Sempre que me pedem indicação de um livro feliz, eu não sei o que responder. A maioria dos livros que amo costumam ser bem trágicos, não vou negar. Mas desde que li Rosa candida, da escritora islandesa Audur Ava Ólafsdóttir, minha tarefa ficou um pouco mais fácil. Não sei se posso chamá-lo de feliz, mas para mim é um livro que deixa um quentinho no coração.
Rosa candida na verdade começa com um acontecimento bem triste na vida do narrador protagonista: Lobbi tem 22 anos e ainda está em luto pela morte de sua mãe em um acidente de carro um ano e meio atrás. Tímido e introspectivo, ele vive um momento em que busca entender o seu lugar no mundo. Ele não encontrou seu espaço na nova configuração familiar, com o pai septuagenário e o irmão gêmeo autista, e só encontra refúgio cuidando da estufa que era cultivada pela mãe. A jardinagem era um grande prazer que eles compartilhavam.
Nesse momento de incertezas ele tem um rápido e único encontro com Anna e ela engravida. Eles mal se conhecem, mas Anna, ao contrário dele, é segura e bem resolvida e decide manter a gravidez sem exigir muito dele. E então nasce a filha deles, Flora Sol. A bebê já tem alguns meses quando Lobbi aceita trabalhar na restauração de um famoso roseiral de um mosteiro num país cujo nome não conhecemos, mas que eu imaginei no sul da Europa. Espanha, talvez?
O livro não traz grandes acontecimentos e pode parecer que falei demais, mas tudo isso é contado nas primeiras páginas. A escrita é delicada, pausada e pode desagradar quem procura mais movimento, mas o que me encantou foi justamente sua quietude. As paisagens da Islândia, com suas peculiaridades únicas no relevo e na vegetação, são descritas de forma muito viva e nossas mãos parecem tocar a terra nas cenas de jardinagem. Ao se voltar para dentro ele explora emoções comuns a todos nós e questiona estereótipos de masculinidade e feminilidade a que estamos acostumados. Se eu precisasse resumir, eu diria que ele fala sobre vida, morte e amor, temas inerentes a todos nós.
Falei o tempo todo em Rosa Candida, mas na verdade eu li o ebook em inglês, The Greenhouse. Preferi usar o nome da edição brasileira porque, além de achá-lo mais bonito, é a edição que a maioria dos brasileiros leria. Baixei a amostra da edição brasileira, que traz os cinco primeiros capítulos, e vi que o que falei sobre a escrita vale também na tradução para o português. Apenas por curiosidade, o nome do original em islandês é Afleggjarinn.
Rosa candida foi publicado originalmente em islandês, em 2007. Em inglês ele saiu com o título The Greenhouse, em 2011, com a tradução de Brian FitzGibbon. A edição brasileira tem a tradução de André Telles e foi publicada pela Alfaguara em 2015.
Mais alguns livros de escritores islandeses:
- Pela boca da baleia, Sjón
- Gente Independente, Halldór Laxness
- The Swan, Guðbergur Bergsson
- A Ilusão do Tempo, Andri Snær Magnason
Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.
Eu também tive o mesmo sentimento, ao ler esse romance! Um quentinho no coração, faz a gente acreditar na beleza do ser humano.
Pelo menos de vez em quando a gente se depara com um livro mais leve nesse projeto, não é Ana? É raro, mas acontece!