Eu descobri o nome de alguns escritores do Malawi há alguns anos, mas eu nunca encontrava os livros deles para comprar ou eles não eram bem o que eu procurava no Projeto 198 Livros. Até que recentemente eu tive uma boa surpresa ao ver que tinha sido publicado no Brasil Eu Destilo Melanina e Mel, da escritora malawiana Upile Chisala. Àquela altura eu já não estava escolhendo apenas prosa, então deixei as pesquisas prévias de lado e preferi ler a poesia de uma mulher africana.
Eu Destilo Melanina e Mel foi a primeira coletânea de poemas de Upile Chisala. Ela o publicou quando tinha apenas 20 anos. Hoje ela tem 29 e já lançou mais dois livros. Se eu tivesse que resumi-lo, diria que ele exalta a ancestralidade negra. Nem todos os poemas falam sobre a negritude diretamente, mas de certa forma, ao falar dos sentimentos das mulheres negras no mundo de hoje, eles trazem questões de gênero e raça embutidos.
“Muitos bebês negros e lindos
Sendo enterrados mal saem do útero.
Eu fico perplexa como a negritude
Essa negritude santa
Essa negritude sagrada
Essa negritude abençoada
Tornou-se uma sentença
Tornou-se uma ofensa
Um crime
Uma contravenção
Um delito.
E quando o sangue negro corre, isso é algo menor
Isso é uma
coisa comum
Isso é algo que já se espera.
Quando o sangue negro corre,
o sistema não chora.”
Assim como em Fast Talking PI, o livro que li para representar Tuvalu no projeto, Eu Destilo Melanina e Mel traz alguns poemas de conteúdo mais político e outros de temas pessoais, a maioria poemas de amor. Eu confesso que, da mesma forma que aconteceu com Tuvalu, eu gostei mais dos primeiros. Ainda assim, gostei muito de ter conhecido esse livro e principalmente essa autora, que é socióloga e ativista de direitos humanos, em especial de direito das mulheres. E fico ainda mais feliz por ele ter chegado às mãos dos leitores brasileiros.
Eu Destilo Melanina e Mel foi publicado originalmente de forma independente, em inglês, com o título soft magic, em 2019. Ele chegou ao Brasil em 2020, pela editora Leya, com tradução de Izabel Aleixo.
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Poesia forte!
É mesmo, Cris. E dessa vez em português, olha que coisa boa!