Há pouco tempo, em setembro, fizemos uma curta viagem para conhecer Mariana e Catas Altas, duas cidades históricas mineiras que eu ainda não conhecia. No caminho entre as duas cidades queríamos aproveitar para conhecer alguns distritos de Mariana que fazem parte da Estrada Real. Queríamos passar por Camargos, Bento Rodrigues e Santa Rita Durão, vilarejos que fazem parte do Caminho dos Diamantes, a rota que no período colonial ligava Ouro Preto a Diamantina. Cada um deles teria pelo menos uma igreja de quase 300 anos que merecia ser conhecida.
Acabamos cumprindo os planos pela metade. O roteiro que pensamos em fazer passava por estradas de terra e ficamos com medo de nosso carro não dar conta. Paramos apenas em Santa Rita Durão, porque lá dava pra chegar pela estrada asfaltada. Agora me arrependo. Era melhor termos arriscado passar naquela estrada de terra, assim teríamos conhecido Bento Rodrigues, subdistrito de Santa Rita Durão, enquanto ele ainda existia. Ele não existe mais. No dia 05 de novembro, o rompimento das barragens de rejeitos de Fundão e Santarém*, da mineradora Samarco, provocou uma avalanche de lama que destruiu Bento Rodrigues quase por inteiro. A pequena Capela de São Bento, que eu queria visitar, desapareceu sob a lama.
* Informações mais recentes dizem que apenas a barragem de Santarém não se rompeu e que ainda é uma ameaça. Veja aqui.
Bento Rodrigues foi o local mais afetado, mas outros distritos de Mariana também foram atingidos. Em seguida a lama abriu caminho até o Rio Doce, correndo em direção ao Oceano Atlântico. Os danos causados são irreparáveis: mortes de pessoas e animais, destruição de patrimônios históricos insubstituíveis, histórias de vida apagadas e a maior catástrofe ambiental dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, quiçá do Brasil. Rio Doce, rio de nome poético, rio que representa vida para os lugares que banha. O nosso Rio Doce está morto. Queremos acreditar que existe esperanças de ressuscitá-lo, mas no momento o sentimento que paira é de luto.
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil (CC BY-NC-SA 2.0)
A responsabilidade pela reparação dos erros (aqueles possíveis de se reparar) é da Samarco, empresa controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton. É ela que deve reconstruir a vida das pessoas pessoas atingidas, que deve fazer o possível para recuperar o Rio Doce. Quem deve fazer isso se cumprir é o governo, quem deve fazer barulho é a imprensa, mas na prática a gente vê que não é assim que as coisas acontecem. A resposta é lenta e insatisfatória e por isso pessoas do Brasil todo se solidarizaram para ajudar as vítimas dessa tragédia.
Mariana já recebeu tanta coisa que a Prefeitura da cidade precisou suspender o recebimento de doações. Ela disponibilizou uma conta bancária para doações em dinheiro, mas muita gente fica receoso em doar para entes governamentais com medo de não haver uma correta destinação dos recursos. Compreensível, né?
Nas cidades banhadas pelo Rio Doce outro problema aconteceu: o abastecimento de água foi interrompido com a chegada da lama. Imagine uma cidade como Governador Valadares, onde vivem quase 300 mil habitantes, sem água! Um verdadeiro caos se instalou, mais uma vez a resposta dos responsáveis foi ineficiente e o povo se juntou para ajudar o leste de Minas e o Espírito Santo através da doação de água potável.
A Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem (RBBV), grupo do qual eu participo desde o início, está completando quatro anos de fundação. Nesse anos resolvemos comemorar o aniversário da Rede fazendo algo de bom: ajudando as vítimas da tragédia de Mariana e do Rio Doce. Um das ações é o incentivo do turismo em Mariana e região, como você pode conferir nesse post, pois acreditamos na força transformadora do turismo. A outra ação é mais concreta e urgente: estamos arrecadando recursos para ajudar a minimizar o sofrimento das vítimas do rompimento das barragens e para isso criamos uma Vakinha online.
As necessidades mudam a cada dia e agora o maior problema é a falta de água nas cidades banhadas pelo Rio Doce. Todo o dinheiro arrecadado será utilizado para a compra e distribuição de água mineral para os moradores dessas cidades. A doação é bem rápida e fácil através do site da Vakinha. Você doa o valor que quiser através do seu cartão de crédito ou de boleto bancário e pode acompanhar o valor que já foi arrecadado.
Caso no momento da destinação do dinheiro a falta de água já tenha sido resolvida (e a gente espera que se resolva o mais rápido possível!), a arrecadação será revertida para outro projeto que ajude as vítimas da catástrofe, em Mariana ou em outros municípios mineiros ou capixabas atingidos. A prestação de contas será feita no site da RBBV. A campanha pode ser acompanhada também nas redes sociais através da hashtag #UmAbraçoEmMariana.
Nossa ação é pequena perto da catástrofe que estamos acompanhando, mas nossa ajuda irá se somar à ajuda de muitos brasileiros e espero que a gente consiga minimizar a dor da tragédia de Mariana e Rio Doce. Doe o valor que você puder, não há valor mínimo! Juntos somos muitos!