O site Arablit, minha principal fonte de informação sobre literatura árabe, indicava para a Jordânia o romance Land of No Rain, do escritor Amjad Nasser, mas a sinopse do livro me levava a crer que ele não fala muito sobre o país, por isso procurei outras opções. Encontrei então a escritora anglo-jordaniana Fadia Faqir. Ela é autora de alguns livros e um deles, o romance Meu nome é Salma, até foi publicado no Brasil, mas eu escolhi Willow Trees Don’t Weep, sua obra mais recente até então.
Willow Trees Don’t Weep é narrado por Najwa, uma jovem mulher jordaniana que vive em Amã com a mãe e a avó. Seu pai abandonou a família para se juntar ao jihad global quando ela tinha apenas quatro anos. Quando sua mãe morre, a avó, com medo de que possa também morrer logo e deixar a neta sozinha, a incentiva a ir em busca do pai. Apesar de Najwa ter um trabalho e ser independente, a avó entende que uma mulher não poderia viver sozinha em Amã, especialmente sem um homem da família por perto.
“I had no option but to find my father. If my grandmother died, I would live alone in that house, something this city would not tolerate. Only women of ill repute live on their own without a male guardian. I would be pursued by predators, ostracised, and my door would be marked. If I’d had any choice, I would have let him go, for he was nothing to me, not even a memory.”
Depois que o marido partiu, a mãe de Najwa abandonou os costumes islâmicos. Ela deixou de usar o véu, cortou o cabelo e escondeu todos os símbolos religiosos que a lembravam dele. E, Najwa, que ainda era uma criança, cresceu sem memórias ou noticias do pai e também sem seguir os costumes que as outras crianças seguiam. A mãe na verdade a proibia de cobrir a cabeça ou frequentar a mesquita com as colegas. Najwa era sempre a diferente do grupo. Além disso, a ausência de um homem em casa atrapalhou até mesmo os planos de casamento que Najwa pudesse ter.
“‘Why did he abandon us, leave us like this, fending for ourselves?’ ‘It’s this ugly thing called religion. Allah is more important to him than us.’”
O livro aborda a questão da mulher, o fundamentalismo islâmico, a questão Palestina. Através da história que Najwa vai desvendando, temos uma noção do que levaria um homem quase descrente a abandonar sua família para lutar por um ideal. A autora não justifica ou suaviza o terrorismo, mas mostra um encadeamento de fatos e ideias que nos ajudam a entender uma questão tão complexa que assola o mundo há décadas.
A busca pelo paradeiro do pai leva Najwa ao Paquistão, à Europa e às montanhas do Afeganistão. Onde quer que ela esteja, de certa forma ela nunca está em casa. No fim das contas, Willow Trees Don’t Weep também extrapola os limites da Jordânia, bem como acredito que Land of No Rain o faça. Isso me lembra de que os limites geográficos traçados no mapa são barreiras fictícias e que o conceito de povo é algo totalmente diferente.
Willow Trees Don’t Weep foi publicado originalmente em inglês, em 2014, pela editora Heron Books.
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