Melhores Leituras de 2023

Estou meio atrasada. No início de dezembro já tinha gente publicando sua lista de melhores leituras de 2023. Eu sou mais sistemática e espero o primeiro dia do ano para analisar o que li no ano anterior. Acho que até o dia 31 de dezembro há chance de algum livro me marcar. Comecei a rascunhar esse post no início de janeiro, mas era mês de férias e viagens e cá estamos nós em fevereiro de 2024. Vocês já estão com a cabeça no Carnaval ou ainda cabe mais uma lista literária?

Para começar, em 2023 eu:

  • Li um total de 49 livros.
  • 28 dos livros que li (57%) foram escritos por mulheres.
  • Li autores de 21 países diferentes.
  • Li 21 livros de autores brasileiros.
  • O segundo país que mais li foi a Rússia, com 9 livros, graças ao Rússia todo Mês.
  • Li livros em três idiomas: 41 em português, 7 em inglês e 1 em russo (mas era um livro para estudantes de russo, vai).
  • Li metade dos livros em papel e a outra metade no kindle.
  • Não li nenhum livro de poesia.

Analisando esses números, o que me deixou mais feliz foi perceber que, mesmo depois de finalizar o Projeto 198 Livros, eu continuo diversificando minhas leituras geograficamente. Acho que esse olhar expandido para a literatura mundial é algo que levarei comigo para sempre. (Até hoje eu não terminei os posts sobre os livros do projeto, mas isso ainda vai acontecer, prometo!)

Mas chega de números, que no fim das contas interessam principalmente a mim, e vamos à lista que vocês querem realmente ver! Os títulos estão em ordem alfabética.

Minhas melhores leituras de 2023

A Planta do Mundo, Stefano Mancuso (Itália)

A Planta do Mundo, Stefano MancusoHá uns anos eu li Revolução das Plantas e fiquei apaixonada pela forma com que Stefano Mancuso transmite dados científicos de forma clara e envolvente. A Planta do Mundo trata novamente do mundo das plantas, mas através de narrativas históricas em que elas assumem algum papel de destaque. O livro foi publicado pela Ubu, com a tradução de Regina Silva.

A Queda do Céu, Davi Kopenawa e Bruce Albert ((Brasil/França)

O que falar desse livro? Ele estava na minha mira há alguns anos, mas seu tamanho me assustava, afinal, são quase 800 páginas. Me animei a encará-lo quando me deparei com uma leitura conjunta que tinha um cronograma bem tranquilo, mas me surpreendi com a fluidez do texto. A Queda do Céu , Palavras de um xamã yanomami é um livro riquíssimo e único que nos ajuda a entender e respeitar ainda mais a cultura e a resistência indígenas no Brasil. Ele foi publicado pela Companhia das Letras, com a tradução de Beatriz Perrone-Moisés.

As avós, Doris Lessing (Inglaterra)

Estou até o último instante ponderando se ele deveria ou não entrar nessa lista, mas acho que merece a vaga. Se o anterior foi um super calhamaço, As Avós é uma novela com menos de 70 paginas. O livro conta a história de duas amigas inseparáveis da infância às velhice, Roz e Lil. Qualquer resumo costuma contar o grande tabu do livro, mas eu gostei da experiência de começar a leitura sem saber de nada. Nós conversamos sobre ele no Leia Mulheres BH de fevereiro de 2023 e um ano depois algumas discussões ainda são bem mercantes. O livro tem muitas camadas que extrapolam suas poucas páginas. Adorei! As Avós foi publicado pela Companhia das Letras, com a tradução de Beth Vieira.

Dez mitos sobre Israel, Ilan Pappé (Israel)

Dez mitos sobre Israel, Ilan PappéNos últimos meses brotaram especialistas em Israel e Palestina por todos os lados, não é mesmo? Eu, apesar de já ter lido muita ficção desses países, sentia falta de um contexto histórico sobre o conflito e foi isso que Dez mitos sobre Israel me deu. Apesar de publicado originalmente em 2017, ele é assustadoramente atual. Aqui ele foi publicado pela Tabla, com a tradução de Bruno Cobalchini Mattos.

Ela se chama Rodolfo, Julia Dantas (Brasil)

Há 8 anos eu li Ruína y Leveza, o primeiro romance da Julia Dantas, e gostei tanto que na época ele até rendeu um post aqui no blog. Desde então eu ansiava por um novo livro dela e felizmente ela lançou Ela se chama Rodolfo, pela editora DBA. Ele é muito diferente do primeiro, mas a leitura é igualmente deliciosa. Murilo aluga um apartamento e dentre as “coisas” deixadas pela dona, Francesca, está uma tartaruga. Então acompanhamos a saga de Murilo por Porto Alegre tentando arrumar um novo lugar para ela. Ele só conversa com Francesca por e-mail e, a cada novo destino que ela sugere, Murilo vai conhecendo novas pessoas e descobrindo a própria história de Francesca. É um livro forte e delicado ao mesmo tempo.

Girl, Woman, Other, Bernardine Evaristo (Inglaterra)

Melhores Leituras de 2023Mais uma contribuição do Leia Mulheres à minha lista. Esse foi o livro que discutimos em junho e no final do ano, quando votamos as melhores leituras do clube em 2023, ele foi um dos favoritos. E com toda razão. Nas primeiras páginas eu estava achando o livro complicado. A linguagem, a forma, o conteúdo, tudo parecia meio bagunçado e sem sentido, mas aos poucos o texto vai ganhando uma unidade. Cada capítulo traz a história de um mulher. A principio eles parecem desconexos, como contos independentes, mas logo eles se entrelaçam e formam um grande mosaico. Ele saiu aqui como Garota, mulher, outras, com a tradução de Camila Holdefer, pela Companhia das Letras.

