Ao lado do prédio onde moro havia um conjunto de sobradinhos construídos algumas décadas atrás. Eram uma gracinha, um toque de cor na minha rua. Lá havia um comércio local, inclusive uma clínica estética que eu frequentava. Quando a dona me contou que iriam se mudar porque o proprietário tinha pedido o imóvel, já imaginei o que aconteceria em breve. E não deu outra. Pouco tempo depois os sobrados estavam no chão e no lugar surgiu um estacionamento. Sim, um árido e sem graça estacionamento. Pelo menos a obra foi mais rápida do que se tivessem construído um prédio, o destino comum de muitas casas de BH.
Com certeza esse não é um problema exclusivo de Belo Horizonte. Pelo contrário, parece que no Brasil não temos apreço pela nossa história. BH não é uma cidade muito antiga. As casas da época da fundação da cidade têm pouco mais de 100 anos. Muitas estão em bom estado de conservação, mas mesmo assim vemos dezenas delas irem para o chão todos os meses para dar lugar a prédios que vão tornando as ruas da cidade todas iguais. Eu fico muito triste cada vez que vejo um novo lote vazio. Corro no Google Street View para ver a imagem de uma linda casa que não existe mais. A impressão que se dá é que em breve só restarão de pé as casas tombadas, que não são muitas.
Sei que o assunto é complexo. As cidades precisam se modernizar, mas é claro que daria para fazer isso de forma planejada para que a história fosse preservada ao lado das inovações. Falta interesse e incentivo, sobram construtoras ávidas por erguer prédios novos enquanto tantos outros permanecem desocupados.
Felizmente existem algumas iniciativas de pessoas que desejam manter vivo nosso patrimônio arquitetônico. Um deles é o Casas de Belo Horizonte, um projeto do arquiteto Ivan Araújo que tem o objetivo de “identificar as casas antigas de Belo Horizonte, e sempre que possível, um pouco da história de cada uma”.
O projeto Casas de Belo Horizonte começou com as páginas no facebook e no instagram e aos poucos foi alçando novos voos. No ano passado eu participei da primeira caminhada fotográfica organizada pelo Ivan, o Fotografa BH. Encontramos o grupo na Praça da Liberdade e seguimos com ele pelo Bairro de Lourdes conhecendo e fotografando algumas das casas mais bonitas do bairro.
O Ivan ia nos contando o que sabia sobre elas, pois muitas ele conhece por dentro. Ele é daqueles que bate na porta para conhecer o dono e conversar sobre a casa, sabe? E com isso ele vai formando um rico acervo sobre as casas de BH antes que elas desapareçam. Foi um passeio muito legal!
Esse projeto super bacana se uniu a outra iniciativa muito legal, o Chão que eu Piso, das jornalistas Paola Carvalho e Raíssa Pena, que cataloga fotos de pisos encontrados em construções históricas no mundo todo. O Casas de BH e o Chão que eu Piso têm tudo a ver! Então eles se juntaram para criar um projeto ainda mais legal: o Casa e Chão.
O “Casa e Chão – Arquiteturas e Histórias de Belo Horizonte” é um livro lindo, fruto de uma campanha de financiamento coletivo que eu fiz questão de apoiar. Nele foram catalogadas 37 casas de BH com suas histórias, fachadas e, é claro, seus pisos.O livro é uma preciosidade, cheio de informações sobre as construções e recheado de lindas fotos do interior das casas aos quais não teríamos acesso.
Eu garanti meu exemplar do livro Casa e Chão na campanha de financiamento coletivo, mas hoje ele está disponível em algumas livrarias de BH: Ouvidor (Fernandes Tourinho, 253, Savassi), Canto do Livro (Shopping Ponteio) e Spiral com Café (Carandaí, 418, Funcionários). Acho que também é possível comprar pela loja do Casas de Belo Horizonte no facebook.
Eu estava devendo esse post há um tempão, desde que participei do primeiro Fotografa BH. Depois peguei meu livro e pensei que já passava da hora de falar desses projetos fantásticos aqui, mas vocês sabem que ando devagar com o blog. Mas agora não pude mais enrolar, porque queria contar para vocês que semana que vem, na manhã do dia 11/06/17, acontecerá a 2ª Edição do Fotografa BH, dessa vez no Bairro Funcionários. O evento é gratuito. É só chegar ao lugar marcado e se juntar à turma para o passeio. Fique de olho no evento para mais informações.
Quem sabe valorizando e divulgando o patrimônio arquitetônico de Belo Horizonte a gente ajude a mantê-lo de pé?
Conheça mais de Belo Horizonte nos posts aqui no Viaggiando.