198 Livros: República Centro-Africana – Co-wives, Co-widows

198 Livros - República Centro-AfricanaConfesso que antes de começar o Projeto 198 Livros eu nem mesmo sabia da existência da República Centro-Africana. E eu tenho certeza de que não sou a única. A verdade é que nossa ignorância a respeito da África é imensa e carregada de preconceitos. Um dos motivos pelos quais sou grata à literatura é por ela me permitir conhecer um pouco mais do mundo. E graças a esse projeto tive a chance de ler obras como Co-wives, Co-widows, romance da escritora centro-africana Adrienne Yabouza, que de outras formas talvez eu nunca leria.

Co-wives, Co-widows traz seu tema principal logo no título: co-esposas, co-viúvas.Ele conta a história de Ndongo Passy e Grekpoubou, duas mulheres casadas com o mesmo homem, Lidou. Ele tem muito orgulho de seu trabalho, dos bens que acumulou e de suas lindas esposas. Lidou é um homem satisfeito e vaidoso, mas ele morre inesperadamente e a segurança que as mulheres conquistaram através do casamento é enterrada junto com ele.

Nesse ponto, Co-wives, Co-widows me lembrou The Purple Violet of Oshaantu, livro da escritora namibiana Neshani Andreas. Enquanto lá a família do marido foi quem criou artifícios para que a viúva não herdasse nada, aqui é o melhor amigo de Lidou quem planeja se apossar dos bens dele sem se preocupar com suas mulheres ou seus filhos. Lá o contexto era rural, aqui é urbano, mas em comum entre os livros há uma sociedade patriarcal e machista.

Co-wives, Co-widows - Adrienne YabouzaO romance de Adrienne Yabouza me fez pensar também em outras narrativas africanas que li e que tratam da poligamia. O tema sempre me remete a So Long a Letter, da escritora senegalesa Mariama Bâ, e a Niketche, da moçambicana Pauline Chiziane, mas a abordagem e o desfecho são bem diferentes. Ndongo Passy  também sofre quando Lidou arruma uma nova esposa, mas ele não a abandona como acontece com a protagonista de Mariama Bâ, nem a engana como faz o marido criado por Pauline Chiziane. É claro que Lidou não é nenhum homem exemplar, mas até que a família vive em harmonia. Mas é com o tempo, e especialmente após a morte de Lidou, que Ndongo Passy e Grekpoubou se tornam grandes amigas.

“‘What are you going to vote for? Who, I mean?’ ‘The same as Grekpoubou. We’ve decided.’ ‘You didn’t consult me!’ ‘I’ve got my card, you’ve got your card. This is every man for himself!’ ‘But you’re not a man, Ndongo Passy. You’re my first wife.’ ‘That’s got nothing to do with it. Husband and wife vote separately. That’s what democracy is.’ ‘Who said that?’”

Eu amei ter feito essa leitura! Co-wives, Co-widows é um romance envolvente e divertido, mesmo tratando de temas profundos e sem deixar de lado o contexto político e social da República Centro-Africana contemporânea. Suas protagonistas são duas mulheres fortes que, apesar de viverem em um mundo injusto, não podem ser rotuladas de vítimas. Mais que um livro sobre poligamia, acho que esse é um livro sobre a amizade entre mulheres. E é lindo!

Co-wives, Co-widows foi publicado originalmente em francês, em 2015, e em inglês em 2021, pela editora Dedalus. A tradução é de Rachael McGill.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

2 Comments

  1. Cristiane Xerez

    Concordo com vc, Camila, que precisamos conhecer melhor esse continente tão rico culturalmente que é a África. Espero que um dia todos esses livros sejam publicados no Brasil. Ficarei atenta! Muito obrigada mais uma vez por essa troca de conhecimentos.

    • Camila Navarro

      Como estão aparecendo algumas boas surpresas (como o da Mariama Ba, que acabou de sair em português), tenho esperança de que as editoras olhem com carinho para mais países africanos.

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