Eu nunca fui uma leitora de contos. Meu negócio sempre foram os romances, de preferência os grandes, os chamados calhamaços. Sou dessas que sonha com o livro e sente saudades dos personagens quando ele chega ao final. Gosto de me envolver, de deixar que eles entrem na minha vida. Resumindo, eu busco relações duradouras com os livros que leio. Os contos, por outro lado, são conversas rápidas. Quando a gente começa a se sentir dentro da história, puff, ela acaba! E aí já vem outra, sem que a gente tenha tempo para processar o que acabou de ler. Era assim que eu pensava até pouco tempo, até o #198livros me obrigar a ler algumas ótimas coleções de contos e rever meus conceitos.
Hoje vejo os contos como pequenos recortes que juntos me dão uma visão mais abrangente do contexto geral. Pelo menos é essa a impressão que muitos livros de contos que tenho lido para o projeto têm me dado. Um deles foi Mesye Kwik! Kwak, do escritor dominiquense Giftus R. John.
Mesye Kwik! Kwak diz a que veio no próprio nome. Ainda bem que o autor explica isso já no prefácio, pois senão é claro que eu nunca saberia que Mesye Kwik! é a frase que os contadores de histórias usam para se apresentar na Dominica e Kwak é a resposta do público. Seria algo como “Senhoras e senhores, vou contar-lhes uma história”, ao que as pessoas respondem com “Muito bem, deixe-nos ouvir”. E é isso que Giftus John faz, nos presenteia com um monte de pequenas histórias de seu país.
Para começar, em mais de um conto os personagens comentam que ninguém, nem mesmo os vizinhos caribenhos, sabe apontar Dominica no mapa e que sempre confundem o país com a República Dominicana. Confesso que esse erro eu mesma já cometi, mas também, eles não nos ajudam com esse nome parecido, né?
Os personagens dos contos são pessoas simples que enfrentam no dia a dia problemas típicos da maioria dos países latino-americanos: falta de água e saneamento básico, corrupção, desigualdade social, preconceito racial. Muitos emigram para outros países para tentar uma vida melhor. Uma mãe reclama que nas escolas as crianças aprendem sobre a História da Europa e dos Estados Unidos e pouco sabem do que aconteceu no próprio país. Acho que temos muito mais em comum com os países da América Central e Caribe do que imaginamos!
Um dos contos de que mais gostei foi o Hurricane, em que um rapaz descreve a passagem do furacão David na sua cidade, em 29 de agosto de 1979. Que agonia acompanhar a força da tempestade, os estragos nas casas vizinhas vistos pela janela (telhados inteiros voavam pelos ares!), a preocupação com a família e os amigos que estão em outras casas… A força da natureza pode ser aterrorizante!
Mesye Kwik! Kwak reúne 13 contos.Gostei muito da coleção e achei que eles conseguiram me mostrar diversas facetas da Dominica. Depois das recentes experiências, acho até que vou dar uma nova chance aos contos.
Mesye Kwik! Kwak foi publicado originalmente em inglês pela editora Virtualbookworm.com, em 2005.
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Mais uma que lê pouco contos. Só que a VAM tem dessas coisas, a gente lê o que consegue de melhor!
Fugindo do tema: o meu respeito pelos tradutores aumenta a cada dia. Não fiz as contas das diferentes línguas originais em que os livros foram escritos, mas o projeto não existiria sem, no mínimo, uma tradução para o inglês. Claro que os editores são figuras importantes também, mesmo com a possibilidade de publicar os livros por conta própria!
Lu, esses dias vi que foi o Dia do Tradutor e eu fiquei pensando nisso, no quanto eles são importantes para a literatura. A nossa VAM seria impossível sem eles!
Também leio pouco contos. Só pelo projeto mesmo!
Ou seja, o #198livros abre nossas cabeças também para novos estilos literários!
Penso exatamente como você Camila, nunca fui muito de contos, mas confesso que depois do projeto, estou vendo com outros olhos! Estou terminando Dubliners, que também são contos!
Ainda bem que temos lido livros de contos bons, né Ana? Assim dá para rever nossos conceitos.