Na última quinta-feira, 07/10/2021, os leitores brasileiros descobriram o nome do escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2021. Conhecido lá fora, com diversas obras publicadas em inglês, até o momento ele ainda não tinha sido traduzido para o português, falha que com certeza será corrigida em breve com o anúncio do prêmio. Mas muitos outros autores africanos continuarão desconhecidos por aqui. É o caso da escritora sudanesa Leila Aboulela, que tem quase uma dezena de livros em inglês, foi traduzida para quinze línguas e recebeu diversos prêmios, mas ainda não chegou ao Brasil. Quem perde com isso somos nós.
Elsewhere, Home é um de seus livros mais recentes, uma coletânea de contos escritos nas últimas três décadas que giram em torno da temática do deslocamento. Leila Aboulela nasceu no Cairo, em 1964, filha de mãe egípcia e pai sudanês, mas ainda criança se mudou para Cartum, capital do Sudão, onde viveu até o inicio da vida adulta. De lá para cá ela morou em alguns outros países até se estabelecer na Escócia. Essa pequena biografia mostra que imigração é um assunto que ela conhece bem e pelo que pesquisei perpassa toda sua obra, bem como o tema da religião Islâmica. Leila é muçulmana.
O livro traz o deslocamento de diversas maneiras e com diferentes origens e destinos, mas todos os contos tratam de questões como identidade e não-pertencimento. Através de personagens estudantes, donas de casa, europeus convertidos ao Islâ ou casais inter-raciais entramos num mundo de conflitos de culturas e de muito preconceito, por mais que haja uma vontade de conhecer o outro.
“He had thought, from the books he’d read and the particular British Islam he had been exposed to, that in a Muslim country he would find elegance and reason. Instead he found melancholy, a sensuous place, life stripped to the bare bones.”
Em pleno século XXI, em que problemas econômicos, guerras e desastres climáticos aumentam o ritmo das migrações no mundo, a obra de Leila Aboulela tem um valor inestimável. Seus textos são muito bonitos e sensíveis e capturam a solidão da qual sofrem muitos imigrantes. E quando esse imigrante é negro e/ou muçulmano, o preconceito que ele sofre é muito maior.
“You’re not curious to see where I grew up?
I am insterested a bit but – I don’t know – I’ve never heard anything good about that place.”
Gostei muito de ler Elsewhere, Home, um livro bonito, cativante e muito bem escrito. Com certeza gostaria de ler mais de Leila Aboulela. Espero que alguma editora brasileira se interesse e traga as obras dela para cá.
Elsewhere, Home foi publicado originalmente em inglês, em 2018, pela editora Telegram Books.
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Certamente quem perde por não haver tradução para o português somos nós =/
Mas vejo que o cenário já está melhorando! Alguns países que lá no início do projeto não tinham representantes por aqui hoje já têm!