Desde o início da minha volta ao mundo literária eu cataloguei cada um dos livros que li. Não resisto a uma planilha cheia de dados, que nesse caso eram número de páginas, editora, língua, preço, gênero do autor… E o melhor de tudo foi transformar tudo isso em estatísticas. Confesso que eu não via a hora de terminar o projeto para consolidar as informações. E enfim esse momento chegou! Vamos aos números!
NÚMERO DE PÁGINAS
Eu li um total de 47.688 páginas. Cada livro tinha em média 224 páginas.
- Livro mais longo: Um Defeito de Cor, do Brasil, com 952 páginas
- Livro mais curto: Grandpa and the Baby Sea Turtles, de Palau, com 9 páginas.
FORMATO DOS LIVROS
Se eu dependesse apenas de livros físicos, não conseguiria finalizar o Projeto 198 Livros. Além de geralmente a edição em papel ser mais cara que a digital, no caso de obras importadas a diferença é ainda maior. Sem contar que li muitos livros que foram publicados apenas em ebook. A praticidade de fazer marcações e de ter o dicionário a um clique quando se lê em língua estrangeira também foram fatores que pesaram a favor do formato eletrônico. O livro em papel fica bonito na estante, mas no dia a dia nem sempre é o mais viável para mim.
Mas até que no fim das contas a balança ficou bem equilibrada e acho que posso chamar de empate técnico o embate Físico (44%) X Digital (56%). Meu kindle, que até ganhou upgrade ao longo dessa viagem, foi um grande companheiro de projeto!
IDIOMA DOS LIVROS
Já que mencionei o dicionário, bora falar dos idiomas. Uma pergunta comum que recebo quando alguém descobre que li um livro de cada país do mundo é se eu li tudo em português. Já me perguntaram algumas vezes também se li cada um em sua língua nativa. Embora a segunda opção seja a mais improvável, a verdade é que no momento ambas são igualmente impossíveis.
Infelizmente, posso afirmar que hoje não é possível ler o mundo todo em português. Acho que o trio de línguas ideal seria português, inglês e francês. Eu consegui me virar sem saber o último, mas não sei como eu faria sem ler em inglês. Séculos de colonização britânica (e francesa, no caso do francês) e a atual supremacia econômica e cultural dos Estados Unidos explicam a situação.
Para citar um exemplo, muitos livros publicados originalmente em árabe até o momento só têm tradução para o inglês. Além disso, essa é a língua escolhida por muitos escritores de países menos conhecidos literariamente quando querem alcançar um público maior. Sem contar aqueles que só têm a chance de publicar eu livro quando emigram para Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, França… Olha, esse assunto rende!
Aproveito o momento para fazer um agradecimento aos tradutores, essas pessoas maravilhosas que possibilitam que os livros transponham fronteiras. Sem eles, uma viagem pelo mundo dos livros não iria muito além do ponto de partida. Fica aqui meu muito obrigada!
Voltando aos números, vocês verão que eu li dois terços dos 198 livros em inglês. O percentual do português até poderia ser maior, mas algumas vezes eu preferi ler a edição original em vez da traduzida e é por isso também que o espanhol teve uma participação relevante no conjunto final. Já a minúscula fatia vermelha da pizza é o italiano. Bom, esse foi o fruto do meu total desespero para ler um livro de San Marino.
EDITORAS
No Brasil, Companhia das Letras e Record dominaram a liderança. No exterior foi a Penguin. Acho que aqui não há nenhuma surpresa, mas fiquei satisfeita ao constatar que li mais de uma centena de editoras diferentes. Algumas grandes e famosas, outras pequenas e desconhecidas. Editoras que já não existem mais, que se extinguiram ou foram incorporadas pelas grandes. Publicações independentes. Um misto maravilhoso de obras e edições mundo afora!
- Companhia das Letras: 11
- Record: 8
- Penguin Books: 7
- Publicações independentes: 6
GÊNERO DOS AUTORES
Por falar em surpresa, é aqui que ela aparece. Juro que não foi algo planejado e acho até que, se fosse, não aconteceria facilmente. Foi realmente ao final do projeto que descobri que eu tinha lido a mesma quantidade de homens e mulheres!
Foram 49% de livros de escritores, 49% de escritoras e 2% de autoria mista, como coletâneas de contos. Eu realmente não planejei essa proporção, mas consciente e ativamente fiz um esforço constante para ler mais mulheres. Se eu tivesse sucumbido aos livros mais famosos ou acessíveis de cada país, ao final teria lido uma considerável maioria de homens.
Quando comecei o projeto, em 2013, o mundo era outro. Confesso que lá no início eu nem me preocupava com essas questões. Mas não me culpo. O Leia Mulheres, por exemplo, só surgiu dois anos depois. Felizmente eu me toquei a tempo e ao final o resultado foi perfeitamente equilibrado. Como inspiração, conheçam o reading women worldwide, da Sophie Margretta, que me ajudou muito na hora de procurar livros escritos por mulheres.
QUANTO CUSTA LER O MUNDO?
Quando vi o quanto gastei ao todo com o projeto, me assustei. Eu não pensava que fosse tanto, mas só porque eu nunca tinha parado para estimar quanto custariam 198 livros. Não tinha como ser pouco, ainda mais considerando o quanto o dólar subiu na última década. Felizmente eu não precisei comprar todos os livros. Ganhei alguns de amigos, peguei outros na biblioteca, recebi originais de autores ou editoras, mas no fim das contas comprei a grande maioria: 172 livros.
- Gasto Total: R$ 5.187,68
- Livro físico mais caro: Told by Starlight in Chad – R$ 183,00 em 07/2022
- Livro digital mais caro: Five Little Indians – R$ 75,52 em 01/2022
- Livro físico mais barato: Malinche – R$ 6,90 em 01/2015
- Livro digital mais barato: Almaty-Transit – R$ 2,06 em 02/2015
Eu poderia inventar mais umas variáveis para explorar, mas acho que as poucas que consolidei já rendem uma boa história. Em cima delas, quantas coisas podemos pensar, não é mesmo? Ler cada um dos 198 livros foi uma experiência maravilhosa, mas conhecer um pouco do mercado editorial mundial também foi fascinante!
Adorei sua análise e imaginei as várias discussões provenientes de cada um dos números apresentados. Muito obrigada mais uma vez por dividir conosco essa sua experiência tão maravilhosa!
Renderiam ótimas conversas, não é, Cris? E, mais uma vez, eu que te agradeço pela companhia!
Que massa Camila, você continua sendo minha inspiração para terminar o projeto. Eu chego lá.!
Demorei tanto a passar aqui para responder comentários que até já conversamos pessoalmente depois disso, né Ana? Tenho certeza de que você também terminará o projeto. E vou adorar ver seu resumo final!