O Esplendor de São Petersburgo, Jan Brokken (Holanda)

Esse livro é um passeio por São Petersburgo seguindo os passos de alguns de seus artistas mais famosos, como Anna Akhmátova, Púchkin e Dostoiévski. Para uma amante da literatura russa, como eu, é um prato cheio! Foi uma das leituras que fiz no Rússia todo Mês, o projeto da Raquel Toledo que ampliou meu repertório de escritores russos ou que falam sobre a Rússia. O livro foi publicado pela Âyiné, com a tradução de Flavio Quintale.

Piranesi, Susanna Clarke (Inglaterra)

Piranesi, Susanna ClarkeEu ouvi muito falar de Piranesi quando ele ganhou o Women’s Prize for Fiction de 2021, mas depois me esqueci dele. Então ano passado ele apareceu em alguma promoção de ebooks e eu resolvi comprá-lo e lê-lo de imediato. E que livro deliciosamente maluco! Tentar resumi-lo seria tarefa difícil. O melhor é se deixar envolver pelos labirintos de Piranesi para ver até onde esses caminhos podem nos levar. O livro foi publicado pela Morro Branco, com a tradução de Heci Regina Candiani.

Semente Originária, Octavia Butler (EUA)

Depois de Kindred eu ainda não tinha lido mais nada da Octavia Butler. Não lembro se foi alguma promoção ou indicação que me levou a Semente originária, mas que bom que eu resolvi ler mas dessa autora. Vi que ele faz parte de uma série, mas confesso que estou com medo de ler a sequência e ela não chegar à altura do primeiro livro. Ele conta a história de Anyanwu e Doro, dois africanos com poderes quase mágicos. De certa forma, ele me lembrou o romance Ela Seria o Rei, da escritora liberiana Wayetu Moore, um livro bem mais recente. Semente originária também foi publicado pela Morro Branco com tradução de Heci Regina Candiani.

Suíte Tóquio, Giovana Madalosso (Brasil)

Outro favorito do Leia Mulheres BH, não só meu, mas de todas as participantes. Foi nossa leitura de setembro de 2023. Há muito tempo eu não perdia o sono por causa de um livro. Sabe quando você diz que vai ler só mais um capítulo e quando vê já passou bastante da sua hora de dormir? Eu simplesmente não queria largar Suíte Tóquio! É um livro sem maniqueísmos e chega um ponto em que a gente se pergunta se está mesmo defendendo alguém que sequestrou uma criança… O livro foi publicado pela Todavia.

Terrapreta, Rita Carelli (Brasil)

Fiquei pensando que eu já li um livro de cada país do mundo, mas ainda tenho tanto a conhecer do Brasil! Terrapreta se passa principalmente em território Xingu e eu me envergonhei por saber tão pouco de lá. Foi só quando uma das cidades citadas no livro chamou minha atenção que eu resolvi olhar no mapa. Eu cresci na divisa de Goiás com Mato Grosso, a 470 km de Canarana (distância que para mineiros e goianos não é nada) e só sabia das plantações de soja no Mato Grosso. Foi só depois de adulta que descobri a real existência/resistência dos indígenas no Brasil. Ainda bem que nunca é tarde para aprendermos. O livro foi publicado pela editora 34.

Um país terrível, Keith Gessen (Rússia-EUA)

Mais um livro que li em companhia da comunidade do Rússia todo Mês. Se Jan Brokken me levou pelas ruas de São Petersburgo, Keith Gessen me levou até Moscou. Enquanto no primeiro havia muita História, Um país terrível fala da Rússia contemporânea sob o olhar de um estrangeiro, ou melhor, de um russo que saiu de lá ainda pequeno e retorna para cuidar da avó doente. O livro foi publicado pela Todavia, com a tradução de Bernardo Ajzenberg e Maria Cecilia Brandi.


E foram essas as minhas melhores leituras de 2023. Você já leu algum deles? Se já leu, o que achou? Eu adoro ver o quanto nossas percepções sobre um mesmo livro podem ser diferentes. E é por isso que a leitura pode ser tão mágica!

7 Comments

  1. Cristiane Xerez

    Que leituras maravilhosas, Camila! Dos seus favoritos, só li “Dez mitos sobre Israel” (com o qual aprendi muito!), mas já me interessei por vários!

    Que 2024 seja mais um ano de leituras fantásticas!

    • Camila Navarro

      Eu conheci o livro pela iniciativa da Tabla de disponibilizar esse e outros ebooks gratuitamente e agora minha meta é ler todos os livros dela que baixei na ação. Já li um deles (Meu nome é Adam) e acho que ter lido “Dez mitos sobre Israel” antes me ajudou muito a contextualizar a história.

      • Cristiane Xerez

        Cheguei um pouco atrasada nessa iniciativa da Tabla, mas baixei alguns. Já li Retorno a Haifa, Umm Saad e Homens ao sol. Meu nome é Adam está na lista de próximas leituras. Tenho aprendido bastante.

  2. Joana Lopes Garfunkel

    Amo esse blog!! Continuo seguindo seus passos no Projeto dos 198 livros e, depois dos seus favoritos de 2023, minha lista de leituras/livros desejados cresceu! Obrigada, Camila!

  3. Admiro minha filhota!

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