Tentar entender a história dos Balcãs sempre me deixa tonta. Essa é uma região que eu amei conhecer e à qual planejo voltar, mas imagino que explicar todos os conflitos que aconteceram por lá ao longo dos séculos é uma tarefa hercúlea para qualquer historiador. Ekaterini, livro da escritora sérvia Marija Knežević, não tem essa pretensão, mas deixa claro que seria impossível contar um história que se passe em seu país no século XX sem que as guerras estejam presentes.
Ekaterini é o nome da protagonista, a avó da nossa narradora. Ekaterini não é sérvia: é grega. Ainda jovem ela conhece Stipe, um imigrante servo-croata que então trabalha em sua cidade, Tessalônica. Eles se casam na Grécia, mas logo a Segunda Guerra Mundial começa a aterrorizar os europeus e, ao saber da ameaça à sua terra natal, ele resolve voltar para Belgrado. Ela vai junto.
Nós acompanhamos a vida de Ekaterini ao longo de algumas décadas. Nós a conhecemos ainda criança na sua amada Grécia e de forma rápida a vemos crescer, assistimos ao seu romance com Stipe, o casamento, a mudança para Belgrado, o nascimento das filhas, a morte do marido e todas as dificuldades inerentes a um mundo em constante turbulência.
Enquanto a vida passa, a Europa tenta se reconstruir no pós-Guerra, a Sérvia vive o socialismo de Tito, a Iugoslávia se desintegra, os Balcãs entram novamente em guerra, o Kosovo declara sua independência. Em meio a tudo isso, Ekaterini se vê criando suas duas filhas sozinha, num país que não é o seu e sempre planejando retornar à sua Tessalônica.
A história é cercada de conflitos, mas seu tom é leve. Marija Knežević conta uma saga familiar centrada na figura de Ekaterini, mas ela se concentra nos pequenos momentos do dia a dia. Ela nos traz a narrativa das pessoas comuns enquanto os grandes eventos históricos acontecem. E não é essa a história que cada um de nós pode contar?
Ekaterini foi publicado originalmente em sérvio, em 2005, e em inglês em 2014, pela Istros Books. A tradução é de Will Firth.
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