198 Livros: Burundi – Weep Not, Refugee

198 Livros - BurundiO segundo país que li no Projeto 198 Livros foi Ruanda. Na época fiquei muito impressionada com a crueldade e com a dimensão do genocídio lá perpetrado no início dos anos 90. Anos depois me deparei novamente com essa história ao ler o livro do Burundi: Weep Not, Refugee, da escritora Marie-Thérèse Toyi. Foi só então que percebi que os países são vizinhos e que os conflitos não respeitam fronteiras.

Weep Not, Refugee é narrado por Wache Wacheke Watachoka, cujo nome traduzido do suaíli significa “Deixe eles rirem. Eles acabarão se cansando e depois ficarão quietos”. O garoto nasceu e cresceu em um campo de refugiados. Ele é tutsi, mas sua mãe, Kigeme, é hutu. Quando o massacre começou, sua família fugiu do Burundi, mas no caminho seus pais foram assassinados e ela estuprada. Mãe e filho vivem na pobreza e ela precisa se virar para conseguir dar um mínimo de dignidade ao garoto, muitas vezes deixando a sua de lado para consegui-lo.

Weep Not, Refugee - Marie-Therèse ToyiÀ medida em que cresce, Wache vai percebendo o quanto o conflito étnico que aflige seu povo é absurdo. Apesar de ser um tutsi, ele é sempre confundido com um hutu, o que para ele mostra que classificar pessoas por características como o formato do nariz não faz nenhum sentido. E convenhamos que nenhum critério seria e que no fim das contas os motivos são sempre políticos.

A narrativa muita vezes assume a segunda pessoa e o narrador conversa com o leitor. De certa forma ele nos coloca dentro da história e nos faz perceber o quanto de certa forma todos somos responsáveis por seu destino. Wache só conhece a vida de refugiado e ela não é nada fácil. Weep Not, Refugee denuncia os abusos a que os refugiados são submetidos e as burocracias injustificáveis que complicam suas vidas. Mas acho que o pior é ver que uma criança como ele, que cresceu no exílio forçado, acaba se tornando um exilado permanente. Ele não é aceito no país que (não) o acolheu, mas também não é aceito de volta no Burundi.

Como sempre, livros assim me fazem pensar que histórias como essas, sejam relatos reais ou ficcionais, são muito atuais. Conflitos e guerras continuam acontecendo pelo mundo e agora temos ainda o crescente aumento dos refugiados climáticos. E vemos que o mundo não está disposto a recebê-los. Ou melhor, o visto para refugiados tem uma cor certa. E ela é sempre branca.

Weep Not, Refugee foi publicado originalmente em inglês em 2007, pela Emhai Printing & Publishing Company.

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2 Comments

  1. Cristiane Xerez

    Me pergunto às vezes: “Até quando? Quantas vezes essas histórias se repetirão?” Muito obrigada pelo texto, Camila.

    • Camila Navarro

      Quanto mais a gente conhece a História mundial, mais assombradas ficamos com a repetição dos erros, né? É muito triste e revoltante!

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