Dessa vez fui um pouco preguiçosa. Eu não tinha nenhuma indicação de livro da Nicarágua, então quando O País das Mulheres, da escritora nicaraguense Gioconda Belli, foi escolhido para ser lido no Leia Mulheres de Belo Horizonte, resolvi contabilizar a leitura também no 198 Livros. Ele não é exatamente o tipo de livro que procuro no projeto, mas, na falta de algo mais apropriado, aproveitei a oportunidade.
O País das Mulheres se passa na fictícia República de Fáguas. A presidenta Viviana Sansón, fundadora do PEE (Partido da Esquerda Erótica), acaba de sofrer um atentado durante um evento que comemorava a aniversário de seu governo. Enquanto o pequeno país latino-americano vive a expectativa pela vida ou morte da presidenta, vamos conhecendo o desenrolar dos acontecimentos que a levaram ao poder.
Nem todos estão torcendo pela recuperação de Viviana. Nenhum governante agrada a todos, claro, mas as mudanças provocadas por Viviana em Fáguas foram profundas. Ela e as integrantes de seu governo tentaram romper com séculos de patriarcado e instaurar um país em que houvesse igualdade entre os gêneros. Elas tomaram medidas drásticas. Todos os cargos públicos foram ocupados por mulheres. Os homens tiveram que ficar em casa para ter a experiência de viver a vida de suas mulheres por um tempo, especialmente na criação dos filhos. As tarefas domésticas foram divididas. A educação foi reformulada. Estupradores passaram a ser expostos em jaulas em praça pública.
O livro tem um quê de realismo fantástico, não somente por ser uma utopia feminista, mas porque coisas fantásticas realmente acontecem, como a diminuição da testosterona dos homens após a erupção de um vulcão. O fenômeno explicaria a passividade dos homens frente às mudanças implementadas por Viviana.
Infelizmente eu não pude participar no encontro do Leia Mulheres naquele mês, mas tenho certeza de que a discussão deve ter sido ótima. O País das Mulheres realmente se encaixa muito mais numa roda de conversa sobre literatura e feminismo do que na proposta do meu projeto. E por isso ele foi uma decepção para muita gente, como vocês podem ver na resenha da Michelle Henriques no site do Leia Mulheres.
Para quem não está em busca de se aprofundar muito nas questões feministas, pode ser uma boa leitura, rápida e divertida. E, apesar de ser uma história fantástica ambientada num país fictício, O País das Mulheres até que pode acrescentar algo do Projeto 198 Livros ao levantar a discussão sobre a situação das mulheres. Nesse ponto Fáguas poderia representar qualquer país latino-americano.
Como vocês podem perceber pela foto do livro, eu o li na edição original, em espanhol, apenas porque na época ela estava mais barata que a edição em português, mas El País de las Mujeres já foi publicado no Brasil.
Se você souber de algum livro nicaraguense que se enquadre melhor nas propostas do projeto, me conta aí nos comentários! Quem sabe a Nicarágua não ganha uma chance numa futura repescagem?
O País das Mulheres foi publicado originalmente em espanhol, em 2010, e em português no Brasil em 2011, pela Editora Verus. A tradução é de Ana Resende.
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