198 Livros: Portugal – Madrugada Suja

198 Livros - PortugalÉ claro que não seria fácil escolher um único livro de Portugal. Tinha a facilidade da língua, a grande oferta de livros portugueses no Brasil e, para deixar minha escolha ainda mais difícil, um monte de escritores contemporâneos que estão fazendo o maior sucesso por aqui. Um livro que tem recebido muitos elogios é  Equador, de Miguel Sousa Tavares, mas tive que deixá-lo de lado porque seu enredo não se encaixa na proposta da projeto. Para compensar, fiquei com outro livro do mesmo autor: Madrugada Suja, que prometia me contar mais sobre Portugal do que seu irmão mais famoso.

Madrugada Suja - Miguel Sousa Tavares

Madrugada Suja conta a história de Filipe, um jovem que cresceu na pequena vila portuguesa de Medronhais da Serra. Ele nasceu quando “o Império se desmoronava – primeiro a Índia, a seguir a África” e Portugal passava por muitas transformações. A mãe de Filipe morreu quando ele era muito novo e pouco tempo depois seu pai deixou tudo para trás, inclusive o filho, para trabalhar numa fazenda colectiva. Filipe acabou sendo criado pelos avós e viveu em Medronhais até os 17 anos. A vila, que durante sua infância tinha cerca de 50 habitantes, hoje é um lugar quase fantasma no qual vive apenas seu avô, o Tomaz da Burra.

A história começa em uma época intermediária, quando Filipe é um estudante universitário em Évora. Numa madrugada de festa e bebedeira acontece um fato que marca a vida dele e de alguns outros personagens. Os anos passam e encontramos Filipe novamente, agora um arquiteto, sem que aquela noite em Évora faça parte das suas preocupações. No momento ele precisa lidar com outro problema: a corrupção que permeia a área de construção civil. Mas é claro que os fatos daquela noite uma hora voltarão para assombrar sua vida quase tranquila.

A narração é ora em primeira, ora em terceira pessoa e mesmo quando em primeira pessoa o narrador não é único. Essa história de alternância de narradores me pareceu novidade quando li o livro de Omã, lá no inicinho do projeto, mas de lá para cá descobri que ela é mais comum do que eu imaginava.

Em Madrugada Suja a história muitas vezes volta no tempo e assim as últimas décadas de Portugal são contadas através das vida de Filipe. No passado percebi grande influência da Revolução dos Cravos de 1974 e no presente o tema mais marcante é a corrupção. O final é previsível, típico de romances em que o bem impera sobre o mal, mas mesmo assim gostei bastante do livro. Achei a leitura fluida, li rapidinho e fiquei com ainda mais vontade de ler outros livros de Miguel Sousa Tavares. Equador está na fila!

Antes que alguém me pergunte o porquê de eu não ter escolhido Saramago para representar Portugal no Projeto 198 Livros, eu já explico: o foco do projeto não é ler clássicos. Escritores como ele e Gabriel García Márquez (só para citar alguns que eu amo) eu já considero clássicos, apesar de sua contemporaneidade. Clássicos, imortais, não sei qual seria o termo correto. Só sei que agora prefiro sair da minha zona de conforto e descobrir novos autores, de preferência lendo livros publicados bem recentemente. E está sendo fantástico descobrir que a literatura é muito mais rica que do que as listas de melhores livros e escritores que a gente vê por aí!

Madrugada Suja foi publicado originalmente em Portugal, em 2013, e no mesmo ano no Brasil, pela Companhia das Letras.

Mais alguns livros de escritores portugueses:

  • Natureza Morta – Paulo Jose Miranda
  • Nenhum Olhar – Jose Luis Peixoto
  • O Remorso de Baltazar Serapião – Valter Hugo Mãe
  • As Três Vidas – João Tordo
  • Os livros que devoraram meu pai – Afonso Cruz
  • Matteo perdeu o emprego – Gonçalo M. Tavares
  • Nas Tuas Mãos – Ines Pedrosa

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

8 Comments

  1. Não tanto sobre Portugal, mas um bom escritor comtemporâneo português é o José Rodrigues dos Santos.. recomendo!

  2. Lucimara Busch

    Camila, eu abandonei esse livro. Não consegui ler. Não me prendeu.

  3. Lu Malheiros

    Camila,
    Sou muito chata, não consegui engolir aquele final! Passei o livro para a Carlinha, não sei se ela teve chance de ler antes de se mudar.
    Darei outra chance ao autor, mas primeiro vou ver se tem na biblioteca pública (a daqui fica em um lugar bem contramão, quase não vou lá).

    • Lu, o final também me incomodou. Na verdade toda a coincidência que levou até ele. É muito inverossímil, né? Mas tirando isso eu gostei do livro, principalmente da parte da infância de Filipe e a vida no vilarejo.

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