a maioria tem uma característica em comum: o fato de serem de etnia russa e terem se tornado estranhos no país em que nasceram. Essa é a história do próprio autor, Andrei Volos, cuja família emigrou para o Tajiquistão na década de 20, quando a Rússia tomou o país, e foi obrigada a ir embora 70 anos depois.
Alguns livros que li até agora já tinham me dado a impressão de que o mundo ainda não é capaz de ver com clareza os impactos da União Soviética e menos ainda as consequências de seu fim e minha recente viagem por duas ex-repúblicas, Geórgia e Armênia, confirmou essa impressão. Só se passaram vinte e poucos anos, apenas a geração mais nova nasceu em países independentes, seus pais cresceram em um mundo bem distinto. É muito pouco tempo!
Mas voltemos a Hurramabad! A época em que os contos se passam é bem conturbada. Não é estranho pensar que você pode nascer e crescer em um país, se identificar com ele e de repente passar a ser visto como um forasteiro por causa do país em que seu avós nasceram? E aí você se vê obrigado a “retornar” a um país que nem mesmo conhece, mas a que teoricamente pertence.
“Was this the thing called exile? Where had he met the word before? Only in novels he had read in his youth. […] He suddenly found himself in exile without even having to move anywhere, because that is where you are when everything around is foreign and dangerous. He had become a foreigner.”
As histórias são tristes, como a do filho que não quer partir antes de arrumar a sepultura do pai ou a do homem que reluta em deixar para trás a casa que ele levou 7 anos para construir. É triste pensar no quanto a insensatez e a ganância dos governantes mexem com a vida das pessoas, como acontece em todos os casos de colonização, mudanças de fronteiras, dominação. Hurramabad é um livro parcial, retrata a versão dos tajiques de etnia russa, mas qual livro não representa a visão de quem o escreve? Ele não entrou na lista dos meus livros preferidos, mas gostei muito dele, até mesmo por ter me mostrado uma versão da história diferente da convencional, que é a do povo dominado. Sem dúvidas é um livro impactante.
Hurramabad foi publicado originalmente em russo. Ele foi publicado em inglês em 2001, pela GLAS New Russian Writing.
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