Quando eu descobri que existia a Estrada Real, meu sonho era percorrê-la de uma só vez. Eu imaginava uma viagem de pelo menos um mês num carro 4×4, um mapa na mão e muita poeira do lado de fora. Passada mais de uma década, esse plano nunca saiu do papel. A grande viagem não aconteceu, mas, em compensação, fizemos várias viagens curtas. Uma semana de férias aqui, uma escapadinha de fim de semana ali e aos pouquinhos vamos conhecendo toda a Estrada Real, sem pressa.
Eu achava que já tinha conhecido todas as grandes estrelas dessa rota: Tiradentes, Ouro Preto, Paraty, Diamantina. E então eu conheci Prados. Como é que eu tinha passado tantas vezes ali do lado e não sabia que Prados era tudo aquilo?
Estávamos mais uma vez percorrendo a Estrada Real aos pouquinhos. Vínhamos do sul de Minas, tínhamos passado a noite em Tiradentes e era dia de voltar para casa. Em vez de pegar a estrada mais rápida, preferimos aproveitar a chance para conhecer mais um pedacinho do Caminho Velho, tão perto de casa e ainda pouco explorado. Passamos por Bichinho, que já conhecíamos, e seguimos pela estrada de terra. Nosso carro não é próprio para aventuras, mas era época seca e não tivemos problemas.
Na chegada a Prados já começamos a avistar algumas construções antigas e casarões imponentes. Era domingo e as ruas estavam vazias. Podíamos parar para observar à vontade. Logo já estávamos satisfeitos. Assim como em quase toda cidade da Estrada Real, havia por ali traços da história de Minas Gerais e da riqueza trazida pelo.
Mas ainda não tínhamos visto nada! Foi quando chegamos ao verdadeiro centro histórico, no alto da cidade, que meu queixo caiu. Que cidade fantástica! Será que o fato de estar tão pertinho de Tiradentes é o que faz com que Prados seja deixada de lado? Seria mais ou menos o que acontece com Serro e Diamantina, quando o brilho de uma acaba ofuscando a outra? O motivo eu não sei, só sei que não é por falta de atrativos que essas cidades não entram na maioria dos roteiros.
Começamos nosso passeio pela Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída pelos escravos em 1770. A torre lateral não faz parte da construção original, foi adicionada posteriormente. Ela estava fechada, então só a vimos de fora, no alto do morro. Deixamos o carro por ali e começamos a andar pelos arredores.
Duas coisas logo chamaram nossa atenção: a ótima vista para o restante do centro histórico, que continuava contornando os morros da cidade, e um lindo casarão branco e azul, típico da arquitetura colonial mineira. O tal lindo casarão abrigava o antigo Ginásio São José. Hoje ele sedia a Câmara Municipal e outros órgãos públicos, mas no século XVIII ele era palco de festas e saraus. Só depois ele foi transformado em escola.
O mais legal é que mesmo sem ter preparado nossa ida a Prados e sem ter um guia em mãos, pudemos conhecer detalhes da história da cidade e de suas construções, pois nas casas históricas havia placas informativas. Em inglês e português! Uma medida simples, mas que deixa a visita à cidade muito mais interessante. Quem dera toda cidade histórica adotasse essa prática!
Foi assim que eu soube que essa casinha charmosa aqui embaixo era a Casa do Sô Mamede e a mais antiga de Prados.
“Apontada como a casa mais antiga de Prados, este imóvel foi erguido na primeira metade do Século XVIII pelos bandeirantes Manoel e Félix Mendes do Prado, paulistas de Taubaté que, em 1704, fundaram o arraial minerador que deu origem à cidade de Prados. Pertenceu à Teresa de Souza Caldas e depois ao inconfidente Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, exilado em 1790. Ao longo do tempo, passou pelas mãos de vários proprietários, incluindo o conhecido alfaiate João Cardoso, carinhosamente apelidado de Sô Mamede.”
Nos arredores da Casa do Sô Mamede há vários outras construções setecentistas, todas em bom estado, muitas com cara de recém-restauradas. Fiquei muito feliz por descobrir que Prados está sendo bem cuidada. O centro histórico, abrangendo 115 casas, é tombado pelo município. Aparentemente seus moradores têm orgulho do patrimônio que possuem e pra mim isso é o que torna uma cidade histórica especial.
Caminhamos até o final da rua e logo chegamos àquela igreja que avistamos lá do outro lado, da Capela do Rosário. Era a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída entre 1712 e 1770 em estilo rococó. Ela também estava fechada quando estivemos lá, ou talvez nós é que não tenhamos visto a entrada, pois parece que ela abriga um museu de arte sacra. Logo ao lado fica a Antiga Casa da Câmara com suas sete janelas, hoje propriedade particular.
