198 Livros: Mônaco – Archipiélago de pasiones

198 Livros - MônacoQuando faltavam apenas cinco países para eu terminar o Projeto 198 Livros, me vi em um beco que parecia sem saída. Eu não encontrava nada para ler de Mônaco e San Marino! Se nos últimos anos, em vez de inventar de estudar russo, eu tivesse me aventurado no francês ou no italiano, meus problemas estariam resolvidos. E olha que já estudei um pouquinho dessas línguas há quase duas décadas e por isso sei que a tarefa seria bem mais leve do que decifrar o idioma de Tolstói. Mas já era tarde e eu tinha que encontrar outra solução rapidamente.

Todas as minhas pesquisas sobre Mônaco me levavam a uma única resposta: Grace Kelly. Outros viajantes literários, como Ann Morgan e Sophie Margretta, leram um livro da princesa ou sobre ela. Confesso que essa ideia não me animava, mas no auge do desespero pensei em me render à monarquia. Só que nem isso seria possível, pois os livros não estavam disponíveis no Brasil, nem em ebook.

Gastei muitas horas procurando escritores de Mônaco, na esperança de que surgisse alguma novidade no mundo editorial. Para minha surpresa (ou seria tristeza?), por mais que eu tentasse fugir de Grace Kelly, a única escritora local que eu encontrava era sua neta, Charlotte Casiraghi. Não tinha jeito, de uma forma ou de outra eu teria que ler algo relacionado à família real monegasca.

Archipiélago de pasiones na verdade é um obra conjunta de Charlotte Casiraghi e Robert Maggiori, filósofo e crítico literário francês. Precisei mais uma vez flexibilizar os critérios de escolha dos autores, mas no caso de um micro estado como Mônaco, apenas menor em área que o Vaticano, eu não podia ser muito exigente. Convenhamos que o mais surpreendente não é a dificuldade de encontrar livros de autores desses países, mas o fato de eles terem mais direitos na geopolítica internacional que muitas outras nações. Mas esse é um assunto profundo demais para um único post.

Archipiélago de pasiones - Charlotte Casiraghi e Robert MaggioriAlém de incluir um autor não local, imaginei que o livro não iria me falar muito sobre Mônaco e realmente foi o que aconteceu. Ele é um conjunto de ensaios filosóficos sobre as paixões humanas. Cada capítulo se propõe a entender as emoções e sentimentos que nos animam, como o amor, o ódio ou a tristeza.

Confesso que em muitos momentos achei a leitura arrastada. Eu não tenho uma boa experiência com obras filosóficas e nesse caso não foi diferente. Só nos raros momentos em que os ensaios se encaminhavam para temas sociais é que eu consegui me envolver um pouco mais.

“No se necesitan investigaciones profundas para encontrar las amalgamas conscientemente realizadas entre suciedad y alteridad, ni para comprobar la manera en que los procesos sociales de exclusión y de marginalización se funden en una imagen del extranjero dibujada, si puede decirse, con el lápiz del asco, pues este sería “naturalmente” repugnante, maloliente, sucio, vociferante, violento, bárbaro y, por lo tanto —el salto se da rápido—, capaz de las peores exacciones morales. La historia misma muestra claramente cómo misoginia, antisemitismo, islamofobia, homofobia, xenofobia, racismo siempre se “aferraron” a la invención de características físicas, psicológicas o morales que supuestamente justifican la estigmatización.”

E foi assim que Mônaco se tornou a antepenúltima parada na minha volta ao mundo em livros. Se numa viagem de férias o país poderia ser apenas uma escala rumo a outros destinos, nessa jornada literária ele acabou exigindo um planejamento bem mais complicado.

Archipiélago de pasiones foi publicado originalmente em francês, em 2018, e  em espanhol em 2019. pela editora Los Libros del Zorzal. A tradução é de Estela Consigli.

Saiba mais sobre o Projeto 198 Livros.

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