Os países da Ásia Central não costumam ser os mais fáceis quando de trata de encontrar um livro de um autor local para ler. Muitas vezes descubro apenas um escritor cujos livros foram traduzidos para o inglês (em português é ainda mais difícil). Foi o caso de Chingiz Aitmatov, do Quirguistão, Ak Welsapar, do Turcomenistão, e de Andrei Volos, do Tajiquistão. Nenhum desses é fácil de encontrar, já que não estão disponíveis do Brasil, mas a busca valeu a pena, pois foram ótimos livros.
Quando chegou a vez do Cazaquistão fiquei até surpresa, pois encontrei não só um, mas dois livros em versão digital: The Day the World Collapsed, do escritor Rollan Seisenbayev, e Almaty-Transit — A Ghost Story, da escritora Dana Mazur. O primeiro parece ser interessante, retratando o período em que o Cazaquistão fazia parte da União Soviética e testes nucleares eram realizados no país, mas acabamos escolhendo o segundo por ser um livro mais recente. Confesso também que comprei para dar um força para a autora, pois trata-se de uma publicação independente, e também porque o preço era irrisório (cerca de dois reais).
Almaty-Transit — A Ghost Story, como o próprio nome entrega, é uma história de fantasmas. Não é um livro de terror, mas uma história em que o mundo espiritual se mescla com a vida aqui na Terra. Os personagens se dividem entre Los Angeles e Almaty, a maior cidade do Cazaquistão. Aidar é um cazaque que se mudou para os Estados Unidos e não conseguiu se desvencilhar do estereótipo do imigrante que se rebaixa profissionalmente e nunca obtém sucesso. Ele é casado com Merry, uma produtora de jazz viciada em drogas e bebidas. Os dois são completamente opostos. Dessa união pouco convencional nasceu Sultan, um garoto que se ampara no pai para contornar a negligência da mãe. As coisas se complicam para Sultan quando Aidar morre e ele se vê completamente desamparado. E é aí que a história migra para o Cazaquistão, pois o espírito de Aidar retorna à casa materna em Almaty.
A partir daí o enredo dá tantas reviravoltas que eu nem sei como descrever. O livro tem cerca de 160 páginas e pensando nisso agora nem sei como tanta coisa coube em tão pouco. A princípio eu achava que a presença do espírito de Aidar na história seria uma forma de descrever as crenças pós-morte do Cazaquistão, mas logo vi que a fantasia ia bem além disso. Confesso que a certa altura eu pensei “mas que loucura é essa?”. O que é aquele episódio do sorvete? Se você já leu, deve se lembrar do que eu tô falando, porque é bizarro.
Cada capítulo foca em um personagem diferente e a leitura é bem dinâmica. No fim das contas não acho que o livro tenha sido a melhor escolha para representar o Cazaquistão, pois a cultura do país é pouco explorada, mas foi bom para conhecer uma escritora cazaque contemporânea. Dana Mazur não escreveu o tipo de história que eu geralmente leio, mas ela conseguiu prender minha atenção. Achei que os personagens foram bem construídos e que as relações entre eles são bem reais. Se você conseguir deixar a realidade de lado por alguns momentos, vai gostar dessa história.
Almaty-Transit é um publicação independente de Dana Mazur. Ele foi publicado originalmente em inglês, em 2010.
Mais alguns escritores cazaques com livros traduzidos para o inglês:
- Mukhamet Shayakhmetov
- Rollan Seisenbayev
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Camila, enquanto minha preguiça de ler em inglês não passar, eu vou lendo os demais livros, em português. Tenho lido muito, mas extra projeto. Logo eu volto no ritmo, e até mesmo, intercalo com as demais leituras.
Lucimara, acho que esse era bem tranquilo de ler. Geralmente livros escritos por não nativos na língua são mais fáceis.