Para entender o livro da Irlanda, eu tive que relembrar as aulas de geopolítica que tive na escola. De lá para cá o mundo mudou, então não bastava que eu reavivasse minha memória. Tive que me atualizar e descobrir o que aconteceu com o IRA – Irish Republican Army, ou Exército Republicano Irlandês – nos últimos anos. O IRA era um grupo terrorista que lutava pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido e pela sua integração à República da Irlanda, motivado pelo desejo de se ver livre do domínio britânico e pelas diferenças religiosas: a maioria da população norte-irlandesa é protestante e a minoria católica se sentia prejudicada. Em 2005 o IRA declarou o fim de sua luta armada (apesar de terem acontecido atentados isolados depois disso), mas em 1994 a história era outra. Nesse ano The House of Splendid Isolation, da escritora Edna O’Brien, foi publicado. Apesar de ter sido o livro escolhido para representar a Irlanda (a do sul, um país independente e soberano, sem laços com o Reino Unido nos dias de hoje), ele acabou me ensinando um bocado sobre o país vizinho, ou melhor, sobre a ilha irlandesa como um todo.
The House of Splendid Isolation narra o encontro entre Josie O’Meara, uma viúva que vive sozinha em uma casa antiga, e McGreevy, um terrorista do IRA que está fugindo da polícia. O livro não conta uma história linear, pelo contrário, ele vai e vem no tempo e no espaço, o narrador não é sempre o mesmo e por isso a leitura pode ser um pouco confusa. Confesso que eu demorei um bocado para me situar!
No presente Josie é uma senhora idosa e doente, mas aos poucos fragmentos de sua juventude e do seu casamento frustrado vão sendo descortinados para nós. Quando McGreevy se esconde em sua casa fugindo da perseguição, ela vive em profundo isolamento. A princípio ela é feita refém por ele, mas conforme os dias passam eles começam a se aproximar. As conversas entre eles são raras, mas nesses momentos Josie não consegue enxergar McGreevy como o terrorista que a mídia descreve. Ela tenta entender seus atos e, mesmo sem conseguir simpatizar com sua causa, ela acaba desenvolvendo uma afeição por ele.
“Apropos of nothing he said that when he was a youngster and came South he thought everything was better – the weather, the lemonade, the holly berries. ‘And now?’ I said. ‘The south forgot us’, he said. Forlorn. Aggrivied. A likeness to those childres in fable banisehd, exiled in lakes for hundred of years, cut off from the homeland. ‘Now there are two wars… One with the English and one with ouselves,’ I said.”
“‘Do you feel hate’ she asks. ‘I can’t say it’s hate,’ he says. ‘But the British Army are in our streets and it’s wrong… Say what you will it’s wrong… What do you think would happen if Irish soldiers patrolled their streets and theis shires?’ “
Achei interessante a forma que Edna O’Brien usou para explorar o tema terrorismo. Ela não tentou nos seduzir com um personagem carismático, nem nos assustar com um terrorista cruel. É como se ela simplesmente dissesse “isso existe”, sem julgar ou absolver ninguém.
É meio difícil essa história ter um final feliz, mas o foco não é exatamente a fuga de McGreevy. O que ficou mais claro para mim foram os conflitos psicológicos de Josie e McGreevy, dois personagens unidos pela solidão. Como eu disse, não foi uma leitura fácil, mas no final eu senti que o esforço tinha valido a pena.
The House of Splendid Isolation foi publicado originalmente em inglês pela editora Weidenfeld & Nicolson, em 1994.
Mais alguns livros de escritores irlandeses contemporâneos:
- O Encontro – Anne Enright
- Mães e Filhos – Colm Tóibín
- The Secret Scripture – Sebastian Barry
- Long Time, No See – Dermot Healy
Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.
Camila, eu acabei comprando um outro livro na época, dessa mesma escritora. Ainda não li, mas logo logo devo começar essa leitura.
Fugiu do inglês, né Lucimara? rsrs Mas depois me conta como foi sua escolha. Li alguns comentários dizendo que nesse que eu li há vários pontos em comum com os outros livros dela. Devem ser bons!
Fugi Camila rsrs. Ainda estou lendo um em inglês, bem arrastado. Eu conto! Tem outros países também que eu troquei de livros, dando preferência pro português.
Qual foi o romance dela que você escolheu, Lucimara? Eu li A Luz da Noite (em português, porque ganhei de presente…) e é um bom romance, mas acho que não tem a ver com o projeto, não…
Carla, eu peguei o Dezembros Selvagens, mas ainda não li.