198 Livros: Guiné Equatorial – Arde el monte de noche

198 Livros - Guiné Equatorial Eu escolhi o livro da Guiné Equatorial que leria para o #198Livros lá no inicinho do projeto. Foi num dia em que li uma matéria sobre o escritor guineense Juan Tomás Ávila Laurel e soube que ele sofria perseguições políticas em seu país por ser uma das vozes que denunciavam a ditadura do presidente Teodoro Obiang Nguema. Um de seus livros estava sendo traduzido para o inglês e receberia o título By Night The Mountain Burns, mas a boa notícia é que a versão original era em espanhol.

Como eu poderia ler na língua de origem, achei que não precisaria esperar, mas me enganei. Eu não encontrava o livro para comprar! Fiquei dois anos esperando Arde el monte de noche ficar disponível novamente na Book Depository, porque, já que eu podia, eu queria ler na língua original. Quando isso enfim aconteceu eu tratei de comprá-lo na mesma hora.

Em Arde el monte de noche, o narrador relembra sua infância numa ilha não nomeada no Oceano Atlântico, vizinha de países também não nomeados, mas que a gente sabe que se trata da Ilha de Annobón (ou Ano-Bom), terra natal dos pais do escritor e lugar em que ele também viveu uma parte de sua vida.

Annobón tem apenas 17 km² e pertence à Guiné Equatorial, mas fica bem isolada do país, a cerca de 350 km do continente. Eu nunca teria ouvido falar dela antes da leitura do livro se não fosse por um post do Gabriel Britto. Ele conta que a pequena população de 5 mil habitantes ainda sobrevive basicamente de pesca artesanal e de agricultura familiar, o que mostra que Annobón não mudou muito desde que Juan Tomás Ávila Laurel viveu lá.

Lendo Arde el monte de noche me senti como se estivesse conversando com alguém que relembrava sua infância com muito saudosismo. O narrador nos conta como era viver numa ilha pobre e isolada, fala da dificuldade para conseguir a comida de cada dia, das doenças que quase dizimavam os ilhéus, das lendas e superstições que aterrorizavam as crianças.

Arde el monte de noche - Juan Tomás Ávila LaurelEle mostra uma ilha cheia de mulheres, velhos e crianças, já que os homens muitas vezes vão embora em busca de trabalho no continente. Na casa do nosso narrador há muitas mães, mas nenhum pai. Um arranjo complicado quando os homens são responsáveis pela pesca e as mulheres pela agricultura. De forma geral a vida das mulheres em Annobón não é nada fácil.

“Cuando las madres van a sus plantaciones, dejan a los niños pequeños al cuidado de una persona mayor de la casa que no había tenido que ir por alguna razón, o dejan a los chiquitos al cuidado de los hijos un poco mayores, sobre todo una chica. Bueno, encargar el cuidado a una chica es lo mejor, pues son más responsables, pero con ello se sacrifica a una que podía hacer mucho en los labores de la finca y traer algo un poco más pesado que lo que trajera un chico. Nunca supe por qué las mujeres tenían más capacidad de cargar pesos sobre la cabeza que los hombres. Ahora puedo pensar que posiblemente los hombres y las mujeres tengan la misma capacidad, pero cuando niños, nosotros los chicos nos quejábamos derramando lágrimas cuando sufríamos bajo el peso de lo que transportábamos, cosa que no hacían las chicas de nuestra edad, y esto puede ser debido a que por ser futuras mujeres había una pressión sobre ellas.”

Por sua localização geográfica e também pelos problemas políticos da Guiné Equatorial, Annobón passou muito tempo realmente isolada do continente. Os ilhéus passavam meses sem itens básicos como sabonetes, fósforos, querosene. Às vezes um dos navios pesqueiros que vinham até a costa deixavam para eles alguns mantimentos, mas o custo para eles costumava ser bem caro.

O livro traz muitas passagens interessantes de hábitos e crenças novos para mim, um tipo de coisa que parece só ser possível mesmo num lugar tão isolado. Além de imortalizar a Ilha de Annobón em um livro, o autor também reproduz no papel a tradição oral da contação de histórias. Foi um privilégio ter a chance de conhecer esse livro.

Arde el monte de noche foi publicado originalmente em espanhol, em 2009, pela editora Calambur.

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