198 Livros: Alemanha – A Rosa Branca

198 Livros - Alemanha

Eu sabia que seria quase impossível ler um livro recente da Alemanha que não abordasse o nazismo, mas às vezes não é preciso fugir dos clichês. Evitar esse assunto no #198livros não seria fechar os olhos para uma das maiores atrocidades do século passado? Assim como eu precisei ler sobre o genocídios que ocorreram na Armênia, Ruanda e Camboja, eu tinha que ler sobre o nazismo. Já li muitos livros e vi muitos filmes que abordam a perseguição aos judeus, mas dessa vez eu escolhi conhecer uma parte diferente dessa história: a dos alemães que se rebelaram contra o nazismo. Eu nunca tinha ouvido falar desse tipo de movimento até assistir à resenha da Isa Vichi, do canal Lido Lendo, sobre o livro A Rosa Branca, escrito por Inge Scholl. Fiquei tão intrigada com tudo que ela falou que quando sorteei a Alemanha não tive dúvidas de que livro escolher.

A Rosa Branca não é um romance, mas uma espécie de documentário, além de uma homenagem de Inge Scholl aos irmãos mais novos Hans e Sophie, que morreram por ousar desafiar o regime de Hitler. Hans Scholl foi um dos mentores da Rosa Branca, um movimento que pregava uma resistência passiva ao nacional-socialismo alemão. O grupo tinha apenas seis integrantes principais: os estudantes da Universidade de Munique Hans Scholl, Sophie Scholl, Christoph Probst, Alexander Schmorell e Willi Graf e o professor Kurt Huber. Todos foram executados.

Hans Scholl acreditava que a maioria dos alemães era contra o governo Hitler, mas tinha medo de demonstrar oposição ao nacional-socialismo. Ele queria falar com essas pessoas, mostrar que elas não estavam sozinhas. Sua ideia era criar uma corrente que unisse essas pessoas e ao mesmo tempo despertasse a consciência dos que não enxergavam o que estavam acontecendo. Era possível ser iludido, pois a propaganda do governo era muito forte. Hans e Sophie faziam parte de uma geração que cresceu educada pela doutrina nazista, mas cresceram e perceberam que estavam sendo enganados.

A Rosa Branca - Inge SchollA atividade da Rosa Branca consistia em produzir panfletos antinazistas e espalhá-los nas caixas de correio das casas na Alemanha. Eles não pregavam a violência, mas a resistência passiva. Apelavam para o senso ético e para os valores cristãos dos alemães. A atividade da Rosa Branca tem um quê de ingenuidade. Ficou claro para mim que eles não tinham o poder de criar uma frente forte de resistência ao governo e por isso o castigo que sofreram parece ainda mais brutal.

Trecho do primeiro panfleto:

“Não há nada mais indigno para um povo civilizado do que se deixar “governar” sem resistência por um corja de déspotas irresponsáveis, movida por instintos obscuros. Não é verdade que hoje todo alemão honesto envergonha-se de seu governo? E quem não prevê a dimensão da ignomínia que se abaterá sobre nós e nossos filhos quando enfim a venda que cobre nossos olhos tiver caído e os mais horrendos crimes, que ultrapassam qualquer limite imaginável, vierem à luz?”

Tudo aconteceu muito rápido. Não levaram muito tempo para descobrir a Rosa Branca. Ela só conseguiu espalhar seis panfletos, o sétimo ficou no rascunho. Pelo destino dos seus integrantes, é fácil perceber o quanto era difícil para um alemão se opor a Hitler. Até mesmo ouvir notícias estrangeiras era considerado alta traição! Como julgar a aparente passividade dos alemães sabendo como o governo rechaçava as tentativas de oposição?

Após publicar o primeiro relato sobre a Rosa Branca, na década de 50, Inge Scholl recebeu muitos depoimentos de pessoas que tiveram contato com seus integrantes durante a resistência e isso enriqueceu o livro ainda mais. A edição da Editora 34 tem um conteúdo fantástico. Além dos relatos da escritora, ela traz uma apresentação à edição brasileira, o prólogo à edição alemã, a íntegra dos seis panfletos publicados e o rascunho do sétimo, as sentenças condenatórias, relatos de testemunhas, o discurso de defesa do professor Kurt Huber e um posfácio à edição brasileira. É um material e tanto!

Trecho do segundo panfleto:

“O que importa agora é que nos reencontremos uns aos outros, que nos ajudemos a discernir bem, que pensemos nisso sempre, sem descanso, até o mais reticente se convencer da extrema necessidade de lutar contra esse sistema. Se uma onda de revolta se propagar pelo país, se houver algo no ar, se muitos participarem, então, em um derradeiro e extraordinário esforço, esse sistema poderá ser derrubado. Um fim com terror ainda é melhor que um terror sem fim.”

Apesar de não ser um romance, A Rosa Branca me emocionou muito. O livro é cheio de fotos dos integrantes da Rosa Branca, inclusive a foto de capa. Ver esses rostos tão jovens munidos de tanto ideal mesmo sabendo o que os aguardava é triste e ao mesmo tempo inspirador. A história da Rosa Branca também não pode ser esquecida.

A Rosa Branca foi publicado originalmente em alemão. Foi publicado no Brasil em 2013, pela Editora 34.

Mais alguns livros de escritores alemães:

  • The Mussel Feast – Birgit Vanderbeke
  • City of Angels: or, The Overcoat of Dr. Freud – Christa Wolf
  • O Perdido – Hans Ulrich Treichel
  • Adam e Evelyn – Ingo Schulze
  • O Tambor – Gunter Grass
  • A Montanha Mágica – Thomas Mann
  • O Lobo da Estepe – Hermann Hesse

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

5 Comments

  1. Pingback: ONDEM #168 – Não faça barulho na Alemanha | O nome disso é mundo

  2. Paula Simões

    Excelente dica de leitura! Obrigada.

  3. Lucimara Busch

    Esse também vou ler já já!

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