Trinidad, onde Cuba me encantou

Eu sabia que iria gostar de Trinidad bem antes de colocar meus pés lá. A certeza veio antes mesmo de eu ter visto alguma foto da cidade. Bastou saber que ela era uma pequena cidade colonial preservada, patrimônio da Unesco, para que eu a colocasse no topo da minha lista de desejos em Cuba. Pela descrição, era o meu número. E não me enganei. Nem posso dizer simplesmente que gostei da cidade. A verdade é que caí de amores por Trinidad!

Foi só após chegar a Trinidad que eu me apaixonei por Cuba. Se tivéssemos ficado apenas em Havana, minha impressão do país teria sido outra. Apesar de a capital ter me impressionado pela grandiosidade de seu patrimônio histórico e arquitetônico, não me entendi tão bem com ela. Já comentei sobre o assédio aos turistas que tanto me incomodou em Havana e talvez tenha sido a ausência desse assédio intimidador o que me deixou encantada por Trinidad logo de cara. Mas não foi só isso.

Trinidad tem tudo o que eu mais procuro nas minhas viagens: história, cultura e hospitalidade. Ela foi a terceira vila fundada pelos espanhóis em Cuba, em 1514. No século XIX Trinidad atingiu seu apogeu com a produção de açúcar, mas essa euforia não chegou ao século seguinte, fazendo com que a economia da cidade entrasse em declínio. Para orgulho dos trinitários e alegria dos turistas de hoje, Trinidad foi muito bem preservada.

Correndo o risco de perpetuar um clichê, digo que caminhar pelas ruas de Trinidad é como fazer uma viagem ao passado. Acho que em qualquer lugar de Cuba a sensação de voltar algumas décadas no tempo é forte, mas em Trinidad as páginas do calendário voltam ainda mais longe. Há algo no ar, aquele clima de cidade pequena que faz com que o tempo pareça correr mais devagar. Não dá para passar correndo por Trinidad. Se possível, planeje pelo menos três dias por lá para curtir esse clima com calma.

As construções de Trinidad não são grandiosas como as de Havana. Até há alguns casarões imponentes, mas em geral as casas são mais simples, a maioria de um piso só. É fácil perceber o cuidado dos moradores com os detalhes. Dá para passar horas só admirando as portas e janelas de Trinidad, mas o que realmente encanta é a harmonia do conjunto. Trinidad é uma daquelas cidades que nos revelam uma bela surpresa a cada curva.

Brasileiros adoram dizer que Trinidad é a Paraty de Cuba. É essa nossa mania de sempre comparar. É uma Veneza aqui, uma Paris acolá… Eu amei Paraty e tentei encontrar as semelhanças, mas não vi tantas. Acho que em comum só mesmo o fato de ambas serem cidades coloniais com ruas de pedras. O estilo arquitetônico é bem diferente, até porque uma tem herança espanhola e a outra portuguesa. Trinidad também está bem mais distante do mar que Paraty. De alguns pontos da cidade a gente consegue avistá-lo ao longe, mas são cerca de 10 km, então ela não é uma cidade litorânea como Paraty.

Costumam também comparar Paraty com Colonia del Sacramento. Não sei de onde surgem essas comparações, só sei que até agora só conheci cidades encantadoras com esse título. Adoraria conhecer mais paratys espalhadas pelo mundo. Tem mais alguma para me indicar? ;-)

Não há muito o que falar sobre os pontos turísticos de Trinidad. A verdadeira graça da cidade está em flanar pelas ruas. Não precisamos de mapa ou roteiros, basta caminhar sem rumo para aproveitar o que ela tem de melhor. Mapas às vezes até atrapalham, porque dependendo da fonte as ruas têm nomes diferentes, um novo e um antigo. Mas, para não dizer que eu fiquei só tagarelando sobre a cidade sem deixar nenhuma informação útil, vou falar sobre alguns pontos que acabam cruzando o caminho de qualquer turista e que valem a parada.

A Plaza Mayor é o coração do centro histórico, um lugar a partir do qual a gente sai em direção a qualquer rumo e encontra algo interessante. Ela é cercada por imponentes construções do período colonial e pela Iglesia Parroquial de la Santísima Trinidad. Ela é mais agradável no final da tarde, pois durante o dia não há nenhuma sombra que nos convide a sentar em seus bancos. A não ser que seja um dia nublado como um dos que peguei em Trinidad, claro.

Ao lado da Igreja Paroquial fica a escadaria da Casa de la Música. À noite parte da escada fica interditada para o espaço do bar onde rola música e show de salsa, mas ela continua sendo ponto de encontro.

Há vários museus em Trinidad, mas nós não estávamos muito a fim desse tipo de atividade, por isso escolhemos só um para visitar. O escolhido foi o Museu Histórico Municipal e nem foi por causa do seu acervo histórico. Demos uma olhada no casarão, mas passamos rapidamente pela exposição e seguimos para o que mais nos interessava: a torre!

Pois é, queríamos mesmo era conhecer a torre do museu. Olhando de baixo ela nem me pareceu tão alta, mas quando subimos vimos que a vista lá de cima realmente valia a pena. Apesar do dia nublado, tivemos uma vista linda de toda Trinidad, especialmente dos prédios históricos lá perto e do mar num horizonte não tão distante.

Outro ponto que acaba sendo imperdível em Trinidad é a Plaza Carillo, também conhecida como Parque Céspedes. Não só porque ela é uma praça linda, mas principalmente porque lá fica o ponto de wi-fi de Trinidad! (Veja como funciona o acesso à internet em Cuba no meu post com dicas práticas). Talvez por isso o ambiente da praça seja tão legal. Lado a lado ficam turistas e locais, jovens e velhos, famílias e mochileiros. Esse foi um dos meus lugares preferidos para passar o tempo em Trinidad.

Ao redor da Plaza Carillo ficam alguns prédios imponentes de Trinidad. Alguns sediam órgãos públicos, mas dois chamam atenção por serem impecáveis: os hotéis Iberostar e La Ronda. O Lonely Planet diz que o Iberostar é um dos poucos hotéis de Cuba que oferecem internet de graça aos seus hóspedes. Devem ser hotéis muito bacanas, mas eu fiquei bem satisfeita com nossa casa particular e com o cartão de internet para usar na praça. :-)

Fora do miolo do centro histórico, mas ainda bem perto, fica a Iglesia de Santa Ana, ou o que restou dela. Eu tenho uma certa atração por ruínas, lugares abandonados, pinturas imperfeitas, por isso adorei essa igreja. Ela fica na Calle Santa Ana, na praça de mesmo nome. No fim da tarde a igreja ganha cores novas que a deixam ainda mais bonita.

Para fechar a lista de atrações, tem a Feira de Artesanato que acontece diariamente numa rua nos arredores da Plaza Mayor. Não sei o nome da rua, mas andando por ali durante o dia você vai acabar se deparando com a feira. É um ótimo lugar para comprar souvenires interessantes com preços bons. Até eu, que viajo com minha bagagem minúscula, não resisti! Os vendedores não eram insistentes, então fiquei bem à vontade para andar por lá.

E essa foi a Trinidad que eu conheci. Quer dizer, um resumo dela. Apesar desse post já ter ficado enorme, não é só isso o que tenho para falar sobre Trinidad. Alguns detalhes merecem posts exclusivos, assim como a Playa Ancón, então vocês ainda verão mais Trinidad por aqui. Uma cidade que me encantou como ela não poderia ter um espaço tão pequeno no Viaggiando. ;-)

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