198 Livros: Essuatíni – Weeding the Flowerbeds

198 Livros - EssuatíniQuando comprei o livro Weeding the Flowerbeds, da escritora Sarah Mkhonza, ele foi o único livro da Suazilândia que eu consegui encontrar. Esse era o nome do país então, mas em 2018, no seu aniversário de 50 anos de independência, o rei Mswati III anunciou a mudança para Essuatíni, que na língua suázi significa “Terra dos Suazi”. Se antes a maioria das pessoas com quem eu falava não sabia que existia um país chamado Suazilândia, acredito que o desconhecimento agora seja ainda maior.

Weeding the Flowerbeds é a autobiografia ficcionalizada de Sarah Mkhonza sobre os cinco anos em que viveu e estudou na Manzini Nazarene High School, onde ingressou aos 13 anos. A história é centrada na vida da narradora, Bulelo, e de duas amigas, Sisile e Makhosi. Elas se chamam de diferentes apelidos, incluindo Rebel 1, 2 e 3. Apesar de boas alunas, no contexto extremamente rígido em que vivem elas são consideradas rebeldes, às vezes apenas  por expressar uma opinião.

A Suazilândia, agora Essuatíni, conquistou sua independência do Reino Unido em 1968. Os anos narrados por Sarah vêm logo depois, no início dos anos 70. Os estudantes representam uma elite do país, uma pequena parcela de jovens que recebe uma boa educação, pagando por ela ou sendo tutelada por doadores. Conforme os anos passam, eles ficam cada vez mais cientes de que o mundo os espera lá fora e de que farão parte dos cidadãos que ajudarão a reconstruir o país.

Weeding the Flowerbeds - Sarah MkhonzaA história é muito centrada no microcosmo do internato, mas aqui e ali a narradora nos fala do contexto africano. O apartheid na vizinha África do Sul e a opressão dos moçambicanos pelos portugueses são mencionados algumas vezes e a situação da mulher, analisada pelos olhos do futuro, quando o livro é escrito, é sempre questionada.

Apesar de o colonialismo teoricamente ter acabado, fica claro que a dominação britânica não foi extinta. Todas as boas escolas do país que ela cita parecem ser estabelecidas por missionários religiosos e, no caso específico da escola em que estuda, a educação funciona também como uma forma de apagamento da cultura local. Pouco se estuda sobre a África e o paganismo suázi é condenado, enquanto o cristianismo é imposto.

“We were being given a very Christian education when our country just got its independence. What we needed was an education for a newly independent nation, one that allow us to create our own worlds.”

Confesso que eu comecei a ler Weeding the Flowerbeds há um tempo e a leitura estava tão arrastada que a abandonei. Tirei o livro da estante novamente mais de um ano depois e nessa segunda tentativa cheguei ao final em poucos dias. Isso mostra que o momento pessoal influencia muito nossa experiência, mas nesse caso a culpa não foi só minha, pois o livro realmente tem um ritmo lento.

A narradora descreve o dia a dia na escola com muitos detalhes e repetidamente. Ela fala da monotonia da vida limitada pelo excesso de regras e de certa forma isso se reflete no enredo. É interessante conhecer a vida dos jovens na Suazilândia na década de 70, as roupas que estavam na moda e as músicas que escutavam, bem como entender como funcionava um internato mantido por religiosos, mas as mesmas cenas são descritas muitas vezes e assuntos que poderiam ser mais explorados são apenas mencionados.

Apesar dos problemas, não ouso dizer que é um livro ruim, pelo contrário. Sarah Makhonza tem uma escrita bonita e Weeding the Flowerbeds é ainda mais importante por ser uma das poucas obras que falam de um país quase esquecido pela maior parte do mundo. Muitas partes me marcaram e me fizeram pensar um bocado, especialmente aquelas em que ela reflete sobre a relação entre a população local e os brancos, ex-colonizadores.

“I felt sorry foirMr. Fields because he did not know how students like us being black used the power of the underdog toward white people. We often felt that white people could live in their world where we were inferior, stupid and inarticulateand even hate us; but we had our own fun avenging ourselves for the humiliation we suffered in racist circles.”

Weeding the Flowerbed é dedicado à memória de Gordon James “Chaucer” Thomas, que faleceu em 2006. É fácil reconhecê-lo na figura de Mr. Fields, o professor missionário britânico recém-formado, que chega à escola com apenas 23 anos e tem uma importância enorme da vida de Bulelo e outros estudantes. Ele foi um importante incentivador da leitura e da escrita para ela, além de ter tido muita influência na sua relação com o cristianismo. Como uma homenagem o livro cumpriu bem seu papel e para mim foi importante para despertar meu interesse sobre a Suazilândia, cuja notícia de mudança de nome para Essuatíni teria passado despercebida não fosse o Projeto 198 Livros.

Weeding the Flowerbeds foi publicado originalmente em inglês, em 2009, de forma independente através da editora XLibris, nos Estados Unidos.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

4 Comments

  1. Cristiane Xerez

    Mais uma descoberta para mim. Muito obrigada, Camila. Às vezes me pergunto se um dia teremos a tradução de todo esse conhecimento para o português…

  2. Oi Camila, outro é Scarlet Odyssey (C.T. RWIZI) – ficção científica.

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