198 Livros: Kuwait – The Bamboo Stalk

198 Livros - Kuwait Eu não cheguei a pesquisar muito sobre livros do Kuwait, pois desde que ouvi falar de The Bamboo Stalk, do escritor Saud Alsanousi, ele me pareceu uma boa opção para o Projeto 198 Livros. Mais uma vez o descobri no excelente blog ArabLit, a minha principal fonte de consulta sobre literatura árabe. O livro ganhou o Prêmio Internacional de Ficção Árabe em 2013 e foi traduzido para o inglês por Jonathan Wright, cujas traduções do árabe costumam ser bem elogiadas.

The Bamboo Stalk se divide entre o Kuwait e as Filipinas, numa leitura moderna da rota de imigração do Sudeste Asiático para o Golfo Árabe. O livro é narrado pelo garoto José, ou Isa, dependendo do lugar em que ele se encontra. Filho de mãe filipina e de pai kuwaitiano, ele se vê dividido entre dois mundos em que a cultura, a religião e até seu nome divergem. Ele não é o único filipino filho de um árabe, pelo contrário. Muitas filipinas que vão para o Golfo trabalhar como empregadas domésticas, como fez sua mãe, voltam para casa com um filho “sem pai”. O que o difere da maioria dessas crianças é que seu pai prometeu que um dia o levaria de volta .

“My name is José. In the Philippines, it’s pronounced the English way, with an h sound at the start. In Arabic, rather like in Spanish, it begins with a kh sound. In Portuguese, though it’s written the same way, it opens with a j, as in Joseph. All these versions are completely different from my name here in Kuwait, where I’m known as Isa.”

The Bamboo Stalk - Saud Alsanousi

Em busca de sua identidade, mas também para fugir da pobreza nas Filipinas, aos 18 anos José refaz o caminho feito pela mãe. Seu pai foi um escritor idealista e uma figura destoante em sua época, defensor dos direitos das mulheres e um dos poucos contrários à decisão do governo de tomar um partido na Guerra Irã-Iraque, a guerra que acabou o matando quando Saddam Hussein invadiu o Kuwait.

Através da nada amigável recepção que José encontra na família paterna, conhecemos a intrincada hierarquia da sociedade kuwaitiana. Lá ele continua vivendo num limbo: não faz parte da classe privilegiada, nem da camada mais baixa, formada pelos trabalhadores imigrantes. O que importa é que ele não é reconhecido como um igual pela orgulhosa família Tarouf.

“I was more like a bamboo plant, which doesn’t belong anywhere in particular. You can cut off a piece of the stalk and plant it without roots in any piece of ground. Before long the stalk sprouts new roots and starts to grow again in the new ground, with no past, no memory.”

Seu passaporte e o fato dele ter nascido no Kuwait não são suficientes para superar o preconceito de uma sociedade extremamente estratificada que difere muito do paraíso que José esperava encontrar. A vida ali é de muito luxo mesmo, mas não para todos. Através do olhar de José, a exploração dos trabalhadores imigrantes é escancarada, bem como o nacionalismo e o orgulho dos kuwaitianos.

Além de trazer a temática super atual e relevante da imigração no mundo de hoje, The Bamboo Stalk é um livro fascinante. Agora, ao repassar as marcações que tinha feito, me vi já querendo reler. A leitura flui e a história nos deixa curiosos para saber o que vai acontecer na vida de José. Ou seria Isa? É um livro que com certeza eu recomendo!

The Bamboo Stalk foi publicado originalmente em árabe, em 2012, e em inglês em 2016, pela Hamad bin Khalifa University Press (antiga Bloomsbury Qatar Foundation Publishing). A tradução é de Jonathan Wright.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

2 Comments

  1. Deu vontade de ler! Vou procurar por ele!

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