Fazendo parte do circuito do ouro, Prados teve um papel importante na Inconfidência Mineira. Lá nasceram e viveram vários inconfidentes, inclusive Hipólita Jacinta Teixeira de Mello, a única mulher inconfidente. Marília de Dirceu e Bárbara Heliodora são personagens femininas de maior destaque, mas foi Dona Hipólita quem participou ativamente do movimento. Mulher letrada, coisa rara na época, ela era responsável pelas correspondências entre os inconfidentes. O Casarão da Dona Hipólita, ao lado da Matriz da Conceição, é testemunha dessa história.
“Construída no século XVIII, esta casa pertenceu ao Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes e sua esposa Hypólita Jacinta Teixeira de Mello, que participaram da Inconfidência Mineira. Perseguidos, o Coronel foi enviado ao exílio e Dona Hypólita empreendeu todos os recursos jurídicos para manter sua propriedade depois herdada pelo filho adotivo Antônio Francisco Teixeira Coelho, o Barão da Ponta do Morro. Passou a abrigar o Fórum Municipal em 1892, após a emancipação da Vila de Nossa Senhora da Conceição de Prados.”
Nossa visita a Prados foi rápida e superficial. As plaquinhas nas fachadas das casas nos ajudaram a conhecer melhor a cidade, mas serviram também para atiçar ainda mais minha curiosidade. Foi fácil perceber a riqueza histórica e arquitetônica de Prados, mas sinto que há muito mais do que consegui enxergar. Adoraria voltar para um passeio mais completo.
No município de Prados também ficam Bichinho, famosa pelo artesanato, e o Museu do Automóvel da Estrada Real. Como já conhecíamos esses dois lugares, passamos reto, mas vale a pena combinar a visita à cidade com essas atrações. É um passeio e tanto!
Veja todos os posts sobre a Estrada Real no Viaggiando.
Boa tarde Camila. Tudo bem?
Meu nome é Leandro, mas sou conhecido como Léo Carvalho. Sou dono do site de Prados (www.pradosmg.com.br) há 16 anos no ar e topo da busca do google. Fiquei muito feliz e emocionado com sua matéria. Fala muito bem de Prados e mostra ótimas fotos da nossa querida cidade. Gostaria que desse uma olhada no meu site, caso ainda não conheça. Lá tem todos os tipos de informações, muitas fotos, eventos, etc., vale a pena dar uma conferida.
Na segunda quinzena de julho, a partir do dia 13 tem muito o que fazer por aqui; é fim de semana do Passeio à Serra que este ano está comemorando 150 anos ( o passeio ecológico mais antigo do Brasil), começa também o festival de Música de Prados. Nossa cultura é muito vasta, temos muito a mostrar. Venha nos visitar mais vezes. Parabéns e grande abraço.
Oi, Léo! Quero muito voltar a Prados. Da próxima vez será com mais tempo, provavelmente me hospedando aí. Entrarei no seu site para ter mais informações! Um abraço!
Gente, como é que não se ouve falar de Prados… que lugar lindoooo e certamente vai pra listinha pra próxima vez que eu voltar a essa região! Adorei e já programei lá no FB do Aprendiz pra mais gente conhecer essa belezura!
Não é? Também não entendo como lugares fofos assim ficam tão escondidos! Pretendo voltar lá para aproveitar com mais calma.
Sugere algum hotel em Prados?
Grassy, eu não conheci nenhum, mas depois de visitar Prados fiquei com vontade de me hospedar lá e dei uma pesquisada. Encontrei algumas opções, a maioria em Bichinho, mas também umas 3 em Prados. Duas me parecem boas: o Apart Hotel Água Limpa e a Pousada Vila Olga. Nenhuma fica exatamente no centro histórico. Seguem os links:
Apart Hotel Água Limpa: https://www.booking.com/hotel/br/apart-agua-limpa.pt-br.html?aid=1763473
Pousada Vila Olga: https://www.booking.com/hotel/br/pousada-vila-olga-prados.pt-br.html?aid=1763473
Bichinho, que é distrito de Prados e fica no meio do caminho a Tiradentes, também tem algumas opções interessantes. Dê uma olhada em todas as opções: https://www.booking.com/city/br/prados.html?aid=1763473
Sou pradense. Moro há 40 anos no estado do Rio. Camila, parabéns pela reportagem, formidável, emociona quem é filho da terra!Foi sem querer que achei esta reportagem, valeu à pena. Fiz uma viagem, como se estivesse retornando ao lar.
Mas Prados tem muito mais … música (orquestra e banda), festas folclóricas, artesanato, um povo maravilhoso. E o interior das igrejas? Belíssimas…
Que bom que gostou, Israel! Eu ainda quero muito voltar a Prados com mais tempo. Inclusive agora tenho mais um motivo para isso. Pesquisando a genealogia da minha família, descobri uma antepassada de Prados. Ela saiu de lá no início do século XIX.
Também adorei tido o relato.
Devo conhecer Prados este finde.
Gostaria de rever todo esse relato por whatssap, se possível.
Mas mesmo se não for possível agradeço , toda essa maravilha relatada com tanto esmero!!!!
21 99351-7782
Lourdes.