Acabei de ler Ruína y Leveza, da escritora gaúcha Julia Dantas. Eu não tinha expectativas, mas adorei! O livro é narrado por Sara, uma jovem publicitária que, num momento de indefinição profissional e amorosa, resolve viajar sozinha pela primeira vez. Ela compra uma passagem de Porto Alegre para o destino mais longe que seu dinheiro pode pagar e assim acaba desembarcando em Lima. Na escala em Buenos Aires ela conhece o argentino Lucho, que se torna seu companheiro de viagem.
Esse é só o começo, mas minha intenção aqui não é falar muito sobre o livro em si, mas registrar algumas reflexões que ficaram pipocando na minha cabeça durante essa leitura. Acho que quase todos os leitores do Viaggiando iriam gostar de Ruína y Leveza, afinal, é um livro sobre viagens! Sara sai sem um roteiro muito definido, mas acaba fazendo um mochilão por Peru e Bolívia. Quem não conhece esses países vai ficar curioso com as descrições dos lugares. Quem conhece vai adorar revisitá-los. Eu mesma me peguei com saudades da Bolívia e do Lago Titicaca e fiquei morrendo de vontade de refazer essa viagem.
Mais do que conhecer lugares interessantes, nesse mochilão Sara faz também uma viagem de autoconhecimento. Esse tema não é novo. É quase unânime a opinião de que ninguém volta o mesmo de uma viagem. Essa transformação com certeza é mais forte quando se viaja sozinho ou por um longo período, mas não é exclusiva de quem tira um ano sabático.
Viajo sempre com o Eduardo e por não mais que 30 dias seguidos, mas tenho certeza de que nossas viagens nos transformam um pouquinho de cada vez. Minha mudança mais emblemática com certeza foi ter me tornado vegetariana durante uma viagem. Justamente na tal viagem para Bolívia e Peru! Mas há tantos outros hábitos que eu sei que adquiri nas minhas andanças pelo mundo!
Esse negócio de eu só viajar sem despachar, por exemplo, não é algo isolado. Foi viajando que eu percebi que não preciso de muita coisa para viver. Se durante as viagens eu poderia ficar bem com poucos itens, por que em casa eu precisava me cercar de roupas, sapatos e acessórios em excesso? O minimalismo nas viagens acabou se entranhando em outros momentos da minha vida.
Viajando eu também me desvencilhei de muitas convenções. Uma coisa que eu adoro nas férias é passar dias sem me olhar no espelho e nem me importar com isso. A gente dá muito valor à aparência, mas nas viagens eu percebi o quanto os conceitos de moda e beleza são relativos e isso me trouxe uma liberdade enorme. Hoje não me preocupo em me vestir como os outros ou em estar com unhas e cabelos impecáveis. Se nas férias eu entro em restaurantes de chinelo, por que aqui vou ficar me preocupando com salto alto?
Tenho consciência também de que as viagens mudaram minha forma de enxergar o mundo. Seria impossível ficar indiferente a países como Camboja, Armênia e Cuba ou a um lugar no Brasil tão diferente da minha realidade como Mamirauá. Esses são só alguns exemplos de lugares e povos que me marcaram, mas sei que um pedacinho de mim se modifica a cada férias que tiro.
Sem as viagens que fiz nos últimos 10 anos, será que hoje eu comeria carne, seria mais consumista e vaidosa e teria menos empatia pelo próximo? Talvez sim. Ao mesmo tempo, não concordo com aquele papo de que “A vida é um livro e quem não viaja lê apenas a primeira página” – é do Santo Agostinho mesmo? Não acredito que seja obrigatório comprar passagens internacionais para rever conceitos. Que eu saiba, carimbos no passaporte não são atestados de nada, mas o que eu conheço é a minha história, o caminho que eu estou trilhando e eu sei que muito do que acredito hoje é fruto das viagens que fiz. E também dos livros que li, é claro!
Livros e viagens são minhas grandes paixões, por isso o Projeto 198 Livros, que de certa forma une as duas coisas, é tão especial para mim. Hoje eu seria outra pessoa se não tivesse me apaixonado pelo mundo, tanto o que eu conheço através das páginas dos livros quanto o que eu posso ver com meus próprios olhos. Sem as viagens minhas prioridades seriam outras e, consequentemente, minha vida também. Talvez eu demoraria mais para chegar aonde estou. Talvez meu caminho seria outro. Quem pode dizer?
Você que ama viajar, também acha que as viagens nos transformam? Já aconteceu alguma mudança importante na sua vida provocada por uma viagem? Vamos conversar mais sobre essas minhas divagações aqui embaixo, nos comentários!
Ruína y Leveza, da escritora Julia Dantas, foi publicado originalmente em 2015 pela Não Editora. O livro está disponível na Amazon em versão física e digital.
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Amei a indicação e coloquei na minha lista, interminável, de livros pendentes. Mas chegarei nele, certeza! BjO
Bem-vinda ao clube da lista interminável de livros para ler! ;-)
Concordo plenamente. Viajar, ver o mundo, conhecer pessoas diferentes, provar comidas exóticas, aprender sobre outras culturas, lidar com contratempos: tudo isso contribui para que nos tornemos pessoas mais abertas, tolerantes, pacientes… Enfim, quem não viaja não vai saber como o mundo é grande e como a vida pode ser diferente. Nada contra quem não gosta de viajar (tenho uma amiga que detesta; ela se define como uma pedra, que gosta de ficar no mesmo lugar). Mas, para mim, é essencial. Muito legal o blog, você está de parabéns!
Para mim também é essencial, Gleidson! E é exatamente isso que você falou: descobrir que a vida por ser diferente!
Eu concordo totalmente, Camila. Acredito que as viagens nos transformam sim, assim como livros, como pessoas. Mas acho que, infelizmente, nem todo mundo se deixa tocar pelo mundo assim. E, mais infelizmente ainda, nem todo mundo se transforma. Muita gente é sempre o mesmo, né? Também acho besteira essa história de ostentar passaportes, carimbos. Cada um escolhe o veiculo que mais gostar pra conhecer e viver o mundo e a si mesmo, né? Tem gente que pode preferir a terra, o seu bairro, sua comunidade, enfim. Bom, mas qt a mim, até criei o Depaysement por causa das viagens, porque minha vida em casa mudou e muda muito por conta das viagens. Passei a dedicar tanto tempo a planejar, ler, rever fotos, tanta coisa em casa por conta de viagens! Com certeza minha relação com roupas mudou por conta de viagem. Outro dia também eu estava pensando como adoro viajar e ter apenas uma mochilinha com poucas opções de roupas pra usar. Muito mais simples que decidir o que vestir quando estou em casa. bjs!
Jackie, eu sabia que você era das minhas! Concordo que nem todos se deixam transformar. Tem que estar aberto a ser tocado mesmo. Eu digo sem medo que eu mudo a cada dia. Não paro de aprender e a Camila de hoje com certeza é muito diferente da Camila de 5 anos atrás. E são os livros, as viagens e as pessoas que me ensinam cada vez mais.
Legal, Camila! Agora que vi que você continua no Youtube. Vou te acompanhar! :-)
Estou adorando te ver por lá, Lucimara! =)
Nossa, Camila, vc me fez pensar. Eu também acho que mudei muito nesse sentido de precisar de menos coisas e me libertar dessas convenções de ter que ir de maquiagem, salto alto etc. Mas nunca tinha pensado que era conseqüência das viagens.
Pra cá trouxe 2 malas grandes e uma está até hoje intocada, trancada, escondida. Vivo com roupas de uma mala e ta mais que bom (tenho mais sapatos e biquinis que precisava, e calças…nunca usei). Viajando aprendi quais roupas nao precisam passar, e só tenho essas. Trouxe meu mochilão mas até hoje só viajei com minha mochilinha mesmo.
Sempre pensava quando que eu fiquei tão diferente das minhas amigas…e quem sabe foi isso, ver o mundo de uma forma diferente.
Virou booktuber! Já quero ver 😉
Ah e Mamirauá <3. Foi das viagens mais marcantes mesmo!
Beijos
Carlinha, aposto que as viagem têm muita influência nessas mudanças! É claro que não são só as viagens, mas acho que a gente começa a ver as coisas de outra forma. Também sinto que hoje sou muito diferente da maioria das minhas amigas. E talvez a principal diferença sejam nossas prioridades, que são muito diferentes.
Adorei te ver por aqui! =)
Beijos!
Entrei nessa de viajar leve por medo de ter bagagem extraviada, e aos poucos fui me desapegando dos supérfluos que levava comigo. Nossa última viagem foi com o bebê e levamos duas mochilas, uma nossa e outra pra ele. E ai da assim levei roupa demais pra ele. Ficou o aprendizado de que ele também precisa de pouco (e isso começou antes dele nascer, não fiz enxoval), que deixar um dia livre no roteiro é libertador e garante boas surpresas, e que desapego foi e é dos maiores aprendizados que tive viajando.
É isso mesmo Natalia, a gente vai percebendo que se cerca de muitos supérfluos. Sinto que esse desapego que começou nas viagens hoje eu carrego para todo lado. É libertador!
Muito bom o texto e me vi muito nele. Principalmente quando você disse que se tornou vegetariana após essa viagem.. e foi o que aconteceu comigo também. Depois de passar por Bolivia e Peru, meu desejo de virar vegetariana só cresceu e voltando pra casa, já não era mais a mesma.. e assim aconteceu essa transformação na minha vida. Mesmo uma viagem curta, transforma a gente um pouquinho e isso é o que torna as viagens ainda mais fascinantes! :)
Você também, Taís? Definitivamente algo acontece nos Andes! =)
Nossa, que curioso! Virei vegetariana pouco depois do mochilão Chile-Bolívia e Peru. A Bolívia certamente foi impactante, já saí de lá sem querer comer frango. Excelente post, como sempre. Bjos, Larissa
Que coincidência! Será que tem alguma energia especial naquela região que faz com que as pessoas tenham compaixão pelos animais? =)